João Silva

Graduado em economia e relações internacionais pela Boston Univeristy. Mestre em relações internacionais na University of Chicago e mestre em finanças pela University of Miami.


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CRIADORES DE RIQUEZA

Até quando vamos fingir que está tudo bem?

O Estado que deveria apoiar quem gera empregos e riqueza escolheu punir sua força produtiva — e o silêncio dos criadores de valor se tornou cúmplice do retrocesso

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Até quando vamos fingir que está tudo bem? | Foto: Reprodução.
Até quando vamos fingir que está tudo bem? | Foto: Reprodução.

Em que momento os trabalhadores e empresários brasileiros — os verdadeiros criadores de riqueza deste país — aceitaram colocar sua autoestima e honra de lado para assistir, em silêncio, à dilapidação da economia e das instituições nacionais? Faço essa pergunta com pesar. Mas ela parece resumir bem o que se tornou a realidade da sociedade brasileira nos últimos três anos.

Hoje, vemos um Poder Executivo que adota políticas públicas populistas sem o menor pudor, sacrificando o futuro dos jovens em troca de mais um ciclo eleitoral. Um Judiciário que desmontou a mínima segurança jurídica necessária para uma economia próspera. E um Congresso cúmplice dessa desordem, vendendo sua autoridade por emendas parlamentares e prostituindo sua honra por medo de retaliações judiciais. A grande questão é: como aceitamos nos tornar meros espectadores da degradação do Estado brasileiro?

As respostas são variadas. Alguns dizem temer represálias. Outros justificam o silêncio com uma lógica de “pragmatismo” — algo que seria necessário para sobreviver em uma republiqueta corporativista. Eu, particularmente, rejeito essa visão covarde e oportunista. Optar pelo silêncio em troca de aceitação nos círculos do poder é somente comprar tempo para um fracasso anunciado. A história está repleta de exemplos — basta lembrar dos empresários que apoiaram os bolcheviques na Revolução Russa e acabaram pagando pela corda com que foram enforcados.

A guerra declarada contra os criadores de riqueza

Desde 1º de janeiro de 2023, o governo brasileiro declarou guerra aos criadores de riqueza. Uma guerra motivada por vingança contra os que apoiaram o candidato derrotado e alimentada por uma obsessão populista pela perpetuação no poder. Não se trata de uma guerra velada. Ela está escancarada nos discursos e atos dos mais altos representantes da República.

Em matéria recente da Gazeta do Povo, os jornalistas Roberta Ribeiro e Célio Yano quantificam essa vingança tributária. Desde 2023, o Governo Lula aumentou ou criou tributos 24 vezes — ou seja, uma nova mordida fiscal a cada 37 dias. Mesmo com arrecadação recorde de R$ 2,7 trilhões em 2024 (alta de 10% em relação a 2023), o déficit público persiste e a dívida segue descontrolada, já em 76% do PIB.

E a fome arrecadatória não para. Apesar de o Brasil já ter uma carga tributária de 33,3% do PIB — a mais alta da América Latina (média de 21,5%) e equiparada à de países desenvolvidos (OCDE: 34%) —, o governo continua extraindo recursos de todos os lados. Até o IOF, um imposto de natureza regulatória, foi usado distorcidamente, minando a confiança dos investidores e acendendo o alerta para possíveis controles de capitais. Chegou-se ao ponto de propor o aumento de impostos sobre os chamados “super-ricos” — quem ganha mais de R$ 50 mil por mês — com o falso argumento de combater a regressividade do sistema. Em países desenvolvidos, essa renda é apenas de classe média. Tudo isso, enquanto a elite do funcionalismo público permanece intocável. Ao mesmo tempo, a reforma tributária castiga justamente o setor de serviços — que representa cerca de 70% da economia nacional.

Enquanto o país flerta com o colapso fiscal, o governo comemora um crescimento de 3,4% do PIB como se fosse uma façanha. Não é. Um país como o Brasil, que busca se aproximar do desenvolvimento, precisa crescer ao menos 5% ao ano. Nossos vizinhos mostram que isso é possível. O Paraguai cresce 4,4% — e 6,3% se excluirmos Itaipu e o agronegócio. A Argentina, sob a “motosserra” de Milei, já dá sinais de recuperação: a OCDE projeta um crescimento de 5,7% da economia do país austral em 2025.

Aqui, celebramos mais um voo de galinha, sustentado por uma expansão fiscal agressiva, que exigirá um duro ajuste adiante. Os danos já são visíveis: a taxa Selic atingiu 14,75%, o maior nível em quase 20 anos, e a inflação segue sem perspectiva de convergir à meta até o fim de 2026. A economia já está dando os primeiros sinais de alerta: as recuperações judiciais saltaram 62% em 2024, e o consumo das famílias está em queda desde o quarto trimestre do ano passado.

Infelizmente, nossos “formuladores de políticas públicas” ainda acreditam que o país se desenvolve com mais intervenção estatal, mais gastos públicos e o uso político de estatais. Estão errados. Os pilares do desenvolvimento estão na microeconomia — no respeito ao capital, aos contratos e à competição por investimento global. Como convencer investidores a apostar no Brasil com um imposto de renda corporativo de 34%, enquanto os EUA praticam 21% e discutem reduzir para 15%?

A omissão do Congresso e o avanço do retrocesso institucional

O Judiciário também fracassa. A insegurança jurídica é crônica. Um dos episódios mais graves foi a decisão do STF que autorizou a cobrança retroativa de tributos — inclusive de contribuintes com decisões transitadas em julgado. Um atentado direto à previsibilidade e ao Estado de Direito, vendido como normalidade institucional.

Diante de tudo isso, por que continuar calados? Já passou da hora de nossas entidades de classe pararem de organizar jantares de gala e normalizar o convívio com os que saqueiam o país em eventos internacionais. Está na hora de rejeitar a erosão do Estado de Direito em troca de “trânsito nos tribunais”. Queremos viver em um Brasil livre, próspero e justo? Esse tipo de país só será possível quando abandonarmos o derrotismo e resgatarmos o espírito reformista e patriótico que nos movia até poucos anos atrás.

Quem carrega o país nas costas não pode se calar. Pelo contrário: todos os criadores de riqueza — trabalhadores e empresários — têm o DEVER de se posicionar!

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