João Silva

Graduado em economia e relações internacionais pela Boston Univeristy. Mestre em relações internacionais na University of Chicago e mestre em finanças pela University of Miami.


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Análise econômica

Um novo meteoro está próximo de atingir a economia brasileira

Alta dos juros nos Estados Unidos irá pressionar ainda mais os juros, câmbio e a inflação brasileira

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Foto: Pixabay
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Um erro que grande parte dos analistas econômicos cometem é considerar a economia brasileira como uma ilha. Muitas vezes, os fenômenos econômicos globais são desconsiderados das análises econômicas sobre o Brasil, devido ao baixo nível de abertura econômica que o país possui. De certo modo, o Brasil possui, sim, uma dinâmica econômica própria. Por exemplo, enquanto a economia global crescia a um ritmo relativamente acelerado após a crise financeira de 2008-2009, o Brasil experimentou a maior recessão de sua história. Contudo, se as mudanças no cenário do comércio global afetam de maneira mais tímida a economia brasileira, o mesmo não pode ser dito sobre as mudanças no ambiente monetário global. Nesse sentido, as declarações recentes de dirigentes do Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) devem soar um sinal de alerta para as autoridades econômicas brasileiras. 

Na semana passada, importantes dirigentes do Federal Reserve, como o Sr. John C. Williams, a Sra. Lael Brainard, e o Sr. James Bullard, indicaram que o Fed deve adotar uma postura mais agressiva no combate à inflação. Afinal, os Estados Unidos estão experimentando os maiores níveis de inflação em 39 anos, com o índice de preços ao consumidor (CPI) atingindo a marca de 7% em 2021 – muito acima da meta da autoridade monetária americana, que é de 2% ao ano. Assim sendo, espera-se que o Fed reduza os estímulos monetários, especialmente através do aumento das taxas de juros.  

Utilizando-se das brilhantes metáforas de Paulo Guedes (Ministro da Economia), podemos considerar o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos como um verdadeiro “meteoro” para o processo de recuperação da economia brasileira. Afinal de contas, um aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, reduzirá a diferença dos juros brasileiros e juros americanos. Assim sendo, muitos investidores passariam a considerar aplicações financeiras denominadas em dólar muito mais atrativas, pois os Estados Unidos é um país que oferece muito mais segurança macroeconômica aos investidores, além de possuírem um mercado financeiro com muito mais liquidez do que o brasileiro. Então, pode-se esperar que muitos investidores vendam seus ativos denominados em real e passem a comprar ativos denominados em dólar. Consequentemente, o real deve se depreciar ainda mais em relação ao dólar. Com o real enfraquecido, o preço dos produtos importados cresce para os brasileiros, assim, elevando as taxas de inflação no país. 

Para o Banco Central do Brasil evitar a depreciação do real e o aumento da inflação, será necessário aumentar ainda mais a taxa básica de juros (Selic). Entre março e dezembro de 2021, a Selic já experimentou um alta significativa, de 2% para 9,25% e as expectativas atuais indicam que a taxa Selic possa atingir 11,50% em 2022. O problema é que um aumento expressivo dos juros, como o que estamos experimentando, possui um efeito recessivo na economia do país. Com juros mais altos, o custo de crédito para indivíduos e empresas sobe, assim desestimulando investimentos e consumo na economia brasileira. Logo, torna-se cada vez mais plausível que o Brasil experimente um baixo nível de crescimento ou até mesmo uma recessão em 2022. 

Como detonar o meteoro antes que nos atinja?

Diante do cenário de um impacto iminente de um meteoro sobre a economia brasileira, ficamos com a grande questão: como podemos detonar esse meteoro antes que ele nos atinja? A solução se daria através de reformas econômicas que promovam o equilíbrio fiscal do Estado brasileiro e elevem o nível de produtividade dos mais diversos setores da economia. Apenas com um cenário macroeconômico mais confiável e perspectivas mais elevadas de crescimento, o país terá chance de reconquistar a confiança dos agentes econômicos. Contudo, em meio a um ano eleitoral, em que tradicionalmente o Congresso pouco produz, torna-se extremamente implausível que a agenda de reformas avance no parlamento brasileiro. Portanto, é melhor nos prepararmos para o impacto. 

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