Conheça as provas apontadas pela PGR de que Bolsonaro sabia do plano para matar Lula
Bolsonaro foi denunciado por cinco crimes, com penas somadas que podem ultrapassar 43 anos de prisão
• Atualizado
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF) por tentar um golpe de Estado após as eleições de 2022. Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), Bolsonaro, enquanto presidente, teve conhecimento e concordou com o plano de assassinatos de autoridades públicas, nomeado de “Punhal Verde e Amarelo”.
A PGR apresenta provas coletadas pela Polícia Federal (PF) que indicam que Bolsonaro soube do plano por meio do general Mário Fernandes, secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência e responsável pela elaboração do esboço criminoso. Fernandes teve acesso ao plano de assassinatos em dois momentos em que se encontrou com Bolsonaro: na tarde de 9 de novembro de 2022, no Palácio da Alvorada, e na noite de 6 de dezembro, no Palácio do Planalto.
Em 9 de novembro, Fernandes imprimiu o “Punhal” no Planalto, 39 minutos antes de ir ao Alvorada, onde estavam Bolsonaro e o tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens do presidente. Em 6 de dezembro, Fernandes novamente imprimiu o “Punhal” no Planalto. Nesse momento, Bolsonaro, Cid e um “kid preto” estavam no local. Três dias depois, Fernandes enviou um áudio a Cid elogiando Bolsonaro por ter “aceitado o nosso assessoramento”.
“O plano foi arquitetado e levado ao conhecimento do presidente da República, que a ele anuiu”, afirmou o procurador-geral da República, Paulo Gonet.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, estava entre as vítimas do plano, assim como a chapa vencedora nas eleições de 2022, composta por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB). Uma quarta vítima, chamada “Juca”, foi descrita pelos golpistas como “iminência parda do futuro governo”, mas não foi identificada pela PF. A ação contava com o apoio operacional de “kids pretos”, militares das Forças Especiais do Exército Brasileiro.
Bolsonaro foi denunciado por cinco crimes, com penas somadas que podem ultrapassar 43 anos de prisão, considerando as penas máximas e agravantes. A PGR também implicou outros 33 envolvidos na trama golpista, incluindo aliados próximos ao ex-presidente e militares de alta patente. A denúncia será analisada pela Primeira Turma do STF. A defesa de Bolsonaro afirmou que a denúncia da PGR é “inepta”.
No dia 8 de novembro de 2022, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, enviou uma mensagem ao “kid preto” Rafael Martins de Oliveira. “Rascunha alguma coisa”, disse Cid ao militar. “Fica tranquilo!! Tá sendo feito!!”, respondeu Rafael Oliveira. A mensagem, segundo a PF, indica que o plano de assassinatos estava em andamento.
No dia seguinte, às 09h23, Mário Fernandes entrou no Palácio do Planalto, onde redigiu e imprimiu o plano de assassinatos. A PF descobriu que o “Punhal” estava contido em um arquivo digital nomeado “Fox_2017.docx”. O nome do arquivo fazia referência a um dos carros de Fernandes, um modelo Fox da Volkswagen, 2017. O general costumava nomear arquivos sensíveis com nomes de seus carros.
Mário Fernandes terminou de editar o arquivo “Fox_2017.docx” às 17h05. O general renomeou o item para “Microsoft Word – Plj docx” e imprimiu o documento às 17h09. As letras “Plj” indicam “planejamento”. Trinta e nove minutos depois, às 17h48, Fernandes registrou sua entrada no Alvorada, onde Bolsonaro e Cid estavam no momento.
“Há nos autos elementos probatórios demonstrando que no dia 9 de novembro de 2022, após elaborar e imprimir o documento no Palácio do Planalto, Mário Fernandes foi até o Palácio da Alvorada, local onde estava o presidente Jair Bolsonaro”, disse a PF. “Cabe destacar que Mauro Cid estava no Palácio da Alvorada no mesmo período da visita do general Mário Fernandes”, completaram os investigadores.
Em 12 de novembro, mais detalhes do plano foram discutidos em uma reunião na casa do general Walter Braga Netto, ex-ministro de Bolsonaro e candidato a vice-presidente na chapa do PL em 2022. O plano visava criar uma grande comoção nacional, com a intenção de estabelecer um gabinete de crise, e Braga Netto seria o responsável por liderá-lo.
O “Punhal” foi impresso novamente no Planalto em 6 de dezembro, às 18h09. Nesse momento, Bolsonaro também estava presente. A PF confirmou essa informação ao verificar mensagens de um grupo de WhatsApp chamado “Acompanhamento”, que monitorava os deslocamentos do presidente.
Durante a tarde, Bolsonaro participou de uma cerimônia de posse de ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A chegada do presidente ao Planalto foi registrada por volta das 17h56. Nesse horário, o ajudante de ordens Jonathas Diniz Vieira Coelho enviou uma mensagem no grupo “Acompanhamento” indicando que o presidente estava no Planalto. Às 18h31, Bolsonaro já estava no Alvorada, conforme outra mensagem de Diniz Coelho.
Além de Fernandes e Bolsonaro, Mauro Cid e Rafael Martins de Oliveira também estavam no Planalto em horários compatíveis com a impressão do “Punhal”. A PF confirmou essas informações por meio de dados de localização por satélite.
Três dias depois, em 9 de dezembro, Bolsonaro fez sua primeira declaração após a derrota nas eleições. Em um discurso no Alvorada, o presidente disse que “nada estava perdido”. À noite, Mário Fernandes enviou um áudio a Mauro Cid celebrando a aceitação de Bolsonaro ao “nosso assessoramento”.
“Força, Cid. Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento”, disse o general.
“O áudio não deixa dúvidas de que a ação violenta era conhecida e autorizada por Jair Messias Bolsonaro, que esperava sua execução ainda no mês de dezembro. O grupo planejava agir com a maior brevidade possível, para evitar a posse do novo governo eleito”, concluiu Paulo Gonet na denúncia da PGR.
*Com informações de Estadão
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