Boate Kiss: primeiro dia de júri popular tem choro e falas de vítimas
Um dos réus passou mal e precisou de atendimento médico. Duas sobreviventes falaram no primeiro dia
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O primeiro dia do júri do caso da Boate Kiss teve choro de réu e de sobrevivente. Logo ao chegar ao fórum de Porto Alegre, na manhã desta quarta-feira (1º), um dos acusados, Luciano Bonilha Leão, ex-produtor da banda Gurizada Fandangueira, gritou: “Eu não sou assassino!” Ele chorou, foi amparado pelos advogados e precisou ser atendido por médicos do Tribunal de Justiça.
Os outros três réus — os ex-sócios da boate, Elissando Spohr e Mauro Hoffmann, e o músico da banda, Marcelo Jesus dos Santos — ingressaram no prédio em silêncio. O júri foi transferido para Porto Alegre a pedido das defesas dos réus. Os advogados alegaram que, se ocorresse em Santa Maria, teria jurados de uma comunidade impactada diretamente pelo incêndio.
A manhã foi dedicada ao sorteio, entre moradores da capital, dos sete jurados que compõem o Conselho de Setença e vão determinar se os quatro réus são culpados ou inocentes pelas 242 mortes e 636 tentativas de homicídio — número dos que sobreviveram ao incêndio, na noite de 27 de janeiro de 2013. São seis homens e uma mulher. Eles ficarão confinados em um hotel ao longo do julgamento, que pode durar até duas semanas. O juiz Orlando Faccini Neto orientou que os jurados podem conversar entre si, mas não sobre o processo. Eles também podem, em caso de urgência, ligar para parentes, acompanhados pelo oficial de justiça responsável.
A primeira pessoa a ser ouvida foi a sobrevivente Kátia Giane Pacheco, ex-funcionária da boate, que tinha 21 anos na época da tragédia. Ela teve 40% do corpo queimado e deu detalhes sobre o incêndio, ao longo de quatro horas. “Teve duas pessoas que tentaram me tirar lá de dentro, porque tinha gente em cima de mim. Na hora, eles tentaram me levar e não conseguiram. Eu simplesmente me agarrei nas pernas de uma das pessoas de um jeito que ele — ele ou ela, não sei — não conseguia se mover. Daí foi quando fizeram força para me puxar”, declarou.
Segundo ela, era frequente o uso de artefatos pirotécnicos e a boate estava sempre lotada. “Quanto mais gente tivesse dentro da boate, melhor (para os proprietários)”, explicou. Questionada pela promotora Lúcia Helena de Lima Callegari, a sobrevivente disse ter ouvido de ex-colegas que extintores não estavam no local certo para não atrapalhar as fotos dos frequentadores da boate. A promotora mostrou à vítima um cartaz da banda Gurizada Fandangueira com montagem que mesclava a foto dos integrantes com chamas, sugerindo o uso de artefatos nos shows.
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Uma segunda vítima, Kelen Ferreira, começou a falar à noite. Ela era frequentadora da boate, sofreu queimaduras e teve uma das pernas amputadas. Outra sobrevivente estava listada para depor neste primeiro dia, mas ficou para a sessão seguinte. A expectativa é ouvir cinco vítimas nesta quinta-feira (2). No total, 14 pessoas que estavam na boate estão previstas para prestar depoimento. Depois, 19 testemunhas serão chamadas; primeiro, as de acusação, em seguida, as de defesa. Só ao final os quatro réus serão interrogados.
Familiares das vítimas acompanharam o primeiro dia de júri dentro e fora do fórum. Ao lado do prédio, foi instalada uma tenda para abrigá-los. Dentro do fórum, os parentes acompanham o julgamento ao vivo nos 68 lugares reservados a eles no salão do júri, e por telões, em quatro salas com 216 lugares. Uma vaquinha virtual foi feita para ajudar a manter os pais em Porto Alegre durante o júri. “Em função da pandemia, as pessoas estão desempregadas, sem dinheiro, e não teriam condições de estar aqui”, disse Mara Dal Forno, mãe de uma vítima.
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