Ministério Público apura suspeita de exploração de pessoas em situação de rua na FenaOstra
Esquema já é investigado na Operação Presságio, da Polícia Civil – que apura suposto esquema de corrupção e crimes ambientais na Prefeitura de Florianópolis
• Atualizado
O Ministério Público de Santa Catarina, através da 30ª Promotoria de Justiça da Capital, instaurou um procedimento nesta sexta-feira (23) para investigar um suposto esquema de exploração de pessoas em situação de rua para “trabalhar” no estacionamento da Fenaostra, em Florianópolis. O esquema já é investigado na Operação Presságio, da Polícia Civil – que apura suposto esquema de corrupção e crimes ambientais na Prefeitura de Florianópolis.
“As pessoas em situação de rua teriam sido retiradas da Passarela, aliciadas num esquema envolvendo supostamente funcionários públicos e empresários, e sido levadas para trabalhar num estacionamento em situação de absoluta indignidade e também irregularidade”, explica o promotor de justiça Daniel Paladino, que categorizou a situação como “extremamente desumana e grave”.
Ao SCC10, Paladino afirmou que após tomar conhecimento sobre a suspeita oficiou as Secretarias de Assistência Social e a de Segurança Pública e o Prefeito de Florianópolis.
“Oficiamos as secretarias e o prefeito para que nos preste informações a respeito da ocorrência desse fato ou não, da recorrência dele, se foi uma situação isolada ou outras, teria envolvido também a retirada de pessoas em situação de roda, passarela e também um montante de pessoas em situação de vulnerabilidade que teriam sido vítimas dessa situação, desse ato que nós consideramos extremamente desumano e grave.
Áudios mostram conversa sobre estacionamento
O processo que fundamenta a Operação Presságio, da Polícia Civil, que o SCC10 teve acesso, mostra conversas entre Renê Raul Justino, então Diretor de Projetos da Fundação Franklin Cascaes, e Ed Pereira, então secretário de Cultura Esporte e Turismo do Município de Florianópolis. Nas mensagens, que segundo a Polícia Civil foram trocadas no dia 03 de novembro de 2023, Renê afirma que houve problema com relação a cobrança do estacionamento que estava sendo feita com máquina de cartão particular, e que a Polícia Militar inclusive teria questionado o destino do valor pago pelos usuários.
Segundo a transcrição do áudio, que constam no processo, quem cuidava do estacionamento era “todo mundo de gente de abrigo”. Confira:
Renê Justino: Outra coisa, que agora que é meio importante, que a PM acabou de sair daqui né. Cara, os cara fizeram um monte de pergunta, fiquei sem pai nem mãe, joguei pro André, não sabia o nome dele, daí o André ligou na hora, André disse ta vindo aqui, daí os caras queriam saber de quem era o estacionamento, se era particular, se era privado, se tinha maquininha, se a maquininha estava tirando o comprovante, se sai em nome da prefeitura se sai de privado, particular, ele mandou tirar cone da pista, pra deixar só um ou dois aqui. Mandou também é, diz que vai mandar pra cima para ver de quem é esse estacionamento, pra quem que tá indo, pra ver pra quem que tá arrecadando, que pode ser corrupção, e pa pa pa. Aí eu já dei um toque no André e to, já recolhi a maquininha, cara. Com certeza eles vão voltar.
Ed Pereira: Mais ontem deu quantos carros ????
Vale o risco ???
Renê Justino: Cara de verdade acho que não vale, ontem deu movimento de dois pila e pouco. É, Kleber chegou, Andrezão sumiu, foi fazer as paradas dele que tinha pra fazer na passarela, voltou só depois. Quem tava cuidando dos carros cara, era todo mundo de gente de abrigo, os cara estavam ali no albergue, não acho que vale a pena não.
No processo, a Polícia Civil afirma: “a conversa é autoexplicativa, mas, merece destaque que o controle
de acesso e cobrança do estacionamento clandestino estava sendo realizado por moradores de rua, que pernoitavam no abrigo, e o recolhimento dos valores feitos por meio de terminal de processamento de dados de cartões de créditos em nome de um dos integrantes da organização criminosa”. Ainda segundo a Civil, não foi possível, até o momento, confirmar a titularidade da conta vinculada à maquina de cartão de crédito, mas que fica “subentendido que estaria vinculado a conta de Renê Raul Justino”.
A Prefeitura de Florianópolis afirmou que está investigando o caso em conjunto com a Polícia Civil. Já Renê Justino afirmou ainda não ser o momento de me pronunciar. “Vou me pronunciar de acordo com a justiça e quando for chamado. Nunca fui um cara público ou de mídia, continuarei assim”, disse ao SCC10. Procurado, Ed Pereira visualizou a mensagem e não retornou contato. O espaço segue aberto.
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