Possíveis maus-tratos são denunciados em abrigo de idosos no Sul de Santa Catarina
Mais de dez testemunhas foram ouvidas pela polícia e pela equipe do SCC SBT.
• Atualizado
Mais de dez testemunhas foram ouvidas pela polícia e pela equipe do SCC SBT. Em comum, estão as versões do que teria ocorrido por trás dos muros do Abrigo dos Velhinhos de Tubarão, no Sul do Estado. A instituição, fundada há mais de 40 anos, atende idosos, inclusive gratuitamente, por meio de parceria com prefeituras da região.
Ex-funcionários, ex-pacientes e familiares registraram boletins de ocorrência na DPCAMI de Tubarão, a delegacia da Polícia Civil que atua na investigação de crimes contra idosos. As denúncias começaram em meados de 2020 e algumas dessas pessoas aceitaram conversar com a nossa equipe.
“Ela passava fome e sede”, diz filha de idosa
Entre as denunciantes está Sirlene Stapazol. Por determinação judicial, a mãe da operadora de caixa foi internada no abrigo. Quando entrou, em 2018, a idosa pesava cerca de 80 quilos. Já em 2021, ela chegou a 45. Uma mudança drástica que a filha acompanhava com preocupação. “O dia que eu consegui tirar a minha mãe, eu levei ela ao hospital. No prontuário o médico colocou ‘desnutrição e desidratação severa’. Isso é fome e sede, é cruel”, conta Sirlene. Dias depois de dar entrada no hospital, a idosa morreu.
Ex-funcionários e ex-pacientes relatam rotina de agressividade
“Eu vi técnica de enfermagem subir em uma idosa e bater com chinelo na cara”, a frase forte é de Jaqueline Pereira Furtado, que trabalhava nos serviços gerais da casa. Já outra ex-funcionária, Marcilene de Oliveira, diz que procurou a polícia enquanto ainda trabalhava no Abrigo. Ela registrou um boletim de ocorrência relatando o descaso no atendimento de alguns idosos, em seguida ela teria sido pressionada pela direção da instituição. “Eles me perguntavam se eu tinha mais alguma coisa pra denunciar, logo depois eu fui demitida”, conta.
As palavras são de Sara Flor da Silva, outra ex-funcinária que denuncia a situação. Sara diz que quando algum idoso apresentava sintomas de Covid-19 era separado por um biombo e que não havia condições para manter a higiene do local. Mesmo com visitas suspensas desde o início da pandemia, idosos internados acabaram morrendo por terem contraído a doença.
“Eu lembro de, pelo menos, nove mortes…teve um dia que eu tive que acompanhar um idoso ao hospital e ele morreu, quando voltei ao Abrigo outro idoso também havia morrido, ambos de covid”, relata a técnica de enfermagem.
Comissão do Idoso da OAB/SC de Tubarão questiona a investigação da Polícia Civil
A Comissão do Idosos da OAB, em Tubarão, tem questionado a conclusão do inquérito. Para a advogada Silvia Maria Raimundi De Souza, crimes foram cometidos. “Não houve maus-tratos? Diante de tantos fatos?!”, diz a advogada. A presidente da Comissão, Viviane Spoltti Ferri, pede uma investigação mais transparente. “Como uma visita de meia-hora ou uma hora vai transmitir o que se passa no Abrigo. Nós temos os relatos de mais de dez pessoas, todos nós estamos mentindo?”, finaliza a presidente.
Nós entramos em contado com Gabriela Tissot Fruet, por aplicativo de mensagens ela disse que tudo o que tinha para dizer sobre o caso estava no relatório. O Ministério Público de Santa Catarina propôs a diretora do Abrigo dos Velhinhos de Tubarão um Termo de Ajustamento de Conduta, um TAC, que foi assinado neste ano. O documento prevê a melhoria de diversos pontos para que a instituição continue atuando. O MP informou que está acompanhando o cumprimento do termo.
Confira a reportagem completa exibida no SCC Meio-Dia:
O que diz o Abrigo dos Velhinhos de Tubarão
Em nota, o advogado da instituição, Guilherme Zumblick Aguiar, disse que as denúncias são “infundadas” e já foram investigadas pela Polícia Civil. A nota reforça ainda o cunho social da entidade. Confira:
1. O Abrigo dos Velhinhos de Tubarão é uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, tendo como único objetivo o atendimento a idosos de ambos os sexos com idade igual ou superior a 60 anos em estado de abandono, com vínculos familiares rompidos ou fragilizados e economicamente carentes de toda a região.
2. Nos 58 (cinquenta e oito) anos de funcionamento, a entidade jamais teve contra si qualquer ato desabonador da sua ilibada conduta, que é NOTORIAMENTE IDÔNEA e reconhecida por todos na região.
3. Sua diretoria presta serviços de forma contínua e voluntariosa, sem nenhum tipo de remuneração.
4. O Abrigo presta serviço social único e incomparável em toda a região, considerando o respeito, qualidade, carinho e principalmente solidariedade de atendimento a todos os albergados de forma indistinta.
5. Atualmente, mantém 28 (vinte e oito) idosos, a quem fornece 5 (cinco) refeições diárias, com cardápio preparado por nutricionista, hospedagem, higiene, medicamentos, atenção e principalmente carinho aos abandonados.
6. Suas atividades são permanentemente fiscalizadas pelo Ministério Público Estadual, a quem prestamos informações, contas e ainda recebemos vistorias no mínimo uma vez a cada ano, bem como ao Conselho Municipal do Idoso.19:05
7. Há cerca de um ano, o Abrigo vem sofrendo com denúncias infundadas de maus tratos aos idosos, as quais foram objeto de complexas investigações tanto pela Delegacia de Proteção a Mulher e ao Idoso que instaurou inquérito policial esteve no Abrigo, tomou depoimentos de mais de 20 pessoas dentre as quais 15 albergados, realizou vistorias, quanto em inquéritos administrativos deflagrados pelo Ministério Público, que não identificaram qualquer indício do indevidamente alegado.
8. Essa recentíssima conclusão ocorreu em 26/04/2021, não havendo fatos novos desde então, mas o denuncismo sobre os mesmos argumentos lamentavelmente continua sendo repetido.
9. Nos dois inquéritos civis deflagrados pelo Ministério Público, foi celebrado um Termo de Ajustamento de Conduta nas poucas pendências remanescentes, das quais nenhuma diz respeito a maus tratos.
10. Informamos que o abrigo está executando projeto de reforma e melhoria de toda sua estrutura, que ainda não havia sido executado em razão da pandemia do Coronavírus.
11. Lembramos finalmente que a permanência do albergado no abrigo é voluntária e pode ser revista a qualquer tempo por qualquer familiar que poderá levar o idoso para o seu convívio e cuidados.
12. O abrigo continuará com sua missão de atender aos idosos necessitados e segregados por suas famílias, proporcionando-lhe dignidade, respeito e carinho.
Podcast “Doa a quem doer”: terceira idade e as suas necessidades
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