João Silva

Graduado em economia e relações internacionais pela Boston Univeristy. Mestre em relações internacionais na University of Chicago e mestre em finanças pela University of Miami.


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João Victor da Silva

Eleições de 2022: uma disputa entre estética e resultados

Quando a estética se sobrepõe aos resultados, o futuro cenário político pode ser problemático

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Foto: Reprodução/ SBT
Foto: Reprodução/ SBT

Racionalmente, as escolhas políticas dos cidadãos deveriam estar alinhadas consoante os seus princípios e interesses pessoais. Em geral, deveríamos votar em candidatos que defendam valores que consideramos importantes e que proponham a implementação de políticas públicas que melhorem a nossa condição de vida. Ter uma economia estável e próspera, serviços públicos de qualidade e segurança deixaria a maioria dos eleitores satisfeitos.

No entanto, o eleitor nem sempre age de acordo com seus próprios interesses. No livro The Myth of the Rational Voter (em português, O Mito do Eleitor Racional) escrito pelo economista Bryan Caplan, é demonstrado como o eleitorado americano elege políticos que compartilham de suas análises equivocadas em assuntos econômicos, assim, levando a implementação de políticas econômicas ineficientes ou até mesmo prejudicais ao desenvolvimento do país e o bem-estar da população. Certamente, as consequências econômicas negativas em decorrência das escolhas políticas da população não se restringem aos Estados Unidos. Na realidade, o fenômeno populista que todos os países latino-americanos já enfrentaram, ou enfrentam até hoje, também reflete esta irracionalidade do eleitor. 

Com o início da pré-campanha para as eleições presidenciais brasileiras, já é possível observar que as discussões políticas estão fugindo de temas importantes para o futuro do país, tais como políticas econômicas e de segurança pública, organização institucional, entre outros, para discussões entre as estéticas de cada candidato. Desde a eleição do Presidente Jair Bolsonaro se discute mais sobre as suas falas e posturas do que sobre as ações de seu governo. Idealmente, assim como defende a filosofia aristotélica, as nossas ações deveriam representar um equilíbrio entre os extremos. Seria ótimo se tivéssemos lideranças que conseguissem implementar políticas públicas positivas para o desenvolvimento do país enquanto transmitem uma imagem de prudência e equilíbrio. Contudo, em um ambiente político tão caótico e cada vez mais polarizado como o brasileiro, trata-se de uma missão quase impossível atingir o equilíbrio entre resultados e imagem estética. 

No Brasil estamos vendo que os concorrentes do Presidente Bolsonaro estão cada vez mais empenhados em fazer o contraste estético com o Presidente, do que elaborar planos de governos robustos que mostram os erros e acertos da atual administração e suas propostas para melhorar a situação socioeconômica do país. Lula, por exemplo, se aproximou de seu ex-adversário Geraldo Alckmin como uma estratégia similar a adotada na campanha presidencial de 2002, quando foi publicada a “Carta ao Povo Brasileiro”. Assim como em 2002, Lula quer demonstrar que vai governar como um moderado. Basicamente, ao se aproximar de Alckmin, um político com postura discreta e serena e com boa aceitação pela elite econômica do país, Lula busca demonstrar que políticas radicais não serão implementadas. Trata-se do típico jogo de cena que os petistas realizam para conquistar apoio da parcela da população que se opõem as políticas extremistas, mas que apreciam um maior papel do Estado em questões sociais e econômicas. 

Outro candidato que vem enfatizando questões estatísticas ao invés de programáticas é o ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Recentemente, Leite publicou um vídeo em suas redes sociais, em que menciona sua admiração e inspiração em lideranças mundiais como Emmanuel Macron (Presidente da França), Justin Trudeau (Primeiro-Ministro do Canadá) e Jacinda Ardren (Primeira-Ministra da Nova Zelândia). O que todos esses políticos têm em comum são a defesa de pautas ditas “progressistas.” Entretanto, no decorrer de seus mandatos, especialmente durante a pandemia, esses líderes implementaram medidas de restrição aos direitos civis de seus compatriotas. Trudeau, por exemplo, chegou a decretar uma espécie de lei marcial para minar protestos pacíficos realizados por caminhoneiros do país. 

Certamente, a lista de “presidenciáveis” que priorizam questões estéticas ao invés da elaboração de programas de governo não se esgota em Lula e Leite. João Dória, Sérgio Moro, Simone Tebet são outros candidatos com projetos políticos tão superficiais quanto os de Lula e Eduardo Leite. Talvez, Ciro Gomes — apesar de eu discordar com a maioria de suas propostas — seja o único concorrente de Bolsonaro que tenha um programa de governo que vá além de discussões estéticas. 

A questão que fica é: por que os candidatos se preocupam tanto com a questão estética ao invés de discutirem temas relevantes para o país? Minha hipótese é que todos esses candidatos não possuem projeto em prol do Brasil. Os objetivos deles sem resumem a retirarem Bolsonaro do Palácio do Planalto. Afinal de contas, gostando ou não do atual Presidente, ele trouxe um choque de gestão sem precedentes para a administração pública federal do país, que desagradou à classe política tradicional do país, o chamado establishment. Reformas econômicas importantes foram aprovadas, os casos de corrupção caíram substancialmente, houve melhoras nos índices de segurança, muitas das estatais experimentaram lucros recordes, obras importantes foram concluídas, os ministérios foram ocupados essencialmente por técnicos, entre tantos outros avanços. Pode-se até criticar ou questionar o êxito e a condução de determinadas ações do governo, mas não é possível negar que o governo Bolsonaro trouxe uma mudança paradigmática para política nacional. Assim sendo, os concorrentes do presidente buscam atacar o que muitos consideram seu ponto fraco: suas falas polêmicas e sua postura explosiva. Os presidenciáveis estão basicamente seguindo os conselhos, do General Sun Tzu, autor do famoso livro A Arte da Guerra, que dizia: “evite a força, ataque a fraqueza”. Como a força de Bolsonaro está nas ações de seu governo, resta atacar sua fraqueza: as suas falhas de comunicação, ou seja, sua estética. 

O problema é que quando a estética se sobrepõe aos resultados, o futuro cenário político pode ser problemático. Nos Estados Unidos, por exemplo, a eleição de 2020 também foi dominada por discussões estéticas. Donald Trump sofreu eleitoralmente com sua postura controversa. Joe Biden, um candidato cujas propostas políticas se resumiam a contrapor Trump, além de prometer a volta da “normalidade” para política, ganhou a eleição. Contudo, a situação do país piorou desde então. Até o início da pandemia, as políticas de Trump, o malvadão laranja, levaram o seu país a viver um dos períodos de maior prosperidade de sua história. Além disso, o mundo viveu um dos períodos de menor belicosidade das últimas décadas. Com Joe Biden, o velhinho bonzinho, os Estados Unidos experimentam os maiores níveis de inflação em 40 anos, o total de mortes pela COVID-19 superam substancialmente os números registrados na administração de Trump, o mundo também passou a viver um dos períodos de maior tensão política desde a Guerra Fria, além da implantação de uma agenda ambiental e cultural radical no país. Hoje, Joe Biden possui um dos menores níveis de aprovação de um presidente americano na história. Essencialmente, o eleitor americano votou na estética e agora precisa conviver com resultados desastrosos.

Assim como descrito por Caplan, muitas vezes, nós, eleitores, não agimos de forma racional. Frequentemente escolhemos líderes que implementam políticas dissonantes de nossos interesses. Afinal, é fácil sermos ludibriados. Políticas públicas exitosas normalmente são muito complexas e demandam um conhecimento técnico que a maioria dos eleitores não possui. Ademais, a propaganda política geralmente faz um apelo às nossas emoções. A razão fica em segundo plano. Consequentemente, os temas fundamentais para o desenvolvimento do país são relegados a um segundo grau de prioridades. 

Como não temos um candidato que possua um equilíbrio entre a estética e os resultados, é importante que demos preferência aos resultados. Caso contrário, logo após as eleições, podemos nos confrontar com um cenário de políticas desastrosas, as quais piorarão nossas vidas e farão o país desperdiçar todas as conquistas alcançadas nos últimos anos. As opções que os eleitores brasileiros se confrontarão em 2022 serão: estética ou resultado.

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