João Silva

Graduado em economia e relações internacionais pela Boston Univeristy. Mestre em relações internacionais na University of Chicago e mestre em finanças pela University of Miami.


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João Victor da Silva

O Brasil está em recessão. E agora?

Resultado negativo se deu essencialmente pelos efeitos negativos da grave crise hídrica que o Brasil enfrentou este ano

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Foto: Ricardo Wolffenbüttel/Secom
Foto: Ricardo Wolffenbüttel/Secom

Na semana passada o IBGE divulgou o resultado do PIB brasileiro no 3º trimestre de 2021. Ao contrário das expectativas dos agentes econômicos, os quais esperavam um pequeno crescimento da economia brasileira, o país apresentou uma queda na atividade econômica. Como no 2º trimestre do ano o PIB já havia caído 0,4%, a queda de 0,1% no 3º trimestre indica que o Brasil está em recessão técnica.

O resultado negativo se deu essencialmente pelos efeitos negativos da grave crise hídrica que o Brasil enfrentou este ano. A safra de soja, por exemplo, foi severamente afetada pelo clima atípico. Como resultado, o setor agropecuário enfrentou uma queda de 8% no PIB. As exportações do país também foram substancialmente afetadas pela retração do setor agropecuário. Afinal de contas, as commodities são o “carro-chefe” de nossas exportações. Assim, a queda no setor agropecuário também afetou o nível das exportações, as quais experimentaram uma queda de 9,8% no PIB. Outro fator determinante para o resultado decepcionante do PIB foi a estagnação do setor industrial brasileiro. A indústria não conseguiu crescer no 3º trimestre, especialmente, devido a crise logística e de produção global. Com menos oferta de insumos e o aumento agressivo do preço dos fretes, as indústrias não tiveram capacidade de expandir suas produções. No entanto, o setor de serviços, que representa 70% do PIB do país, teve um crescimento de 1,1%. Nesse sentido, o crescimento do setor de serviços evitou uma queda ainda maior do PIB brasileiro.

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Como o país entrou em uma condição de recessão, fica a dúvida se teremos capacidade de sair desta condição de instabilidade econômica. A tendência é que o Brasil volte a crescer no 4º trimestre, com a recuperação do setor agropecuário e o aumento sazonal do consumo que ocorre durante o fim de ano. De forma geral, em 2021 a economia brasileira deve crescer por volta de 5%. Assim, superando o nível de atividade econômica anterior a pandemia. No entanto, em 2022 existem muitas incertezas acerca da capacidade de crescimento do país. Afinal de contas, trata-se de um ano eleitoral, que geralmente tende a trazer muita volatilidade econômica e redução dos investimentos.

Ao analisar a evolução da economia brasileira nas últimas quatro décadas, percebe-se que o Brasil se encontra em uma armadilha de baixo crescimento. Esta condição de estagnação econômica é extremamente preocupante, pois o desenvolvimento socioeconômico do país depende do crescimento de sua economia. Não há melhor programa de combate à pobreza, por exemplo, do que o crescimento econômico. Ou seja, quando a nossa economia deixa de avançar, torna-se extremamente difícil superar as mazelas sociais do país. Não é por acaso que os economistas se preocupam tanto com o crescimento econômico. Robert E. Lucas Jr., laureado com o prêmio Nobel de economia em 1995, certa vez disse a seguinte frase que simboliza a importância do crescimento: “Quando você começa a pensar em crescimento, é difícil pensar em outra coisa”. Afinal de contas, o crescimento econômico tem um aspecto exponencial. Uma fórmula simples usadas pelos economistas, a “Regra dos 72”, nos ajuda a compreender a importância que taxas de crescimento econômico acelerado possuem para a sociedade. Quando dividimos 72 pela taxa de crescimento médio de um país, descobrimos quanto anos leva-se para a sua economia dobrar de tamanho. Se um país cresce 1%, sua economia leva 72 anos para dobrar de tamanho. Com uma taxa de crescimento de 2%, cai pela metade o tempo necessário para dobrar sua economia, apenas 36 anos. Nesse sentido, é crucial que entendamos as origens de nossa armadilha de baixo crescimento para que possam ser adotas políticas públicas que possibilitem a recuperação de nossa economia. Assim, possibilitando o avanço do padrão de vida da população.

Fundamentalmente, a economia brasileira possui três grandes desafios para superar seu processo de estagnação econômica: (1) a instabilidade político-institucional; (2) o desequilíbrio fiscal; e (3) o baixo nível de produtividade econômica. Nesse sentido, percebe-se que o Brasil precisa avançar com uma série de reformas para conseguir reestabelecer sua pujança econômica.

Primeiramente, é preciso realizar uma reforma política que estabeleça um sistema de pesos e contrapesos efetivos para impedir a ingerência de determinado poder sobre o outro. Ademais, é importante estabelecer uma nova relação entre Executivo e Legislativo. Além de garantir um maior nível de previsibilidade das decisões judiciais. Do ponto de vista fiscal, o Brasil precisa realizar reformas que reduzam as despesas e o nível de endividamento do Estado. Nesse sentido, é crucial o avanço de uma robusta reforma administrativa e de privatizações. Já para aumentar a produtividade da economia, deve-se estabelecer reformas que aumentem a competição dos setores oligopolizados da economia, como o setor bancário. Também é preciso simplificar o sistema tributário, melhorar a infraestrutura do país, desburocratizar a máquina pública, garantir títulos de propriedade a populaçao, “formalizar” e legalizar o setor informal da economia, estabelecer leis de incentivo à inovação, entre tantas outras reformas que possam atrair investimentos e aumentar a produtividade da economia.

O crescimento econômico é o principal pilar do desenvolvimento de uma sociedade. Este é o porquê devemos nos preocupar com a atual recessão que o país experimenta. É verdade que estamos em vivendo um momento único da história. A crise da Covid-19 desorganizou não somente a economia brasileira. Contudo, o padrão de baixo crescimento que o país experimenta é um problema estrutural e preocupante. O Brasil nas últimas quatro décadas cresceu muito pouco. Por isso, é tão importante que implementemos reformas, as quais evitem um potencial quinta “década perdida”. Se não mudarmos nosso arcabouço institucional, reorganizemos as contas públicas, e fomentemos o crescimento, estaremos fadados ao subdesenvolvimento. Assim, notícias como a da semana passada se tornarão cada vez mais comuns. O Brasil está em recessão. Agora precisamos encontrar o caminho para o crescimento econômico sustentável!     

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