Mocotó do Morro: uma iguaria tradicional da Ilha

Hoje quero apresentar uma preparação que considero uma das maravilhas tradicionais da cidade de Florianópolis.

Quando pensamos na Ilha, quase de forma imediata estabelecemos a relação com o Mar, e os seus produtos que o cercam, como por exemplo, a sua vasta variedade de peixes e frutos do mar. 

Porém, o prato conhecido por Mocotó da Capital Catarinense, tem a sua história fora do mar. Atrelada à época da construção da ponte Hercílio Luz (1922 a 1926), onde os operários subiam o Morro do Mocotó para comprar e consumir. 

Podemos deduzir que o Mocotó, um prato tradicional de várias comunidades pelo Brasil, é preparado na Ilha e está diretamente associado à sua localização. Sendo assim reconhecido e referenciado numa forma de identidade pela sua comunidade local. A região conhecida por Morro do Mocotó, está localizada no Centro de Florianópolis no conjunto do Maciço do Morro da Cruz  foi durante os séculos XVIII e XIX um refúgio para escravos.

Morro do Mocotó

A preparação local do Mocotó do Morro não tem apenas uma forma de preparado pela sua comunidade. Mas ao mesmo tempo podemos relacionar as suas principais características deste memorável ensopado, que traz em sua base, um caldo gelatinoso, realizado a partir de  ossos do pé (pata) bovino, fato (bucho), carne seca, bacon e/ou linguiça, massa de tomate e temperos verdes (salsinha, cebolinha).

É um preparo que exige paciência devido ao longo tempo de cozimento e sobretudo a astúcia do cozinheiro para conseguir chegar no ponto. Na etapa de finalização da preparação, adiciona-se o arroz branco, deixando com uma textura ainda mais encorpada.

Em minha definição, faço referências a um caldo riquíssimo em sabor, com aromas profundos e extremamente revigorantes que chegam a aquecer a alma. Além disso, outra curiosidade, é que a quantidade de colágeno é tanta que  inclusive chega a colar a boca. A sensação é incrível!! Me fazendo lembrar dos maiores molhos da cozinha francesa, que chegam a cozinhar por dias a fio. 

Refeição afetiva

Indiscutivelmente é uma refeição afetiva que traz em sua história a marca do DNA do seu povo, que ali desenvolveram uma cultura em torno do sabor e da tradição que não só  remete a forma de preparar o alimento, mas também importante destacar o papel dos talentosos cozinheiros(as) que foram os responsáveis por disseminar a receita do Morro do Mocotó.

Portanto, quem não provou precisa conhecer esta preciosidade. O prato ainda pode ser servido com farinha branca e pão.

Dessa forma, para falar um pouco mais sobre o Mocotó, convidei a professora de Gastronomia do Câmpus Continente e coordenadora do Grupo de Pesquisa Patrimônio, Gastronomia e Cultura IFSC, Silvana Graudenz Muller.

Na pesquisa realizada no Morro do Mocotó pelo grupo de pesquisa, coordenada pela professora foi possível observar alguns fatos relevantes:

• Primeiramente diagnosticou-se que nesse século XXI o hábito de fazer o Mocotó diminuiu, o modo de preparo e as receitas estão se perdendo e as novas gerações estão tendo dificuldades de acesso a estes saberes e fazer.

• Em seguida, em um segundo momento da pesquisa, foram gravados vídeos institucionais com a receita mais antiga encontrada, datando da época da construção da ponte Hercílio Luz e com o depoimento de moradores locais sobre a importância deste bem imaterial para a comunidade. Este material é utilizado como base para o ensino durante as aulas de Gastronomia Brasileira do curso Superior de Tecnologia em Gastronomia, dos cursos técnicos de cozinha e do curso PROEJA cozinha, no Campus Florianópolis – Continente. Além disso, também efetuaram-se Mostras Gastronômicas para alunos e comunidade como ações de extensão para salvaguardar o conhecimento tradicional.

Qual a importância da pesquisa? 

Com a pesquisa temos condições de fazer um levantamento sistemático dos saberes e fazeres relativos às práticas alimentares locais e assim disseminar esse conhecimento,  possibilitando a preservação e continuidade dessa prática, para que não caia no esquecimento.

Qual a importância do prato Mocotó para Florianópolis? 

A partir dessa pesquisa, podemos observar que a gastronomia típica de Florianópolis não se baseia apenas em peixes e frutos do mar e que temos outros pratos muito saborosos, que possuem uma origem que representa a história e a cultura da Ilha.

Regue a sua vida com muito amor, tempere a sua comida com a sua essência!!

Um grande abraço,

Gustavo M.
@gutomaresch

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