Melissa Amaral

Doutora e Mestre pelo PPGEGC/UFSC. Pós-doutoranda. Pesquisadora no grupo de pesquisa CoMovI em Sustentabilidade Organizacional, ESG, Empreendedorismo e Empoderamento da Mulher.


Melissa Amaral Compartilhar
Informação salva vidas

Amor não machuca: vamos entender o ciclo da violência contra a mulher?

Falar sobre violência é doloroso, mas é necessário

• Atualizado

Por

Amor não machuca: vamos entender o ciclo da violência contra a mulher? | Imagem Ilustrativa | Foto: Canva
Amor não machuca: vamos entender o ciclo da violência contra a mulher? | Imagem Ilustrativa | Foto: Canva

Dezembro costuma ser um mês de retrospectivas, de conquistas e de esperança. Eu gostaria, nesta coluna, de falar de coisas leves, de encontros, de boas notícias. Mas o aumento dos casos de violência contra as mulheres nos obriga a interromper qualquer celebração para tratar de um tema urgente, sério e, infelizmente, presente na vida de muitas famílias.

Falar sobre violência é doloroso, mas é necessário. Informação salva vidas. É por esse motivo que o Grupo SCC inicia a campanha Por Elas e Com Eles: juntos pelo fim da violência contra as mulheres. Uma campanha que nasce do compromisso do Grupo SCC com a responsabilidade social, com o projeto Além da Comunicação e, acima de tudo, com a vida de mulheres. Ao longo dos próximos meses, esta coluna caminhará junto com essa iniciativa, falando abertamente sobre o tema, esclarecendo, informando mulheres e homens. 

Porque falar sobre violência é uma das formas mais eficazes de preveni-la.

Na maioria das vezes, a violência contra a mulher não começa com um tapa. Ela se constrói aos poucos, de forma silenciosa, e se repete dentro de um padrão conhecido como ciclo da violência contra as mulheres, descrito, 1979, pela psicóloga Lenore Walker. Compreender esse ciclo é um passo fundamental para reconhecer os sinais, romper o padrão e buscar ajuda.

O ciclo é composto por três fases, que tendem a se repetir e a se intensificar com o tempo. 

Após o início do relacionamento, geralmente marcado por romantização (a mulher muitas vezes acredita que encontrou o príncipe encantado, sem defeitos) e cuidado excessivo (ele cuida dela como ninguém nunca cuidou), começa, de forma quase imperceptível, a primeira fase do ciclo da violência contra as mulheres.

A primeira fase é o aumento da tensão, a mais longa de todas. O agressor aos poucos passa a demonstrar irritação constante, ciúmes excessivos, necessidade de controle, humilhações e ameaças veladas. Nada parece agradar. A mulher começa a pisar em ovos, muda seu comportamento para evitar conflitos, assume culpas que não são suas e vive em estado permanente de alerta. Ainda não há, necessariamente, agressão física, mas o medo já está instalado.

A segunda fase é o ato de violência, a explosão. Toda a tensão acumulada se transforma em agressões, que podem ser físicas, psicológicas, morais, sexuais ou patrimoniais. É comum que o agressor tente justificar o ataque, culpando a vítima: olha o que você me fez fazer! Nesse momento, muitas mulheres procuram ajuda, ligam para o 180, registram ocorrência, buscam familiares ou amigos. É uma fase marcada por choque e medo.

A terceira fase é a chamada lua de mel. O agressor demonstra arrependimento, pede desculpas, promete mudar, chora, oferece presentes, carinho e atenção. Essa fase é profundamente confusa. A mulher quer acreditar na mudança, sente-se culpada, pressionada socialmente, especialmente quando há filhos, e acaba cedendo, retirando a queixa e retornando ao relacionamento. O problema é que o ciclo não termina aqui. Ele recomeça. E, a cada volta, costuma se tornar mais rápido e mais violento.

Com o tempo, ocorre a escalada da violência. A fase de lua de mel fica cada vez mais curta. O controle se intensifica, surgem o isolamento social, a vigilância constante, a proibição de trabalhar ou estudar, o controle do celular e das redes sociais. A violência psicológica e patrimonial se agrava (ele quebra o celular, soca a parede, xinga a mulher), seguida por ameaças explícitas de morte. Em alguns casos, o agressor simula (aponta a arma diretamente pra ela ou a esgana, deixando sem ar) ou ameaça diretamente tirar a vida da mulher (se você me deixar eu vou te matar; se não for minha não será de mais ninguém). Esse é um sinal gravíssimo: o risco de feminicídio é altíssimo.

É importante dizer com clareza que quando ocorre o ciclo da violência: o momento da separação é o mais perigoso. A separação necessita de muita atenção e cuidado da mulher e das pessoas próximas. Quando o agressor percebe que perdeu o controle, a violência pode atingir seu ponto máximo. Por isso, a saída nunca deve ser solitária. Romper o relacionamento exige rede de apoio e algumas vezes orientação jurídica e proteção da polícia.

Sair do ciclo não é simples. Medo, vergonha, dependência emocional ou financeira, filhos, isolamento e traumas anteriores são obstáculos reais. Nenhuma mulher permanece em uma relação violenta porque quer. Sobreviver, muitas vezes, parece ser a única opção. 

Romper o ciclo começa pelo reconhecimento: quem ama não machuca. A culpa nunca é da vítima. Violência não é desentendimento, não é exagero, não é problema de casal. Violência é crime.

Por isso, é fundamental trazer os homens para essa pauta. Precisamos da participação ativa dos homens nesse enfrentamento. Pois não basta não ser agressor, é preciso ser ativo na construção de um ambiente seguro e igualitário. Homens e mulheres, juntos, têm muito mais força, falei sobre isso na coluna: Queridos homens: precisamos de vocês, para dar um basta de uma vez por todas nesse absurdo.

Que esta coluna, junto com a campanha Por Elas e Com Eles: juntos pelo fim da violência contra as mulheres, sirva como instrumentos para difundir a informação e ajudar a acabar com a violência. 

Então, se você se identificou com alguma dessas situações ou alguém próximo passa por isso, procure ajuda. Ligue 180, a Central de Atendimento à Mulher, que funciona 24 horas, gratuitamente, em todo o Brasil. Em situações de emergência, ligue 190.

>> Para mais notícias, siga o SCC10 no InstagramThreadsTwitter e Facebook.

Quer receber notícias no seu whatsapp?

EU QUERO

Ao entrar você esta ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

Fale Conosco
Receba NOTÍCIAS
Posso Ajudar? ×

    Este site é protegido por reCAPTCHA e Google
    Política de Privacidade e Termos de Serviço se aplicam.