Apologia ao nazismo é investigada em SC e em colégio de elite em SP
Denúncias de crimes de ódio, como o racismo, são cada vez mais comuns no país
• Atualizado
Casos de apologia ao nazismo envolvendo estudantes foram registrados na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e de um dos colégios mais caros de São Paulo.
Um discurso perigoso que estimula crimes de ódio em um país já tão violento para minorias sociais. Em apenas seis meses, por exemplo, o disque 100 recebeu quase 80 mil denúncias de racismo contra negros.
Era noite numa das avenidas símbolo da riqueza de São Paulo, quando a analista de comunicação Gabriela Moreira saía da empresa onde trabalha, chamou um carro de aplicativo, e quando o motorista chegou, ele se recusou a levá-la.
“Ele parou na frente do prédio, baixou o vidro e falou ‘você é negra, eu não vou pegar você’ e saiu”, conta Gabriela.
Nesta semana, ela fazia depilação quando escutou gritos também de uma motorista de aplicativo que a havia levado ao local e que tinha sido paga com Pix, mas achava que não. “Ela não me pagou, ela não me pagou, essa preta imunda”, teria gritado a mulher.
Gabriela denunciou tudo às empresas de aplicativo e até agora, nada. A verdade é que, desde criança, ela sabe o que é racismo: “a gente perde o nosso papel de pertencimento no mundo, a gente questiona cada ponto da nossa existência, do nosso cabelo, do nosso físico, do jeito que a gente fala, onde a gente mora”.
A Secretaria de Justiça e Cidadania do estado de São Paulo registrou 317 denúncias de preconceito racial. É mais que em todo o ano passado e muito mais que em 2020.
O racismo é um crime de ódio, assim como a discriminação e preconceito por etnia, religião, procedência nacional. Não atinge apenas a pessoa contra quem é praticado, mas a dignidade humana e a toda a sociedade. É violento, extremamente grave e cada vez mais evidente em nosso país.
“Você pode criticar, você pode divergir, mas não pode ofender. Discurso de ódio é crime, a gente tem um limite aí na liberdade de expressão porque, no direito, a gente fala que ‘não existem direitos absolutos’, que no popular é ‘o meu direito termina onde o do outro começa'”, afirma Irapuã Santana, presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB-SP.
Acontece nos ambientes onde menos se espera. Esta semana, a mãe de dois estudantes do colégio alemão Porto Seguro, um dos mais caros de são paulo, exibiu as mensagens de um grupo de Whatsapp onde alunos escreveram, após o término das eleições de domingo, frases como: “quero que estes nordestinos morram de sede”, “sou pró-reescravização do nordeste”.
“Eu comecei a ver um monte de figurinha fazendo apologia ao nazismo, com fotos do Hitler, suástica, até posts gordofóbicos, racistas, várias coisas”, conta Antonio Biebie, de 15 anos.
Não foi o primeiro caso de discriminação que vitimou a família no ambiente escolar. “A Tayla, a minha filha mais nova, já havia sofrido pelo menos seis situações de racismo nessa mesma escola, e por ser uma mulher preta, ela sempre me contava chorando e me pedindo para que eu não fizesse nada: ‘mamãe, a menina me chamou de escrava, mas, por favor, não fala nada na diretoria'”, conta a mãe, Thais Cremasco.
Procurado, o Colégio Visconde de Porto Seguro disse que aplicou sanções disciplinares aos alunos que fizeram apologia ao nazismo — que inclui o desligamento imediato da instituição. Rforçou, ainda, que repudia qualquer forma de discriminação e que reforçará as práticas antirracistas em todas as unidades.
Em Santa Catarina, a polícia investiga uma célula neonazista na Universidade Federal, onde circulou uma carta pregando ódio a gays, negros, asiáticos, gordos e feministas. Na assinatura, SS, a abreviatura da polícia nazista de Adolf Hitler. Num banheiro, foi pichada uma suástica.
“Não vamos tolerar nenhuma forma de discriminação e vamos dar uma resposta precisa e os encaminhamentos necessários para que a universidade siga num ambiente de paz”, afirma o reitor, Irineu Manoel de Souza.
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