‘Desfigurada e sozinha’: falsa biomédica é denunciada por mais de 30 mulheres em SC
Mulher se passava por profissional da biomedicina para oferecer procedimentos estéticos em salão de beleza. Conselho confirmou ausência de registro, e vítimas formaram grupo com mais de 30 integrantes.
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Mais de 30 mulheres denunciaram ter sido vítimas de complicações graves após se submeterem a procedimentos estéticos realizados por uma mulher que se apresentava como biomédica, em São José, na Grande Florianopolis, em Santa Catarina.
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Os relatos começaram a vir à tona após a jovem Vitória Tavares Nogueira, moradora de São José, expor nas redes sociais o que enfrentou após um preenchimento labial feito por Suelem Damasceno da Silva.
As vítimas afirmam que Suelem se apresentava como profissional da Biomedicina Estética e atuava em um salão de beleza.
No entanto, após procurarem o Conselho Regional de Biomedicina de Santa Catarina (CRBM-SC), receberam a confirmação, Suelem não possui registro profissional nem formação na área. Diante disso, boletins de ocorrência foram registrados na Polícia Civil, e as denúncias foram formalizadas junto ao CRBM.
“Fiquei com o rosto deformado por quase cinco meses“, diz Vitória.
Vitória Tavares foi uma das primeiras a denunciar publicamente o caso. Ela conta que conheceu Suelem em um salão de beleza, onde estava fazendo o cabelo, e ouviu a profissional oferecendo um procedimento de preenchimento labial por R$ 1 mil, como parte de uma suposta promoção para o Dia das Mulheres.
“Já acompanhava o trabalho dela no Instagram e achava os resultados promissores. Agendei o procedimento naquele mesmo dia”, conta.
O que parecia ser apenas uma mudança estética se transformou em um pesadelo. Poucas horas após o procedimento, os lábios de Vitória incharam de forma acentuada.
“O inchaço foi tão grande que fiquei quatro meses e meio com o rosto deformado. Tive reações alérgicas, manchas no rosto, pescoço e barriga, e precisei tomar quatro cartelas de corticoide, sob orientação dela”, relata.
Vitória afirma que em momento algum foi apresentada ao produto utilizado no preenchimento. Suelem alegava usar materiais da marca Renova, que, segundo a vítima, exige comprovação profissional para venda.
“Ela dizia que eu era a primeira paciente a ter aquela reação. Parecia insegura, não sabia explicar direito. Eu ainda achava que o problema era só comigo, até começar a descobrir outras vítimas”, lembra.
A gerente afirma que procurou atendimento médico e foi até a UPA, onde uma médica apontou ligação entre as reações e o procedimento estético.
Vitória foi encaminhada para avaliação na UFSC, mas optou por um tratamento natural com ajuda de uma familiar técnica de enfermagem.
“Fiquei deformada, sem autoestima, com dor e vergonha. Isso abala não só o físico, mas o psicológico”, desabafa.
Falsa biomédica fez mais de 30 vítimas
Depois de compartilhar sua experiência, Vitória foi procurada por dezenas de outras mulheres com relatos semelhantes. Entre elas está Giezica Muller, que passou por um preenchimento nos glúteos. O procedimento deu errado, e Giezica precisou ser internada por complicações graves.
Segundo as vítimas, há um grupo no WhatsApp com mais de 30 mulheres que relataram reações adversas, inflamações e até necessidade de procedimentos corretivos. Todas as vítimas já fizeram denúncias formais.
A advogada Bruna Vaz Pires, que representa as vítimas, afirma que já identificou 33 mulheres afetadas. Ela destaca que Suelem não possui formação técnica nem registro no CRBM, e que os produtos usados são de procedência desconhecida, o que configura risco grave à saúde.
“A conduta investigada pode configurar crimes como exercício ilegal da profissão, lesão corporal, falsidade ideológica e estelionato. Já estamos encaminhando o caso ao Ministério Público e ao Judiciário com urgência”, destaca a advogada.
Bruna também alerta para a importância de checar a habilitação profissional antes de qualquer procedimento estético invasivo:
“É essencial confirmar se o profissional possui formação adequada, registro ativo no conselho da área e responsabilidade técnica. Infelizmente, a banalização desses serviços vem gerando episódios como este.”
Conselho confirma: Suelem não é biomédica
Em resposta formal encaminhada às vítimas, o Conselho Regional de Biomedicina da 5ª Região (CRBM-5) confirmou que Suelem Damasceno da Silva não possui registro ativo nem formação reconhecida na área da Biomedicina.
A denúncia está sendo apurada pelas autoridades. A Polícia Civil instaurou inquérito e deve ouvir outras vítimas nos próximos dias. As imagens dos procedimentos e os laudos médicos já foram anexados às investigações. A advogada reforça que vítimas que ainda não se manifestaram devem procurar o CRBM ou registrar boletim de ocorrência na delegacia mais próxima. O anonimato pode ser preservado mediante solicitação.
Procurada pela reportagem, Suelem Damasceno ainda não se manifestou até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto para posicionamento.
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