Atleta com deficiência visual é convidada para competição de fisiculturismo em SC

Prestes a completar 50 anos, Laura Boppre foi convidada pelo atleta Fernando Sardinha para participar de uma competição, e para isso, o preparo físico precisou ser intensificado.

Mas quem vê a catarinense treinando na academia, nem imagina a história que ela carrega. Laura perdeu a visão do olho esquerdo há 20 anos, em uma cirurgia, e mesmo assim, não deixou que a deficiência prejudicasse a sua rotina. Foi pensando na saúde que a professora aposentada começou a pratica de atividades físicas, e, apesar de gostar muito, não levava o treino a sério.

Apesar do comprometimento da visão, Laura levava uma vida normal, até que, há quatro anos, percebeu algo de errado com o olho que ainda enxergava. Até encontrar o diagnóstico preciso, foi necessário ficar afastada da academia durante um ano, pois o esforço poderia piorar seu quadro.

Quando Laura constatou que se tratava de uma doença degenerativa que poderia levar a cegueira, seu mundo caiu. Ainda com alguns pontos da visão residual e enxergando com muita dificuldade, sua nova condição a deixou deprimida e levou algum tempo até que ela assimilasse a situação. Mas não demorou muito para perceber que esse obstáculo não iria detê-la.

“Eu sou uma pessoa ativa, eu não vou desistir da vida. A vida é muito mais importante, ela tem que ser vivida e eu vou dar um jeito”, afirmou.

Foi aí que Laura voltou a treinar, incentivada por uma amiga que lhe deu de presente a primeira mensalidade da academia. Mesmo com medo, pois seu retorno seria na condição de deficiente visual, a gana de superação falou mais alto. A atleta foi acolhida pelo instrutor, pois não conseguiria treinar sozinha. Voltar para aquele ambiente foi sua melhor escolha, garante Laura:

“Eu comecei a me apaixonar pela musculação, eu vi que ali eu era igual a todos e que podia me superar.”

Além do benefício em relação a saúde física, os exercícios serviram como uma terapia. Laura afirma que a musculação deu a ela autonomia, e relembra que, enquanto buscava o diagnóstico preciso, um dos médicos chegou a cogitar que ela não poderia sair de casa sem estar “de braço dado” com alguém.

A adaptação foi natural, e o treino é realizado por ela como por qualquer outra pessoa, até mesmo com mais esforço. Por não poder trabalhar com outras funções, atualmente Laura se dedica totalmente aos treinos. Até mesmo um médico tem acompanhado o desenvolvimento da atleta, e ela não esconde a felicidade quando se trata do processo de superação.

“Eu fui gostando da transformação e gostando ainda mais porque o esporte me inclui na sociedade e me traz autonomia.”

Fisiculturismo

A professora aposentada conta que nunca pensou em competir, mas que treinava como alguém que estivesse se preparando para uma competição. Durante esse processo, Laura começou a conversar com Fernando Sardinha, um dos fisiculturistas mais conhecidos no Brasil.

Sardinha está realizando um evento de fisiculturismo, que irá acontecer em setembro em Camboriú. Para surpresa de Laura, ela foi convidada pelo empresário para participar da competição. Mesmo se sentindo insegura com o tempo curto para se preparar, ela foi incentivada por Sardinha.

Laura acreditou em sua capacidade, e disse sim para esse desafio. Com a inscrição feita, ela confessa que ainda existe um pouco de receio quanto a sua mobilidade, já que sente dificuldade para se locomover em ambientes que não conhece, e no palco, terá que “desfilar” de salto alto.

Fernando Sardinha garantiu que se necessário, ele mesmo a levara até o palco. E não foi apenas o fisiculturista que incentivou Laura, toda uma rede de apoio de formou para que sua participação no campeonato seja possível.

“Eu vou e não importa o resultado, para mim chegar até o palco e apresentar um shape relativamente bom, já prova que eu me superei, e que esse é o meu troféu.”

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