A Insídia Populista: Uma Jornada de Londres a Brasília
A insídia populista é um fenômeno cada vez mais comum das democracias
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Visitar diversos países é uma oportunidade que vai além de conhecer diferentes culturas e realidades sociais; também nos permite entender comportamentos comuns a diferentes povos. Inevitavelmente, observamos que a prática política é um desses fenômenos que parecem unificar realidades distintas. Afinal, a busca pelo poder, mesmo em regimes autocráticos, requer que os líderes conquistem o apoio de uma parcela significativa da sociedade. Como conseguem isso? Geralmente, concedendo privilégios e implementando políticas públicas destinadas a aliviar problemas imediatos. No entanto, ao longo do tempo, essas políticas se revelam fracassadas, uma vez que não abordam as raízes dos problemas.
Recentemente, enquanto passava pelas estações de metrô de Londres, fiquei intrigado com vários cartazes da prefeitura que destacavam uma das “grandes realizações” do prefeito Sadiq Khan: o recorde na construção de milhares de habitações populares com o intuito de proporcionar moradias acessíveis para a população de baixa renda. À primeira vista, isso pode parecer um projeto louvável, visando proporcionar habitação digna para os habitantes de baixa renda da capital britânica. No entanto, ao examinarmos mais profundamente o problema, torna-se evidente que essa é uma política que não merece celebração, uma vez que apenas mascara o fracasso da classe política.
A questão fundamental reside em como a capital de um império que já dominou um quarto do território do planeta e ainda ostenta uma das maiores economias em termos de PIB per capita pode ainda ter a necessidade de construir habitações populares. Isso evidencia, no mínimo, dois problemas crônicos que a classe política do país parece incapaz de resolver. Em primeiro lugar, é evidente que a economia do Reino Unido não consegue gerar oportunidades de mobilidade social para toda a sua população. Em segundo lugar, a estratégia de desenvolvimento urbano em Londres não parece adequada ao ritmo de crescimento da cidade, visto que os preços de imóveis e aluguéis atingem níveis tão exorbitantes que refletem um desequilíbrio claro entre oferta e demanda.
Estes são, em última análise, os problemas fundamentais que exigem a atenção da classe política para tornar a habitação mais acessível à população. No entanto, o prefeito de Londres parece optar pelo caminho mais fácil em busca de apoio nas próximas eleições: construir habitações populares, evitando lidar com as raízes do problema. Em outras palavras, o assistencialismo continuará a ser uma solução temporária para manter sua popularidade, ao invés de enfrentar os desafios estruturalmente.
Infelizmente, a insídia populista é um fenômeno cada vez mais comum das democracias. Ao passo que grande parte da população não se atenta as consequências das políticas públicas, a classe política se contenta a propor propostas que inicialmente podem parecer soluções fáceis para determinado problema em vez de resolver a verdadeira raiz do problema.
O caso de Londres demonstra que mesmo países desenvolvidos não estão isentos do populismo. Na América Latina, estamos nos aproximando da perfeição das práticas populistas. No Brasil, não há exemplo mais evidente de uma política pública fracassada, vendida como um sucesso, do que o Bolsa Família. O êxito desse programa social deveria ser medido pela redução no número de beneficiários e na diminuição dos recursos transferidos à população. No entanto, o assistencialismo se tornou uma ferramenta de angariação de votos, com governos de direita e esquerda celebrando a expansão do programa.
Na Argentina, o exemplo máximo de populismo, a classe política conseguiu, ao longo de um século, transformar uma das economias mais prósperas do mundo em um país onde mais da metade da população vive na pobreza. Como isso foi possível? Difundindo na sociedade a ideia de que todas os desafios sociais necessitam da intervenção do Estado. No entanto, é crucial lembrar que, embora as necessidades sociais sejam infindáveis, os recursos econômicos são finitos. É imperativo reconhecer que não existe tal coisa como um orçamento público desequilibrado. Todos os gastos são financiados, seja por meio de impostos, empréstimos ou inflação. O drama argentino é o resultado da incapacidade do eleitorado em reconhecer as limitações do Estado. Ao continuar apostando no populismo, o país se vê em uma contínua crise, na qual a economia não próspera, os jovens buscam oportunidades no exterior, e a inflação atinge três dígitos.
Contudo, responsabilizar exclusivamente a classe política é uma crítica fácil e simplista. É essencial reconhecer que como sociedade, frequentemente falhamos em assumir nossas próprias responsabilidades, optando por transferi-las para o Estado. Como resultado, muitas vezes nos vemos em uma posição de vulnerabilidade, sendo subjugados por interesses populistas. Não podemos ser os cordeiros devorados pelos lobos. Para superar essa situação, é imperativo que busquemos a independência e a liberdade, como majestosas águias, a fim de nos protegermos dos embusteiros populistas.
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