João Silva

Graduado em economia e relações internacionais pela Boston Univeristy. Mestre em relações internacionais na University of Chicago e mestre em finanças pela University of Miami.


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João Victor da Silva

A cultura do privilégio como um entrave à Economia

Essas medidas deterioram ainda mais a economia do país; logo, a população passa a demandar ainda mais auxílios para o Estado

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Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

As análises econômicas, em geral, estão voltadas as análises dos fenômenos que impactam a atividade econômica de um país. Fala-se muitos sobre como a política econômica dos governos, inovações tecnológicas, ritmo da produção de commodities, entre outras questões, afetam a nossa economia. Contudo, esquecemos que a cultura enraizada na sociedade é um dos fatores determinantes para compreender o sucesso e o fracasso de determinada nação.

Nesse sentido, quando consideramos o fracasso econômico do Brasil nas últimas décadas, percebe-se que a cultura da sociedade contribuiu para alcançarmos uma situação de vulnerabilidade econômica preocupante. Afinal de contas, as decisões políticas que tanto interferem em nossa economia são fruto de nossas escolhas nas urnas. O grande problema é que a nossa sociedade é movida pela cultura do privilégio. A maioria dos brasileiros busca sempre conquistar mais benefícios para sua vida, e considera o Estado como responsável por prover bens e serviços que deveriam ser adquiridos através da sua renda, conquistada com o trabalho. Queremos o assistencialismo do Estado, queremos subsídios para educação, habitação, combustíveis etc., queremos meia-entrada no cinema e no jogo de futebol, queremos aposentadoria sem contribuir o suficiente para custeá-la. Até os bilionários querem empréstimos com juros subsidiados pelo BNDES para comprar seus jatinhos. Porém, não queremos pagar por tudo isso.

A cultura do privilégio é ainda mais evidente com a elite do funcionalismo público. Membros dos cargos mais elevados do poder público possuem benefícios inimagináveis para maioria da população brasileira. Além da estabilidade de emprego, os funcionários públicos têm salários, segundo a Consultoria IDados, 87% maiores do que na iniciativa privada. Ademais, muitos recebem 14o salário e outros tantos benefícios como auxílio-moradia, auxílio-saúde, auxílio-creche, auxílio-combustível, e jantares com lagosta e vinhos premiados, entre tantos outros privilégios.

Inevitavelmente, a garantia de tantos benefícios para o cidadão privado e para os funcionários públicos depende da eleição de uma classe política que prometa a concessão de tais benefícios. Diante desse cenário, não é de se estranhar que a maioria dos vereadores e deputados do país são eleitos com o apoio de grupos de interesse (associações empresariais, sindicatos, classes profissionais, igrejas etc.) e não por compartilharem princípios e valores com seus eleitores. O único objetivo da maioria de nossos representantes é conquistar benefícios para si próprios e para sua base eleitoral.

A Constituição brasileira exemplifica perfeitamente como a cultura do privilégio distorce nossa política e economia. Em nossa Carta Magna a palavra direito aparece 76 vezes no decorrer do texto constitucional, enquanto a palavra dever aparece apenas quatro vezes. Nossos constituintes achavam que um país subdesenvolvido como o nosso poderia prover o mesmo nível de serviços públicos e de assistência social dos países escandinavos. O resultado desde então foi lastimável. Estamos entrando na quinta década de estagnação econômica, já enfrentamos uma hiperinflação, crise cambial, diversas crises econômicas e políticas e estamos a um passo de encarar uma crise fiscal sem precedentes.

Infelizmente, a cultura do privilégio é um processo que retroalimenta esse ciclo vicioso entre a economia e a política, pois, como demonstrado, os benefícios e privilégios demandados pela população fazem com a classe política irresponsável aprove medidas populistas que distorcem o funcionamento da economia e endividem o Estado. Em última análise, essas medidas deterioram ainda mais a economia do país. Logo, a população passa a demandar ainda mais auxílios para o Estado.

Para financiar todos os privilégios previstos em lei, o governo precisa dedicar grande parte de seu orçamento para setores que não são essenciais para a sociedade. Em 2019, os gastos totais do Governo Federal, de acordo com o Portal da Transparência, ultrapassaram R$ 2,6 trilhões. Destes gastos 37,63% foram destinado para o refinanciamento e serviço da dívida interna e 29,22% para previdência e assistência social. Já para saúde, segurança e defesa que são os setores que deveriam ser o foco do setor público, foram destinados apenas 10,89% do orçamento do Governo Federal. Segundo o Instituto Millenium, em 2019, os gastos com servidores públicos federais, estaduais e municipais chegaram a 13,7% do PIB, cerca de R$ 930 bilhões. Ou seja, o governo está gastando para pagar folha, pagar juros, rolar nossa dívida e manter os pagamentos de nossos pensionistas, enquanto o que é fundamental – saúde, segurança e educação – é relegado a um patamar inferior de prioridades.

Para mudar este cenário é preciso uma mudança cultura de nossa sociedade. O mundo nos mostra que os países bem-sucedidos são aqueles que valorizam a ação individual e a responsabilidade de cada cidadão. Países como os Estados Unidos, a Alemanha e o Reino Unido foram construídos a partir da livre iniciativa e a valorização do trabalho de cada indivíduo. O Estado nesses países serve para garantir os instrumentos que permitam o desenvolvimento da sociedade. A garantia da lei e da ordem, a preservação da propriedade privada, o desenvolvimento de infraestrutura pública e a oferta de uma educação de qualidade foram os fundamentos que possibilitaram estes países a prosperarem. No Brasil, temos uma estrutura de Estado muito distinta desses exemplos. Aqui o Estado serve para garantir aparentes privilégios para a população, mas que mais cedo, ou mais tarde cobrarão seu preço. Só espero que não seja muito tarde para mudarmos está realidade.


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