Recorde de pedidos de demissão no Brasil: porque tantas trocas de empresa?

Em um cenário de incerteza econômica e social, como o provocado pela pandemia de Covid-19 e a guerra na Ucrânia, é natural que se imagine que o trabalhador tente garantir o vínculo empregatício, entretanto, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) mostram uma realidade diferente. Entre junho de 2021 e maio de 2022, o Brasil registrou recorde de pedidos de demissão voluntária, ou seja, o próprio trabalhador pediu para ser demitido da empresa.

“Até maio, o CAGED trouxe o indicador de mais 6.175.000 pedidos de demissão voluntária”, detalha Fernanda Lopes Jardim, membro do Comitê CONCARH – Congresso Catarinense sobre Gestão de Pessoas  – e especialista em mentoria e consultoria de carreira e empresas.

O que explica o recorde de pedidos de demissão?

Para Fernanda, as pessoas querem trabalhar para as empresas, conforme o que elas acreditam, buscando um propósito e um sentido para o trabalho.

“Eu acredito que esse movimento já vinha acontecendo na vida das pessoas, em busca de uma maior qualidade de vida, em busca de atender o seu propósito. Com a pandemia, isso acelerou cada vez mais”, explica a especialista.

“As pessoas querem ter horários flexíveis, querem poder ter um pouco mais qualidade de vida com seus filhos e família, ter disponibilidade para estudar, o que muitas vezes o mercado não permite”, explica.

A consultora de carreira detalha que os profissionais estão buscando cada vez mais sentido para seus objetivos, priorizando a vida pessoal, tendo o trabalho como uma consequência nas necessidades. “No passado era muito diferente, sempre em primeiro lugar vinha o trabalho”, lembra Fernanda.

Remuneração e benefícios não são suficientes

Conforme a Fernanda, há funcionários que pedem demissão para migrarem para outra empresa, sem necessariamente, receberem um salário maior. Os profissionais estão buscando atuar em algo que acreditem, para se sentirem valorizados.

Fernanda destaca que mesmo que com boa remuneração e benefícios, atualmente, o trabalhador precisa se identificar com a cultura da empresa, para decidir se manter no emprego.

“Muitas pessoas vão embora, não é por salário, não é por benefício, mas sim porque não encontram mais conexão com esse movimento que a organização se encontra”, explica.

A empresa precisa entender a decisão do funcionário e buscar manter o engajamento do colaborador com a cultura da empresa, porque independente das questões financeiras, se o funcionário encontrar outra organização que faça mais sentido para sua vida, ele ira pedir demissão para aproveitar essa oportunidade, resume Fernanda.

Confira a entrevista com a especialista em carreira e empresas

E o número de desempregados?

A especialista concorda que o número de desempregados é grande no Brasil, entretanto, ela lembra que há muitas oportunidades.

Conforme Fernanda, os profissionais qualificados, experientes e estiverem preparados, estão colocando seus princípios e objetivos em primeiro lugar, no momento de avaliar uma nova oportunidade e pedirem demissão, trocando uma empresa por outra.

“Existe um número desemprego muito grande, realmente, mas existe também muita oportunidade, o que justifica essa questão que eu trouxe em relação ao propósito de cada pessoa”, pontua.

Confira os números do desemprego no Brasil, no primeiro trimestre de 2022:

>> PARA MAIS NOTÍCIAS, SIGA O SCC10 NO TWITTER, INSTAGRAM E FACEBOOK