Após 20 horas de julgamento, irmãos acusados de matar e esconder corpo de adolescente são condenados em SC
A jovem de 14 foi amarrada em uma árvore e estrangulada até a morte
• Atualizado
Após 20 horas de julgamento, o Ministério Público obteve a condenação dos dois irmãos pela morte de Ana Kemilli, de 14 anos, assassinada em 2021, na Serra Catarinense.
Os jurados acolheram a denúncia do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), reconhecendo que o homem de 23 anos e a mulher de 20 anos planejaram e executaram o homicídio, que terminou com a vítima amarrada em uma árvore e coberta por folhas em uma região de mata. Eles tiveram a ajuda de um adolescente para cometer o crime.
O homem foi condenado há 23 anos e 6 meses de reclusão em regime inicial fechado por homicídio com quatro qualificadoras (feminicídio, motivo torpe, emprego de recurso que dificultou a defesa e meio cruel), ocultação de cadáver e corrupção de menor. Após o veredito, ele retornou à Penitenciária de Curitibanos, onde já estava preso preventivamente.
A mulher, por sua vez, foi sentenciada a seis anos de reclusão por homicídio simples. Ela ganhou o direito de recorrer em liberdade. Os nomes dos réus e da vítima não são citados pois o processo tramita em segredo de justiça.
O julgamento aconteceu na Câmara de Vereadores de Campo Belo do Sul, das 9h de terça-feira (27) às 5h de quarta-feira (28). A acusação foi conduzida pela Promotora de Justiça Cassilda Santiago Dallagnolo e pelo membro do Grupo de Atuação Especial do Tribunal do Júri (GEJURI), Promotor de Justiça Ricardo Paladino.
A comunidade compareceu em peso ao local para acompanhar o desfecho do caso. Algumas pessoas tiveram que ficar do lado de fora devido a limitação do espaço. Familiares e amigos mais próximos da vítima usaram uma camiseta com a foto dela e a frase “violência contra a mulher não tem desculpa, tem lei”.
O Policial Civil que conduziu as investigações, Paulo Sérgio Ramos Batista, foi o primeiro a testemunhar. Durante mais de duas horas, ele apresentou um relatório completo com as provas coletadas ao longo do processo e disse não ter dúvidas quanto a participação dos irmãos no crime.
A mãe da vítima, Keli Taques, relembrou os fatos e desabafou: “Tiraram uma parte de mim. Minha alegria se foi para sempre. Aquele dia fica martelando na cabeça o tempo todo. É impossível esquecer”, disse ela, aos prantos.
O pai, Valdir Krindges, falou sobre a angústia vivida enquanto procurava pela filha e pediu por Justiça:
“Mataram minha menina de forma covarde. Todos os dias tento encontrar forças para seguir em frente, e espero que eles peguem pelo que fizeram”.
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Entenda o caso
Entre 2018 e 2019, Ana Kemilli era namorada de um dos acusados, e cunhada da irmã do réu. Com o fim do relacionamento se afastou de ambos. O homem, não aceitou o término e passou a pressionar a adolescente, rondando a casa dela com um revólver e enviando-lhe mensagens ameaçadoras pelo WhatsApp.
Segundo a acusação, o desejo obsessivo somado às respostas negativas motivou o crime. O homem teria planejado e executado o homicídio em 8 de fevereiro de 2021, com a ajuda da irmã e de um adolescente.
O dia do crime
Parecia só mais uma segunda-feira de verão no Assentamento 17 de Abril. Naquele dia, a mulher foi até a casa de Ana Kemilli com o pretexto de conhecer seu irmãozinho. No final da tarde ela pediu para a adolescente acompanhá-la em parte do trajeto de volta. Ambas caminharam juntas por cerca de 800 metros, então se despediram.
A vítima retornava para casa, mas foi abordada por um adolescente e convencida a caminhar até uma área de vegetação. O ex-namorado a esperava escondido. A adolescente foi levada à força mata adentro, amarrada em uma árvore e estrangulada até a morte. O corpo foi encontrado dois dias depois por moradores do assentamento, coberto por folhas, após intensas buscas envolvendo amigos, familiares e órgãos de segurança.
A Polícia Civil iniciou as investigações, e dias depois o adolescente assumiu o crime, mas os elementos coletados indicaram o envolvimento de pelo menos mais uma pessoa. O homem foi preso preventivamente em 17 de junho de 2021 e desde então está no Presídio Masculino de Lages, à disposição da Justiça. A irmã foi indiciada por participação no crime.
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