Fabio Schardong

Jornalista com 32 anos de profissão. Comunicador na Rádio Chapecó desde 2005.


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Fabio Schardong

Faz quatro anos da tragédia da Chape. Curiosamente, a data oficial é dia 28

Em Chapecó, um 29 de novembro diferente, um dia de introspecção.

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Foto Arquivo Pessoal
Foto Arquivo Pessoal

Novembro sempre é carregado de lembranças, principalmente a segunda quinzena. Se a nossa memória falhar, as redes sociais se encarregam de fazer o serviço. É assim desde 2017.

Dias atrás completou-se quatro anos da heroica classificação sobre o San Lorenzo. O pé do goleiro Danilo defendendo a meta nos últimos segundos de jogo tenho certeza que todos recordam. Era o time do Papa, como esquecer?! Antes havia sido o time da Shakira, o Junior Barranquilla, e antes ainda o Independiente de Avellaneda – o Rey de Copas. A temporada era fantástica e o pé do Danilo colocava a Chapecoense na decisão da Copa Sul-Americana. Era uma final internacional.

A cidade estava em êxtase, o torcedor com sorriso no rosto e muita gente buscava agências de viagens para tentar ir para a Colômbia ou para o jogo de volta, que seria em Curitiba, pois o regulamento exigia estádio maior que a nossa Arena Condá. Antes tinha o jogo em São Paulo pelo Brasileirão. Da capital paulista a delegação viajaria para Medellín.

Foto Nostra Casa

Curiosas despedidas

A imprensa sempre acompanhou a Chapecoense pelos estádios da vida. Para São Paulo, penúltimo jogo do Brasileirão, uma van levou todas as equipes de rádio da cidade. Alguns voltaram para Chapecó e outros ficaram para fazer a primeira partida da final da Sul-Americana. Foi uma viagem de despedida.

Aqui em Chapecó, poucos dias antes, o prefeito reuniu a imprensa para uma confraternização. Estávamos todos lá, incluindo quem iria até a Colômbia na semana seguinte. Sem sabermos, foi uma despedida. E um detalhe, esse jantar seria, como sempre, em dezembro, mas foi antecipado.

A van da imprensa viajou no sábado mais tarde que o habitual. Pela manhã, apareceu o Fernando Doesse na Rádio Chapecó, do nada. Na segunda-feira, dia da viagem a Medellín, o Douglas Dorneles me enviou a relação das pessoas que estariam no voo 2933 da La Mia e trocamos algumas informações sobre o deslocamento. Tanto no sábado como na segunda, foram despedidas.

Onde você estava?

Muitos devem lembrar o que faziam e onde estavam quando foram surpreendidos pela notícia. A maioria foi acordada, uma vez que já era madrugada. Eu lembro. Já relatei isso em outros oportunidades. Para não me alongar, digo que estava em casa, tendo levantado mais ou menos na hora da queda. Liguei a TV, fiquei alguns minutos e deitei. Meu filho me chamou para falar sobre o que seria um pouso forçado da aeronave.

Na chuva saímos, eu e ele, e somos até a rádio. São uns 400 metros, o suficiente para molhar a roupa até o joelho tamanha era a chuva. Colocamos a emissora no ar.

Foram inúmeros telefonemas, dados e recebidos, flashes para o Brasil e para o exterior. O mundo estava em polvoroso. E nós também. Em meio a um cenário de incertezas e informações desencontradas, veio a confirmação. E foi vivo, já que estávamos em cadeia com a Rádio Caracol da Colômbia naquele momento. Quem deu a notícia foi o General Acevedo, nome que não esqueço. Enfim, essa história posso contar de forma mais detalhada em outra ocasião.

A data

Nós, aqui no Brasil, já vivíamos a terça-feira, dia 29 de novembro. O avião caiu perto de Medellín e por lá ainda era segunda-feira, 28 de novembro. Os atestados de óbito têm o dia 28. Essa é a data oficial.

Foto Nostra Casa

O prefeito

O mandatário de Chapecó, Luciano Buligon, teve papel importante nessa história. Com a ajuda governamental do Brasil e da Colômbia, poupou 71 famílias de uma viagem aérea naquelas circunstâncias e do reconhecimento dos corpos das vítimas. Foi tudo muito rápido, levando em conta a complexidade da situação.

No entanto, quero falar de Federico Gutiérrez Zuluaga. O prefeito de Medellin festejava seu aniversário naquela noite. Sim, ele nasceu em um 28 de novembro. É de 1974, eu de 72, tenho dois anos e alguns dias a mais que ele. Quando da sua vinda a Chapecó, o entrevistei. Federico também tem papel de destaque na transformação de Medellín, antes lembrada somente pelo narcotráfico e agora uma cidade renovada e mais alegre.

Quatro anos depois

Passados quatro anos da queda do avião – não me refiro ao acontecido como acidente, pois poderia ter sido evitado – não haverá grande programação em Chapecó. Por lei, o 29 de novembro (para nós já era terça-feira) é a data de abertura do Natal e acendimento das luzes natalinas. Por causa da pandemia, nem luzes teremos. Não há como ter programação de Natal, nem ato público.

A Associação Chapecoense de Futebol anunciou atividades virtuais, em redes sociais, incluindo uma surpresa ao longo do domingo. O estádio terá som ambiente durante todo o dia e os refletores serão acesos, como se fosse um jogo noturno.

Foto Nostra Casa

Um dia diferente

Será um domingo diferente em relação aos três anos anteriores. Já tivemos cultos ecumênicos, caminhadas e vigílias. Em 2020, não. Até isso esse ano bissexto e esse inimigo quase invisível nos tiraram.

Será um domingo introspectivo. Eu tinha um irmão (Fernando) e um colega de equipe (Douglas) naquele voo. Fiz referência aos dois acima. Outras tantas pessoas estavam em situação semelhante. E não esqueçamos dos demais. Eram colegas de profissão, amigos, conhecidos, alguns admirados, mesmo que à distância. Estavam todos juntos, quem partiu e quem ficou. O motivo, com certeza cristalina, ninguém sabe. Deve ter algum.

Foto Arquivo Pessoal

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