Jovem relata assédio de servidor da UFSC: “me perguntou se eu engravidava”
O suspeito se aproveitava do acesso aos contatos para abordar as jovens com mensagens obscenas
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Uma das jovens que denunciou assédio de um servidor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no campus de Blumenau, conversou com a reportagem do SCC10 sobre como o homem abordava as meninas e falava termos de cunho sexual. Ele se aproveitava do acesso que tinha aos dados das estudantes para enviar as mensagens.
Conforme a estudante, o servidor entrou em contato com ela por WhatsApp em 2022. “Antes disso, uns dois meses antes, ele já havia mandado essa mesma mensagem para uma amiga. Ela enviou print da conversa em grupo de amigas”, relata a jovem.
O servidor falava para as jovens que trabalhava no sistema de estágios da universidade. “A princípio quando ele mandou a mensagem para minha amiga eu achei que ele realmente estava perguntando sobre o sistema do estágio e depois tentou puxar assunto de uma maneira meio torta. Só que quando ele também me mandou a mesma mensagem percebi que era um comportamento estranho”, relata a estudante.
Após ser abordada, a jovem questionou em um grupo de garotas da universidade se mais alguma pessoa havia recebido o mesmo tipo de mensagem. “Eu perguntei se mais alguém tinha recebido mensagens dele, e aí começou a chover relatos”, lembra.
A plataforma é utilizada pelos universitários para atualizar as informações pessoais no início dos semestres, inserindo o currículo, para conseguir um estágio. Na época, o sistema era muito utilizado pelos estudantes. Contudo, segundo o servidor, que era responsável pela plataforma, o sistema estava em desuso.
Após ver no site quem era o verdadeiro responsável pelo sistema, a jovem questionou o servidor, informando o nome de quem cuidava da plataforma, após isso, o homem começou a falar coisas obscenas.
“Ele me perguntou se eu ainda engravidava”, desabafa. Conforme a estudante, ele falava que havia feito sexo oral e que estava bêbado. A vítima ignorou as mensagens e diz que por isso ele não voltou a insistir. A abordagem do servidor a outras estudantes chegou a ser mais obscena e invasiva, utilizando ofensas, relata a jovem.
Confira a reportagem
Veja as mensagens que o servidor enviava
As capturas de tela mostram algumas das mensagens que o homem enviava às jovens. Alguns termos foram suprimidos por conta do teor obsceno das falas. As estudantes identificaram o mesmo modus operandi do suspeito nas abordagens.
Universidade ouviu suspeito e vítimas
A estudante conta que após o grupo perceber que o homem usava a mesma abordagem com todas as vítimas, denúncias foram feitas a administração da UFSC. A universidade promoveu uma audiência que ouviu as vítimas. “Basicamente quem estava nos perguntando pedia como foi como a gente se sentiu”, conta. O servidor também participou da audiência, que foi feita pela internet.
A universitária diz que optou por não registrar um Boletim de Ocorrência (BO) contra o homem, mas que outras colegas que também denunciaram o assédio fizeram o registro.
Servidor pode ser punido
A UFSC informou que o servidor suspeito por assédio já foi afastado do trabalho pelo tempo máximo permitido, para a apuração do caso. Ele já voltou ao trabalho e cumpre expediente normalmente. Agora, o Processo Administrativo Disciplinar (PAD) aberto pela corregedoria da universidade após as denúncias está em fase final de julgamento.
“O trabalho da comissão já foi finalizado, estando atualmente em fase final de julgamento na Reitoria da UFSC, em Florianópolis. Por tratar-se de um processo que corre em sigilo, a Direção do Campus de Blumenau não tem acesso ao relatório final”, informou a universidade em nota.
A reportagem entrou em contato com a assessoria da Polícia Civil de Santa Catarina (PCSC) e aguarda retorno sobre a situação das denúncias registradas pelas estudantes em Boletim de Ocorrência.
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20 estudantes da UFSC Blumenau denunciam assédio por parte de servidor da universidade
Nesta semana, 20 estudantes da UFSC Blumenau denunciaram um caso de assédio e importunação sexual por parte de um servidor da universidade. O caso está repercutindo e gerando revolta.
Uma das vítimas, confirmou o fato em uma publicação no Twitter:
“Passando pra falar sobre o caso de importunação sexual que acontece dentro da UFSC por um servidor que serve trabalhando na instituição. Eu fui uma das vítimas, participei da audiência “cara a cara”, mas ele não me falou nada depois do meu depoimento”, disse.
Segundo informações obtidas na UFSC Blumenau pelo repórter do SCC SBT, Paulo Cezar, o procedimento administrativo disciplinar da universidade (Pad) foi aberto no ano passado. Inicialmente, o servidor chegou a ser afastado por 60 dias para não atrapalhar as investigações.
A comissão do Pad pediu a prorrogação dos 60 dias e o servidor permaneceu afastado em torno de 120 dias – tempo máximo de afastamento que o estatuto do servidor permite.
Atualmente, ele segue trabalhando normalmente e está aguardando a decisão final, que pode ser uma advertência, suspensão ou exoneração da instituição. O parecer final da comissão foi entregue ao reitor.
Nas redes sociais, o Deputado Estadual de Santa Catarina, Egidio Ferrari, prestou apoio às vítimas. Ele afirmou que está levantando informações e colocando o gabinete à disposição para ajudar.
“Vou trabalhar para pôr um ponto final nesta história, para que ninguém precise passar por isso novamente. Vamos pra cima”, disse.
O Portal SCC10 entrou em contato com a Universidade Federal de Santa Catarina que se manifestou por meio de nota.
Veja o posicionamento da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sobre o caso
Em atenção à reportagem veiculada na data de hoje pelo jornal O Município Blumenau, o Campus de Blumenau da UFSC tem a informar:
A Universidade Federal de Santa Catarina tem entre seus valores a construção de relações sociais harmônicas, o que implica seu compromisso com políticas de enfrentamento a todas as formas de violência, em especial a violência contra mulheres e grupos vulneráveis.
Ao tomar conhecimento das denúncias, a Direção do Campus de Blumenau realizou todos os procedimentos administrativos previstos em nossos estatutos e baseados em leis:
• Encaminhar para a Corregedoria-Geral da UFSC e para a Comissão de Ética;
• Oferecer acolhimento psicológico por meio de profissionais de saúde da UFSC;
• Orientar as denunciantes que elas poderiam registrar boletim de ocorrência, considerando que as ações podem ser apuradas nas esferas administrativa e judicial (penal) de forma independente.
No que tange à esfera administrativa, a qual compete à UFSC, a corregedoria efetuou a abertura de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD). A comissão do PAD decidiu pelo afastamento preventivo do servidor por 60 dias, prorrogados por mais 60 dias – o período máximo permitido pela Lei 8112/90, o que não configura férias remuneradas. O trabalho da comissão já foi finalizado, estando atualmente em fase final de julgamento na Reitoria da UFSC, em Florianópolis. Por tratar-se de um processo que corre em sigilo, a Direção do Campus de Blumenau não tem acesso ao relatório final. Por fim, ressaltamos que a Direção do Campus não tem a prerrogativa legal de aplicar penalidades a um servidor público. Tal ato compete unicamente ao reitor da UFSC.
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