“Você tem cara de quem gosta de uma rapidinha”, relata aluna sobre assédio de professor da rede estadual
Alunas, ex-alunas e ex-professoras da rede estadual relatam situações de assédio em escola de Balneário Camboriú
• Atualizado

O caso de uma mulher que foi filmada por um idoso de 60 anos em uma academia de Balneário Camboriú ganhou visibilidade na última segunda-feira (6). Com a repercussão e identificação do suspeito, alunas, ex-alunas e ex-funcionárias da Escola de Educação Básica João Goulart identificaram que o mesmo homem é professor da Rede Estadual de Santa Catarina e tem comportamentos semelhantes em sala de aula.
Após a denúncia do caso da academia nas redes sociais, centenas de comentários surgiram. As mulheres descreviam os constrangimentos que já viveram em classe ou em ambiente de trabalho.
Diante disso, um grupo de estudantes criou o movimento “Escola Sem Assédio”. Segundo uma das fundadoras, que não será identificada por motivos de segurança, o projeto surge como uma rede de apoio para trazer à tona situações de importunação e assédio sexual em sala de aula, que seriam cometidos por ele desde 2010.
A equipe do SCC10 teve acesso a um documento com relatos de 15 vítimas e oito testemunhas, que vivenciaram os comportamentos invasivos do professor da Rede Estadual. Segundo o movimento, o documento foi escrito “como pedido de justiça para todas as alunas que foram vítimas e testemunhas dos assédios perpetrados por um professor”.
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Confira os principais depoimentos
Striptease pra mim?
Uma das vítimas relata que, em 2022, além de sempre direcionar comentários de cunho sexual às meninas da classe, ele “entrou na sala com o pênis ereto e se esfregou na minha carteira algumas vezes”. Ainda conta que, em outra situação, enquanto ela tirava o moletom durante a aula, ele chegou a falar “nossa, striptease pra mim? Tira, tira!”

Também em 2022, uma jovem conta que passava por situações desagradáveis quando ia mostrar o caderno a ele. “Eu ficava ao lado dele na mesa e ele ficava esfregando a perna dele na minha. Quando percebi, passei a mostrar o caderno sempre afastada”.
Convite ao quadro
Outra aluna narra que em 2021 foi chamada pelo suspeito para ir até o quadro e escrever respostas dos exercícios da disciplina. Logo depois, foi alertada por uma colega que ele havia tirado fotos dela pelo celular. Aterrorizada, contou à diretoria o que havia ocorrido, mas recebeu a resposta de que nada poderia ser feito, uma vez que o suspeito é “professor efetivo”. Ela continuou em aula com ele por mais dois anos.
Em situação semelhante, outra relatora do documento via o professor convidar as alunas ao quadro para olhá-las e também o via analisar os peitos de meninas que iam até a mesa para apresentar o caderno.
“Uma vez ele falou a seguinte frase para uma amiga minha que estudava comigo: ‘você tem cara de quem gosta de uma rapidinha’. Já tive várias crises de ansiedade por conta disso, várias amigas minhas saíram da escola por medo dele.’’
Casos já teriam acontecido em outra década
Uma ex-estudante vivenciou o assédio em 2010, em outra escola, durante os três anos do Ensino Médio. Segundo ela, o professor da Rede Estadual a chamava de burra e fazia piadas sobre o fato de a jovem ser loira. Quando se impôs contra os comentários, ele passou a persegui-la em sala de aula com piadas, pedidos para passar matéria no quadro e correções erradas de provas.
“Todas as aulas eram iguais: piadas, constrangimento. Desenvolvi uma ansiedade tão forte, que eu chegava a desmaiar. Todo dia que eu ia ter aula com ele eu passava muito mal, fui hospitalizada e comecei a tomar remédio prescrito”.
A vítima relata ainda que notava um grupo de meninas que ele “‘tratava bem’ e era nítido o assédio sexual. Em um dos episódios, ele presenteou uma delas com uma calcinha vermelha de renda”.
Colegas de trabalho
Entre as 15 vítimas do documento, também há funcionárias que reclamam do comportamento do colega de trabalho. Uma delas, que não trabalha mais na escola, descreve que chegou a ser informada e alertada por outros trabalhadores sobre a conduta do suspeito na escola.
Ela explica que na sala dos professores havia banheiros separados para uso exclusivo dos funcionários: um feminino e outro masculino. Muitas vezes, quando ela se encaminhava ao banheiro feminino, ele aparecia logo depois no mesmo ambiente.
“Tive que criar estratégias para que nada acontecesse e até evitava entrar na sala dos professores quando ele estava lá. Quando eu mexia no meu armário, ele fazia questão de passar pelo espaço estreito que sobrava para se encostar em mim, sem contar as falas maliciosas que ele dirigia a mim”.
Por medo de perder o emprego, a vítima nunca contou a ninguém sobre o ocorrido e afirma que segue insegura para falar sobre o assunto.
O que diz a Secretaria de Estado da Educação
Em comum com a maioria dos relatos das 15 vítimas e das 8 testemunhas, há a informação de que muitas reclamações dos assédios e importunações chegaram à diretoria do colégio, mas nada foi feito com relação ao suspeito.
A equipe do SCC10 procurou a Secretaria de Estado da Educação (SED) para saber sobre a conduta do professor, se há denúncias anteriores contra ele e se o caso será investigado. A instituição se manifestou por nota:
A Secretaria de Estado da Educação (SED), por meio da coordenadoria regional de Itajaí, informa que, por meio do Núcleo de Educação e Prevenção às Violências na Escola (NEPRE), está tomando todas as medidas cabíveis. Os profissionais do núcleo atuaram, junto à EEB Prof. João Goulart, na escuta a estudantes e profissionais da unidade. O referido professor está afastado das atividades por atestado médico.
A SED salienta que tomará todas as medidas necessárias visando a garantia de um ambiente seguro e saudável para toda a comunidade escolar.
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