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Aristides Cimadon

O impacto da pandemia e os desafios das instituições de educação

A pandemia promoveu desconforto e ansiedade que não combinam com a tranquilidade e a rotina das épocas de bonança.

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Aristides Cimadon

Por Aristides Cimadon

Pixabay
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É evidente que o assunto requer longa discussão porque são inúmeras as variáveis que afetam a educação nesses tempos de pandemia. Aqui, nesse momento, vamos refletir apenas sobre as possibilidades de mudança nas instituições brasileiras, impactadas pela tecnologia e obrigadas a alterar seu ritmo presencial, para ajustar o processo ensino e aprendizagem pelos meios remotos. Não se trata de educação à distância, que é diferente de ensino remoto.

Há uma obra chamada “Colapso”, de Jared Diamond (2010 p. 517) que, em certa passagem diz: “Difícil e doloroso abandonar alguns valores fundamentais quando estes começam a se tornar incompatíveis com a sobrevivência. Até que ponto nós, como indivíduos, preferimos morrer em vez de nos adaptarmos e sobreviver? Milhões de pessoas nos tempos modernos de fato enfrentaram a decisão de, para salvar as próprias vidas, trair amigos e parentes, aquiescer com uma ditadura vil, viver como escravos ou fugir de seus países. As nações e as sociedades às vezes têm de tomar decisões similares coletivamente”.

Um colapso, como é a pandemia do Covid19, não significa o Juízo Final da humanidade, nem uma apocalíptica destruição das estruturas sociais. Mas, certamente promoverá mudanças e declínio nos padrões de vida de grande parte da população, ao mesmo tempo que criará oportunidades, criatividade, inovação e brutais mudanças no modo de ser, fazer e viver.

Num momento como esse, talvez, o fracasso ou o sucesso das instituições de ensino ou mesmo dos indivíduos, esteja em saber discernir em quais valores fundamentais se apegar e quais descartar. Na pandemia, aflora tudo o que é supérfluo ou que dificulta sobreviver. Estruturas que as organizações sociais consideravam perenes podem ruir. É o caso da velha e clássica forma de ensinar, com suas vetustas metodologias para formar pessoas. Num instante a sociedade começou a dar mais valor ao professor. E, por sua vez, as instituições de ensino se vêm obrigadas a mudar radicalmente e percebem que necessitam de um novo professor, com novas habilidades e capaz de aperar as tecnologias e criar relacionamentos com seus alunos, mesmo não estando presente em sala de aula.

Mudanças nas instituições de educação

A pandemia provocada pelo Covid19 impôs o isolamento social, trazendo à luz, de forma ainda mais evidente, as dificuldades e os desafios da educação brasileira, em particular, a educação básica consubstanciada nas dificuldades dos docentes, na insuficiência de tecnologia e na pobreza daqueles que não conseguem acesso à internet. Historicamente, o Brasil sempre conviveu, sem muita rebeldia, com uma estrutura normativa educacional inflacionária, centralizada e injusta. O País dispensa vultosos recursos com a educação pública, mas seus resultados são pífios. Entretanto, como o Brasil é o país do jeito e da razão ornamental, as instituições de educação vão se ajeitando.

Como estão respondendo a estes novos problemas e aos desafios que se impõem? As instituições públicas, menos afeitas à luta pela sobrevivência, suspenderam as atividades presenciais e, na sua maioria, demoraram meses para retomar as atividades de modo remoto. E assim fizerem sob forte resistência dos professores. As escolas privadas particulares e as comunitárias, por sua vez, aceleraram a implementação de medidas que já vinham sendo planejadas, como por exemplo, o desenvolvimento de ambientes virtuais de aprendizagem, garantido o direito de seus estudantes concluírem seus itinerários formativos. A pandemia revelou que há alternativas e que as organizações, diante do medo e da ameaça, se adaptam, rapidamente, a novos modos de fazer e viver.

Percebe-se, hoje, que a grande maioria das instituições de ensino, sobretudo aquelas de educação superior, adaptaram-se às novas maneiras de ensinar e, a maioria dos estudantes, preferem concluir o ano de 2020, assim como está. O uso de tecnologias para aulas remotas, com apoio de docentes e estudantes, impulsionou mudanças que não eram imagináveis há bem pouco tempo atrás. Certamente, após a pandemia, as instituições de educação não mais voltarão a operar como antes. Exceto a educação infantil e os anos iniciais da educação básica. As escolas necessitarão se reiventar, mesmo com o retorno às atividades presenciais integrais.

Apesar da pandemia, as instituições comunitárias não paralisaram suas atividades. Ao contrário, multiplicaram seus cursos, seus projetos, atraíram mais estudantes e aproximaram professores internacionalmente renomados para seminários, cursos, palestras como complementação de aulas. Essas mudanças fazem repensar o modelo de governança das, ainda organizadas sob o manto de uma estrutura acadêmica burocratizada, pesada e lenta. É preciso aprender com a pandemia. Ela é oportunidade de revisão, reconstrução, inovação tecnológica e cultural. A exigência de adoção de novas estratégias de gestão, de organização, de metodologias obriga os professores a reverem as formas de ensinar, de se relacionar e de orientar os estudantes.

Por sua vez, os estudantes deverão buscar mais autonomia no processo de aprendizagem. Parece evidente que a educação formal irá construir um caminho para trazer esses dois mundos, o digital e o presencial, mais próximos em todos os processos de formação. A pandemia promoveu desconforto e ansiedade que não combinam com a tranquilidade, a morosidade e a rotina das épocas de bonança. Exige mudanças rápidas. É difícil prever ou imaginar como será. A única certeza que se tem é a de que nada será como antes.

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