Barragem Oeste tem pouca influência para Blumenau, explica ex-secretário da Defesa Civil
Surgiram dúvidas sobre o papel e a segurança dessas estruturas de controle de cheias
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Após um apelo do prefeito de Taió, no Vale do Itajaí, pela abertura das comportas da barragem do Oeste, surgiram dúvidas sobre o papel e a segurança dessas estruturas de controle de cheias aqui no Estado. O SCC SBT conversou com o ex-secretário da Defesa Civil de Santa Catarina, Rodrigo Moratelli, sobre o trabalho do órgão e as decisões tomadas nesta que é a maior enchente da história de Taió.
Veja as barragens na região do Vale do Itajaí no vídeo:
Confira entrevista:
Qual a função de cada uma das barragens no Vale do Itajaí?
As barragens foram construídas pra que a gente possa controlar o nível das cheias no Rio Itajaí-Açu. No caso da barragem Oeste, ela controla as cheias do Rio Itajaí do Oeste, que compreende os municípios de Taió e Rio do Sul , já a barragem Sul e a localizada na cidade de Ituporanga, faz o controle de cheias do município de Ituporanga, Aurora, Rio do Sul e de Rio do Sul. A contribuição vai tanto pro Médio Vale quanto pra fora, como na reserva indígena. Tudo isso colabora com os municípios de Presidente Getúlio, Ibirama e, assim, vai descendo no Médio Vale, onde tem a principal cidade que é Blumenau, mas também gera efeitos positivos pra Timbó, Indaial, Gaspar e Ilhota, chegando a foz lá em Itajaí.
E como é o funcionamento dessas barragens? Quais os critérios de abertura ou fechamento das comportas?
A Defesa Civil tem protocolos de operação das barragens. Esses protocolos visam manter a operação dentro dos estágios que a inundação vem ocorrendo em cada região. Os protocolos da barragem Oeste, barragem Sul e a barragem Norte, por exemplo, eles precisam se conversar, já que dependendo do local da inundação, existem operações diferentes. Além disso, o Estado opera algumas decisões também. Afinal, o objetivo sempre é acertar o maior número possível.
É como se fosse uma operação em unidade?
Se chover mais do que o previsto, ela vai chegar a um certo aumento, já que ela não tem mais uma eficiência. Vale ressaltar que quando a barragem está vertendo, ela está fazendo o seu papel de reter a água e diminuir a inundação. Porém, existe um sentimento da população de que a barragem, quando isso ocorre, está perdendo a sua operação. O que não é verdade.
Uma barragem vertendo não é uma situação de risco?
Não. Inclusive o plano de operação das comportas busca manter a integridade do local. Então, quando necessário se abre uma, duas ou três comportas para que diminua o voluma de altura no bebedouro, mantendo a integridade física do barramento.
Numa comporta que já está vertendo, qual a diferença abrir uma ou duas comportas?
Nós vamos liberando o volume determinado que ela tem em cada comporta. Se não me engano são 35 metros cúbicos por segundo, como ocorre com a comporta de Taió. Eu não tenho dado bem certinho na cabeça agora, tá? Mas enquanto o vertedor de Taió, por exemplo, tem um metro de vencimento, ele vai até 75 metros cúbicos por segundo.
Então, se você acelera o processo de escoamento da barraca, o objetivo é manter a integridade física dos barramentos ou acelerar o processo de esvaziamento pra que você possa segurar uma próxima chuva que está vindo, que é o caso do pedido do prefeito da cidade. Hoje, em Taió, estamos com quatro comportas abertas.
Abrir ou fechar as comportas em Taió interfere numa possível enchente em Blumenau?
Nós estamos com uma enchente histórica em Taió e não estamos com essa enchente em Rio do Sul. Como isso explica? Bom, isso ocorre conforme o comportamento da chuva e o local onde ela tem maior intensidade. Se a chuva for muito mais forte abaixo dos barramentos das barragens ou dos rios que vão se juntando ao Rio Itajaí-Açu pelo caminho, certamente vamos ter uma enchente em Rio do Sul ou em Blumenau.
A chuva que deu agora, por exemplo, ela deu muito na calha norte e na calha oeste. Por isso que a barragem de José Boiteux quando foi fechada no domingo, ela encheu tão rápido. Tinha muita quantidade de água dentro daquela barragem que foi represada. Agora, por exemplo, ela está com 70%.
Muito da chuva que foi nas cabeceiras de Rio do Campo, Santa Terezinha, Salete e Mirim Doce veio as contribuir com essa inundação mais brusca em Taió. Isso é muito dinâmico, por isso que não podemos usar um procedimento único, pois conforme a chuva vai tendo sua evolução, vai criando os contra para poder reduzir o pico da inundação.
Pico esse que é danoso, principalmente quando alcança o máximo de elevação. Logo, se você consegue cortar esse pico e estender o tempo de inundação, consegue ter menos pessoas atingidas.
A barragem de Taió fica acima da cidade, ou seja, a água vai descer e passar pelo município. O que pode acontecer?
A água passa pela cidade, eleva momentaneamente o nível, mas o objetivo é que a barragem pare. Por isso, devia ter um tempo reservação. Nas pesquisas é possível perceber que a chuva vai cair de forma não uniforme, o que pode gerar mais água na calha sul, na calha norte e oeste. Nesse momento que vamos saber o resultado que tudo isso vai gerar dentro da bacia.
Então para Blumenau, a barragem de Timbó não faria muita diferença?
Sobre Blumenau, pouca variação vai ter para a cidade. Blumenau tem um rio que quando chega numa cota de emergência, ele tem praticamente cinco mil metros cúbicos de vazão. E hoje, aqui em Rio do Sul, nós estamos com entorno de dois mil metros cúbicos. Por isso, a água que está chegando em Blumenau está contribuindo com um pouco mais de vinte, trinta centímetros.
É todo o contexto hídrico abaixo dos barramentos que vai gerar uma enchente em Blumenau. Se chover muito em Rio do Sul, em Ibirama, Apiúna, a região de Timbó, Rio dos Cedros, nós vamos ter um problema em Blumenau.
Mas, se chover muito aqui em cima, o próprio retardamento da água que ocorre dentro da bacia do Alto Vale já diminui a influência em Blumenau. Diferente de ter barragem ou não, existe um retardamento em cada platô de inundação.
O fechamento das comportas em José Boiteux então realmente fez diferença para Blumenau?
Sim! É só olhar o número que Blumenau tinha de alerta e cota prevista de inundação, após o começo do fechamento, os valores foram retidos.
Quais as diferenças dentro do Vale do Itajaí?
Nós estamos dentro da baia do Rio Itajaí do Oeste tentando explicar pra população da maneira mais simples. Quem mora no Alto Vale entende do Alto Vale, quem mora no Médio Vale entende do Médio Vale, quem mora em Itajaí entende Itajaí. Então, dependendo da onde você tem informação, você tem as compreensões.
No Alto Vale todo mundo conhece que a região do Rio de Itajaí do Sul é uma região de água rápida. Até pelo tipo de cultura que é plantada ali. Ali se planta cebola, são colheitas que não alagadas. Então, nós temos o rio mais retinho, ele vai acompanhando a SC-350 e vem rápido a Rio do Sul, com uma queda de 34 metros.
Quando a gente vai pra bacia do Rio Itajaí do Oeste, a gente já tem uma bacia muito maior e com muito mais deposição de água. E isso já dá pra perceber inclusive pela agricultura, onde há agricultura de água e o grande produtor de arroz na região. Arroz precisa de água. Então, quando você olha aqui do Rio Itajaí do Oeste pensando em Rio do Sul até Taió, você tem uma queda só de oito metros até a barragem.
Em bacia extensa, por exemplo, uma queda pequena onde você tem uma chuva, consequentemente vai ter uma de valor, de volume de água muito maior do que a barragem e do que a Bacia do Vale Sul.
Você tem um grande vale e começa lá em cima em Itaiópolis, Santa Terezinha, tanto que essa barragem tem 350 milhões de metros cúbicos de água, que representa muito. É a maior barragem de contenção de cheias do país. Então isso faz com que o o circuito do Médio Vale receba uma um controle muito grande, reduzindo os picos de inundação.
As barragens são seguras?
Eu acho que uma coisa importante é que a integridade desse barramento foi superdimensionada. São barragens muito fortes, todas construídas praticamente em pedra de terra compactada. Ainda, não são barragens que ficam constantemente cheias, então, são equipamentos seguros. A população pode ficar tranquila que as barragens cumprem o papel.
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