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Cérebro

‘Pensar demais’ pode aumentar taxa de substância tóxica no cérebro, diz estudo

A substância se trata do glutamato, principal neurotransmissor excitativo do cérebro

• Atualizado

Estadão Conteúdo

Por Estadão Conteúdo

Imagem Ilustrativa. Foto: Banco de Imagens
Imagem Ilustrativa. Foto: Banco de Imagens

Você provavelmente já se viu nessa situação. Largado no sofá, após um longo e cansativo dia de trabalho, no qual teve de “pensar demais”. Não quer se concentrar em mais nada, namora o aplicativo de delivery ou navega sem rumo pelas redes sociais. Mas por quê? Em estudo publicado na revista científica Current Biology, pesquisadores franceses sugerem que isso está relacionado “à necessidade de reciclagem de substâncias potencialmente tóxicas acumuladas durante o exercício do controle cognitivo”. A substância em questão se trata do glutamato, principal neurotransmissor excitativo do cérebro, que desempenha papel importante em aprendizado e memória.

Conforme a pesquisa, a substância se acumula em “condições estressantes” ou “com demandas crescentes de tarefas”. “O problema com concentrações muito altas de glutamato extracelular (fora da célula) não é apenas a ruptura do equilíbrio excitação/inibição, mas também a indução de bursts (explosões) de ativação, que podem prejudicar a transmissão de informações e causar excitotoxicidade (que pode causar morte ou lesão neural) nos casos mais graves”, escrevem.

Para a revista científica Science, o autor principal do estudo, Antonius Weihler, psiquiatra do GHU Paris Psychiatry and Neurosciences, falou que a ciência ainda está longe de poder dizer que “trabalhar duro mentalmente causa um acúmulo tóxico de glutamato no cérebro”. À outra publicação científica, a Nature, ele explicou que quer usar os resultados para aprender como se recuperar da exaustão mental. “O sono ajuda? De quanto tempo as pausas precisam ser para ter um efeito positivo?”

Fadiga

Para testar essa hipótese metabólica da fadiga cognitiva, os cientistas analisaram 40 pessoas divididas em dois grupos, executando tarefas cognitivas por cerca de seis horas. Parte fazia atividades mais complexas e os outros, tarefas consideradas mais simples.

Após blocos de atividades, os participantes tinham de fazer quatro escolhas econômicas, associadas a recompensas monetárias. Elas serviram para análise da fadiga. Isso porque os maiores valores eram associados a demandas de alto esforço – pensar ou se exercitar fisicamente, por exemplo – e a um maior tempo para recebê-la – atraso no recebimento.

Enquanto se faziam essas escolhas, os cientistas analisavam os níveis de glutamato no córtex pré-frontal lateral, por meio de ressonância magnética. A região cerebral está envolvida na tomada de decisões e na regulação emocional – é uma das últimas do cérebro a se desenvolver e tem maturação importante na adolescência. E também faziam um rastreamento ocular para observar a dilatação da pupila, que, segundo eles, já “foi validada como um índice de esforço cognitivo”.

Os pesquisadores descobriram que o grupo que fez tarefas mais complexas apresentava “alto nível” de glutamato no córtex pré-frontal lateral, e uma redução de dilatação da pupila na hora de fazer as escolhas econômicas. Ao contrário daqueles que fizeram atividades mais simples, que preferiram opções imediatas de recompensa que envolviam menos esforço, mesmo que, no longo prazo, representassem ganho menor. Segundo eles, os resultados replicam e estendem pesquisas que mostraram que exercer “intenso controle cognitivo”, em trabalho intelectual ou esporte de resistência, induz uma forma de fadiga cognitiva que “se manifesta como uma maior preferência por opções imediatas”.

Limitações

Mas o estudo apresenta limitações. “Nossos resultados são apenas correlacionais e não podem ser tomados como prova de que o que limita o esforço do controle cognitivo é a necessidade de prevenir o acúmulo de glutamato”, advertem. Além disso, há limitações técnicas: os scanners usados não são capazes de quantificar a presença de outras substâncias.

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