Israel é o segundo maior consumidor de carne bovina catarinense no mundo
Segundo a Epagri, a carne bovina catarinense é de alta qualidade e, por isso, muito procurada pelo comércio internacional
• Atualizado
A economista Laura Pacheco explica que, culturalmente, a educação da população israelense é muito avançada em termos de negócios e tecnologia. Ela ainda menciona que o país é referência no mundo, mas não tem a riqueza de recursos naturais que o Brasil e Santa Catarina têm. Essa diferença, também mencionada na reportagem anterior, traz outros dois fatores que, segundo a economista, destacam o Brasil nos negócios.
“O Brasil é um país que é conhecido por ser muito amigável com outros países. Não cria grandes problemas, tem essa característica diplomática e é bem recebido em outros países. E ainda a nossa cadeia produtiva tem custo menor, porque nosso custo de energia é de energia hidrelétrica: além de ser mais ecológica, é muito mais barata”, frisa Laura.
Entre os produtos em alta que são exportados de Santa Catarina para Israel, estão alimentos e bebidas, como pondera o presidente da Câmara SC-Israel, Daniel Leipnitz: “são alimentos que têm valor agregado. Eles querem produtos que sejam mais ‘requintados’, como sucos orgânicos, frutas específicas, e alimentos kosher como, por exemplo, a carne”. O presidente argumenta que, por causa disso, o mercado de alimentos está em expansão e tem potencial para crescer.
Conforme a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), Israel está entre os 10 países que mais importam carne do Brasil. Em 2022, o país do Oriente Médio era o nono país na lista, com cerca de US$ 246 mil movimentados, o que, atualmente, equivale a R$ 1,22 milhões, segundo cotação do mercado em 4 de setembro de 2023.
Na penúltima reportagem é possível conhecer todos os produtos mais exportados e importados na relação Santa Catarina-Israel. Entre os produtos exportados por Santa Catarina em 2022, o único alimento da lista de cinco mais exportados é a carne.
No entanto, o analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina/Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola), Alexandre Giehl, analisa que as exportações da carne bovina catarinense tiveram uma queda em relação ao ano passado.
“De janeiro a julho deste ano foram exportadas 683,4 toneladas, com receitas de US$ 2,45 milhões, quedas de 49,9% e 58,0% na comparação com o mesmo período de 2022. Nesse ritmo, SC deve fechar o ano com o pior resultado das exportações de carne bovina desde 2002”, explica.
Em 2022, de acordo com a Epagri, foram exportados U$ 724 mil de carne bovina, o que equivale a mais de R$ 3,57 milhões, conforme cotação do dólar do dia 4 de setembro de 2023.
O analista explica que a queda nas exportações pode ser explicada pela redução no número de abates dos últimos dois anos, “o que se deve à dinâmica do mercado e às flutuações de preços do boi gordo”.
Ele ainda define que Santa Catarina é deficitária em termos de carne bovina, ou seja, o estado produz menos carne bovina do que consome, o que limita as exportações: segundo as últimas estimativas da Epagri/Cepa, aproximadamente metade da carne bovina consumida em SC é de outros estados brasileiros.
Carne bovina catarinense é de elevada qualidade
Mesmo com a queda nos números, Giehl apresenta um cenário semelhante ao explicado pelo presidente da Câmara SC-Israel. Isso porque, mesmo que produzida em escalas menores, “a carne bovina exportada pelo estado possui elevada qualidade. Do ponto de vista sanitário, Santa Catarina foi o primeiro estado brasileiro a obter o reconhecimento de área livre de febre aftosa sem vacinação por parte da Organização Mundial de Saúde Animal”.
Essas características, conforme o analista, são um ponto forte da pecuária catarinense e aumentam o potencial de exportação da carne bovina para mercados diferenciados. Justamente pela demanda de Israel de produtos de alta qualidade, em 2023 ele é o segundo país (19,7%) que mais importa carne de Santa Catarina, atrás apenas da Espanha (23,2%).
Ele ainda reforça que Israel tem figurado entre os principais destinos da carne bovina catarinense desde 2019, quando foi realizado o primeiro embarque para lá.
Carne como restrição comercial
Giehl explica que a maioria dos produtos exportados são transportados por meio de navios e, no caso das carnes, elas são encaminhadas pelo Porto de Itajaí. De navio, a carne bovina catarinense transportada em contêineres frigoríficos percorre uma distância de cerca de 6.957 milhas náuticas. Isso equivale a aproximadamente 128.845 quilômetros, considerando a distância entre o maior porto daquele país, Porto de Haifa, e o Porto de Itajaí, segundo a calculadora de distância no Mar da BednBlue.
Devido à cultura da população israelense, que é 74% judaica de acordo a CIA, a carne exportada do Brasil e de Santa Catarina precisa seguir alguns requisitos religiosos judaicos.
É parte da cultura religiosa judaica seguir a alimentação Kosher, ou Kasher, que significa apropriado em iídiche, do hebraico. A Sociedade Israelita Beneficente Brasileira Albert Einstein explica que a culinária Kosher é formada por um conjunto de regras que seguem as leis do judaísmo na preparação dos alimentos, que devem ter selos de garantia.
Ainda segundo a Sociedade Israelita Albert Einstein, algumas regras Kosher aplicadas para a carne são:
“Apenas certos tipos de carnes de mamíferos, aves e peixes podem ser utilizados e destes, algumas partes podem ser consumidas; o animal escolhido para o abate deve estar livre de doenças e/ou ferimentos; o sangue do animal deve ser completamente retirado; de forma alguma as carnes podem ser preparadas, servidas ou consumidas com leite ou seus derivados”.
A Consultora em Comércio Internacional, Fernanda Kotzias, pondera que não é toda a população israelense que segue a alimentação kosher à risca, mas é uma regra religiosa que muitos seguem, o que torna a carne kosher uma restrição comercial.
“A maioria das empresas exigem isso como um pré-requisito para negociar a importação, mas vale reforçar que não é uma restrição sanitária imposta pelas autoridades do país”, relata a advogada.
Então, antes mesmo de iniciar o caminho da exportação, a carne precisa ser totalmente planejada e pensada para a comercialização para Israel.
Planejamento que envolve muita tecnologia
Jean Abreu, brasileiro que esteve em viagem em Israel durante o mês de agosto e visita a Câmara com frequência, conta ao portal SCC10 que nos mercados de Tel Aviv, por exemplo, não há tanta quantidade de carne e o consumo é mais restrito, enquanto no Brasil, todo mercado tem um açougue disponível.
“Nos menus dos restaurantes há pouquíssima carne e é cara: em um prato normal com entrecot eu cheguei a pagar ₪ 162,21 (shekels israelenses)”, o equivalente a R$ 210,00, conforme cotação do dia 4 de setembro de 2023.
De tempos em tempos, ele faz um tour pelo mundo para estudar tecnologia. Abreu é empresário e professor doutor na área de tecnologia e inovação, mora em Florianópolis, e vê as viagens como uma forma de trazer inovação tanto para as empresas que administra quanto para o desenvolvimento do empreendedorismo no estado.
Em 2023, os locais escolhidos foram Israel, Vale do Silício – nos Estados Unidos – Canadá e China. Ele conta que Israel é frequentemente selecionado por ele para os tours, porque “é o berço da tecnologia no mundo. Eles não produzem tecnologia apenas para eles, porque eles são muito pequenos, então eles visam maximizar grandes negócios.”
A ideia das viagens de Abreu é ir até os locais que têm tecnologia de ponta e acelerar o desenvolvimento no Brasil, mas principalmente Santa Catarina e Florianópolis, que são sua área de atuação.
Ele revela que a escolha de Israel também se dá porque “em qualquer situação de empreendedorismo, a principal dor nasce lá, porque é uma questão de sobrevivência. Eles literalmente são cercados de inimigos e têm muito deserto. Então é como se você fosse um animal na selva que tem que se defender a todo momento, se reinventar para estar vivo. Israel faz isso e o meu objetivo é passar pelos quatro cantos do mundo e trazer essa tecnologia e conhecimento para cá”.
Não é à toa que o empresário está estudando, além do que costumava estudar em outras viagens, Inteligência Artificial, uma das tecnologias mais comentadas pelo mundo.
Por mais que Jean Abreu tenha viajado pelo país de forma independente, para ele não existe a possibilidade de passar por Israel sem visitar a Câmara de Comércio Brasil-Israel para saber novidades no mercado e se aproximar de empresas do país. Ele argumenta que a câmara tem a “preocupação de fazer esse intercâmbio de conhecimentos e o Brasil tem conseguido avançar nas relações estreitadas com eles. Ela supera a distância geográfica e faz com que os contatos sejam ampliados, porque o que eles querem é fomentar o ambiente de negócio ativo e maximizar grandes negócios”.
O pensamento de Abreu vai ao encontro do que diz o presidente da Câmara SC-Israel ao SCC10. Daniel Leipnitz explica que Santa Catarina tem um traço forte de inovação e empreendedorismo e este é um fator que aproxima o estado de Israel.
“Nós temos a veia da inovação aqui e Israel é referência, então nós vamos lá na fonte beber esse conteúdo, essa forma de eles lutarem pela sobrevivência. Nós estamos em um mundo que está em constante transformação e isso por si só já é um motivo para inovar. Israel é mais uma excelente fonte para buscarmos uma forma de sobreviver e prosperar”.
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