Após delação, Brazão nega ligação com caso Marielle
Ao SBT News, Brasão levantou suspeitas sobre as acusações do ex-policial militar e diz estar tranquilo sobre a investigação do caso Marielle
• Atualizado
Por SBT News
Domingos Brazão, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Rio de Janeiro, citado em negociação de delação premiada de Ronnie Lessa, um dos executores da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de Anderson Gomes, em 2018, diz que é inocente.
Em entrevista ao SBT News, ele levantou suspeitas sobre as acusações do ex-policial militar e diz estar tranquilo. “Não acredito que possa ter a suposta delação e caso tenha, como já foi negado pela PF, a gente tem que buscar entender quem eles estariam querendo proteger.”
Brazão diz que desconhece “a suposta delação” e citou a nota divulgada pela Polícia Federal, na noite desta terça-feira (23). “Nunca tivemos acesso aos autos. E pela nota que a Polícia Federal deu ontem à noite, ela desmente isso.”
Ronnie Lessa está preso desde 2019 e foi condenado, em 2021, por tentativa de atrapalhar as investigações. Ele é acusado de ser um dos assassinos de Marielle Franco.
Às vésperas da conclusão das investigações pela PF e pelo Ministério Público, o miliciano negocia um acordo de colaboração premiada, que está sob análise do Superior Tribunal de Justiça (STJ), segundo revelou o jornal O Globo, no domingo (21).
Na proposta apresentada aos investigadores, Lessa avisou que pode revelar detalhes do envolvimento de Brazão como suposto mandante do crime – o que está sob investigação, mas ainda não foi comprovado. O enredo narrado, segundo apurou o SBT News, é parecido com o feito pelo ex-PM Élcio Queiroz, parceiro de Lessa e preso também desde o final do ano passado. Ele fechou acordo de delação com a PF.
Brazão nega ter motivos para matar Marielle e diz que não a conhecia, nem mesmo Lessa e Queiróz.
“Não conhecia a Marielle nem o Anderson, muito menos esses personagens, o Élcio e nem o Ronnie Lessa. Não tenho interesse nenhum no caso. Não acredito que possa ter a suposta delação e caso tenha, como já foi negado pela PF, a gente tem que buscar entender a quem eles estariam querendo proteger”, Domingos Brazão.
Ao SBT News, Brazão negou qualquer motivação para ter mandado matar Marielle Franco, afirma que nas várias investigações contra ele feitas desde 2018 nada foi comprovado, responde ao processo legalmente, negou qualquer motivação, entre as já apuradas.
Como a disputa por áreas eleitorais no Rio, vingança contra adversários como o então deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) – de quem Marielle foi assessora – ou por ser alvo de denúncias na Justiça. Veja os principais trechos da conversa com Domingos Brazão, por temas abordados:
Multi investigado
Eu realmente já fui investigado… o Gaeco, do Ministério Público Estadual, usando tanto a Polícia Federal como a Polícia Civil. Também diretamente com a Polícia Civil. Trocaram quatro ou cinco delegados da Delegacia de Homicídios, ou seja, dezenas de autoridades envolvidas nessas investigações. E graças a Deus sempre com isenção total do meu nome.
Então a gente não pode acreditar que essas autoridades todas estarão aí arriscando o seu nome, a sua história, sua função pública, enfim, para me proteger. Então, acho que isso já tá mais do que saturado.
Motivações: disputa eleitoral
Em 2014 foi minha última eleição. Eu fui para o Tribunal de Contas e a primeira e única eleição da vereadora (Marielle) parece que foi em 2016. E a minha última foi em 2014. Agora, em relação a nossa região, por exemplo, ela… a gente disputava voto, a gente que eu digo, deputado Brazão, com o prefeito atual, Eduardo Paes, que tinha muito voto em Jacarepaguá. Depois com hoje conselheiro Tribunal de Contas Ivan Moreira, também tem hoje o conselheiro Guaraná, aí já na gestão do meu irmão vereador e eu já deputado.
O Caiado, que é o presidente da Câmara, o Thiago Ribeiro, que é um conselheiro do município. Tudo isso, na gestão do meu irmão (Chiquinho Brazão). Todos com voto de expressão na região, muito voto. Não era o caso e não foi o caso da vereadora. Antônio Pitanga, Edson Santos, mais para a esquerda. Mais para o lado da direita, o professor Célio Luparelli e outros personagens, talvez uns 20 personagens.
Então, essa questão da política…, a cidade do Rio de Janeiro tem seis milhões de habitantes e algo em torno de quatro milhões de eleitores, então, não acredito que uma disputa eleitoral, a pessoa tem 300 votos 500 e 600 votos, possa identificar. Até porque, enquanto deputado, graças a Deus, eu sempre figurei entre os deputados mais votados do Estado, sobretudo na capital. Eu já tive mais de 70 mil votos na capital, eu estive mais de 90 mil votos, eu fiquei entre os cinco deputados mais votados algumas vezes. Isso aí é besteira.
Motivações: vingança
Em relação ao Edson Albertassi, imagina. Jorge Picciani… Quem acompanha a política no Rio de Janeiro sabe que eu era adversário do Paulo Mello. Eu fui pré-candidato à presidência (da Alerj), ao ponto do governador à época, Sérgio Cabral, intervir e fazer um acordo, dois anos cada um, acordo esse que não foi cumprido por parte do Paulo Mello, que era mais governista. Então quem acompanha a política do Rio de Janeiro sabe que eu não tenho relação e não tinha relação política nenhuma com esse grupo.
O Picciani foi presidente da Alerj. Para você ter um uma ideia, o presidente tinha mais projetos em parceria com o próprio Freixo, com o Paulo Mello e o Edson Albertassi, e comigo nunca teve nenhum. Com todo respeito e o carinho que a memória dele nos merece. São bobagens e coisas absurdas.
Encurralados na Lava Jato
Essa questão (da indicação) do Albertassi para o Tribunal de Contas, se você for buscar, pelo menos aqui no estado do Rio de Janeiro é uma realidade, todas as vezes que tem uma vacância, todas as vezes que se vai preencher uma vaga, há uma enxurrada de ações na Justiça. Até porque a oposição tem que fazer o seu papel político, e geralmente quem vai para o Tribunal de Contas é um governista.
Então, as pessoas entram com ações contra, justificando que alguém que é ligado ao governador, depois vai analisar as contas do governador, isso acontece no Brasil inteiro. Isso aí, então, é uma bobagem.
Freixo vingança
Com respeito ao deputado Freixo, que foi até um bom deputado, mas é assim para dentro da Casa. Ele nunca foi um deputado também brilhante, não. Ele foi um deputado mediano, trabalhador, mas que soube construir uma relação com a mídia, que é importante. Teve uma comunicação com a mídia, contando com a vantagem, inclusive, de ser oposição ao governo. O governo Sérgio Cabral teve muitos problemas, o que facilitava isso, e ele soube explorar. Nada pessoal, tivemos alguns embates.
Tive mais embate com um deputado Luiz Paulo, com a deputada Cidinha, com o próprio deputado Paulo Melo, do que com o deputado Freixo. Porque o perfil dele também não era não era esse, ele foi um deputado inteligente, cuidava das pautas dele lá. Tivemos alguns embates, porque partidos diferentes, ideologias diferentes, é a sobrevivência política, o cara tem que botar a colocação dele visando o seu público, o seu eleitor, e nós também temos que colocar a nossa posição.
Processos na Justiça
Em relação ao processo, eu fui afastado, no meu modo de entender, de maneira injustificável. A Justiça, tardia, mas reconheceu, eu retornei, alguns (conselheiros) não retornaram. Eu fui o primeiro que retornei, inclusive, o outro companheiro nosso, que retornou, pediu a extensão das decisões que foram dadas no meu processo.
É claro que quando citam o seu nome, você tem que buscar tomar conhecimento do que estão falando. Pedi acesso nas mais variadas esferas e sempre recebi como resposta que não iam me franquear o acesso aos autos em função de eu não fazer parte do inquérito. No STJ não é diferente.
Eu peticionei no STJ, assim que soube que (o processo) subiu, a informação que nós temos é outra, não é que subiu por causa do meu foro e sim pela mudança de interpretação do STF (Supremo Tribunal Federal) num voto do ministro (Dias) Toffoli, em relação a esses casos de crime contra a humanidade, crime de repercussão nacional e internacional e que eles teriam, em função disso, levado para Brasília. Se é só isso, eu não posso te dizer. Em função também da delação em si, não tive conhecimento, não tive acesso.
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