Mas afinal, que vinho Cabernet é este? Conheça outros tipos

Na semana passada, o caro leitor pode entender um pouco mais das diferenças entre os Cabernet, mas provavelmente tenha ficado curioso sobre as menos conhecidas Cabernet Gernischt, Ruby Cabernet, Cabernet Volos e Cabernet Eidos. Hoje, portanto, falaremos das estranhas no ninho!

Cabernet Gernischt

Provavelmente, a maior parte dos leitores, dentre os quais também os mais experimentados em vinhos, deve estar se perguntando sobre o tal Cabernet Gernischt. Seria este mais um cruzamento nativo de Bordeaux? Provavelmente sim, mas o surpreendente, nesse caso, não é o cruzamento.

A tal Cabernet com sotaque alemão trata-se, nada mais, nada menos, do que da uva Carménère, assim chamada na China – e sim, a China produz vinhos, inclusive em grande quantidade. Estima-se inclusive que o país, sem saber, já cultivava mais a casta do que o Chile, onde tornou-se variedade emblemática. Polêmicas à parte, é a responsável pelo acento herbáceo da maior parte dos vinhos tintos chineses, da mesma forma que nos vinhos chilenos varietais feitos a partir desta uva.

Algumas pessoas confundem Carménère com Cabernet, chamando-a algo como “Cabérnère”. Provavelmente sequer façam ideia de que até hoje o cruzamento de origem ainda é incerto. Tudo indica, porém, que tenha Cabernet Franc na sua composição. Isso, de certa forma, justifica que alguns produtores chilenos as confundissem nos vinhedos, produzindo um vinho “errado” por longos anos.

Ruby

Já Ruby Cabernet é uma variedade com menos mistério: declaradamente fruto da mão humana, é um cruzamento artificial, obra do grande professor Harold Paul Olmo, da Universidade da Califórnia, Davis. Olmos objetivava que variedades famosas fossem adaptadas ao verão quente da Califórnia. Neste caso, cruzou Carignan, uma variedade de aparente origem aragonesa, muito cultivada no sul da França, ambas de clima notoriamente quente no verão, e Cabernet Sauvignon.

A variedade não possui grande expressão em volume para além dos EUA, porém pode dar origem a vinhos intencionalmente diferenciados. No Brasil, foi introduzida pela Almadén, quando fundada por seu grupo originário, na Campanha Gaúcha, onde ainda hoje há vinhedos da variedade.

Volos

Cabernet Volos é também uma uva de melhoramento humano, tal qual a Cabernet Eidos. No entanto, diferente de Ruby Cab., estas duas castas são muito recentes e atendem a uma demanda de produzir uvas e vinhos de modo mais sustentável.

Estas variedades são chamadas de PIWI, sigla alemã para algo que, em tradução livre, significa “variedades resistentes a doenças”. Para obtê-las, clássicas variedades – nesses dois casos, Cabernet Sauvignon – foram cruzadas com variedades híbridas de conhecida resistência. Assim, herdariam as boas características de aroma e sabor da variedade europeia e a resistência das híbridas. São praticamente uvas Cabernet Sauvignon com maior resistência.

As PIWI são alternativas promissoras e acredita-se que, em breve, devem alcançar escala comercial e chegas às prateleiras das adegas, no entanto, o caminho entre consumidor e campo ainda parece longo, especialmente no Brasil. Convém dizer, apesar disso, que a EPAGRI já estuda essas variedades em solo catarinense há anos, o que poderia trazer pioneirismo ao estado na exploração comercial destas variedades alternativas à viticultura convencional.

Nesta altura, provavelmente o leitor, por mais experimentado em vinhos que seja, talvez tenha se surpreendido com alguma informação. Seja você um conhecedor ou um leigo, esteja aberto à diversidade do mundo do vinho, pois ela pode surpreender.

Santé!

por Jucelio K. Medeiros

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