Mesmo sem os dois braços, Tião jamais reclama da vida

Histórias de superação costumam emocionar e algumas delas passam por nós todos os dias, no meio da rua. Quem circula pela região do TAC, o Teatro Álvaro de Carvalho, no Centro de Florianópolis, provavelmente já encontrou o sorriso de Sebastião Pontes, o Tião, de 55 anos. Vendedor de balas, ele se tornou um símbolo local de coragem, fé e resiliência.

A vida de Tião mudou completamente aos 40 anos. “Eu fui apanhar manga, abaixei o galho e sofri uma descarga elétrica”, relembra. O choque foi tão forte que os médicos deram duas opções: amputar os braços ou correr o risco de ficar tetraplégico. Ele escolheu viver. “Desse dia pra cá, mudou a minha vida.”

Natural de São Paulo, Tião já teve várias profissões: operador de máquinas, caminhoneiro, pedreiro, gredista, operador de empilhadeira. “Tem várias que nem lembro mais”, conta com bom humor. Hoje, trabalha vendendo doces no semáforo. A caixa onde guarda tudo é organizada por ele mesmo, com variedades que vão de paçoca a pastilhas e balas de eucalipto. Quando o calor aperta, ele até retira os chocolates: “Derrete muito”.

Mas quem compra com Tião leva mais do que um doce. Leva uma lição. Motoristas e pedestres contam que muitas vezes param só para ver seu sorriso. “Tem gente que diz: hoje não quero nada, só quero te dar um bom dia”, conta ele. Outras pessoas dizem se sentir fortalecidas por sua história. “Já teve gente que falou que se libertou da depressão vendo minha experiência.”

A rotina de Tião é feita de trabalho, amizade e adaptação. Na hora do almoço, os amigos ajudam com o prato. Em casa, outros voluntários aparecem para auxiliar nas tarefas, mas muito ele faz sozinho, até lavar o rosto. “É só eu”, demonstra, orgulhoso.

Mesmo sem os braços, Tião segue com o coração escancarado. Trabalha, agradece, incentiva e transforma. “Não é fácil. Mas estou contente, porque trago alegria para as pessoas e muitos estão se libertando da tristeza.”

Em meio à pressa do Centro, Tião lembra diariamente que obstáculos existem, mas desistir não é opção. A quem cruza seu caminho, ele entrega mais do que bala: entrega esperança.

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