Vaticano diz que benção a casais homossexuais não significa “absolvição”
Segundo o comunicado, a doutrina sobre o matrimônio não muda, os bispos podem discernir sua aplicação de acordo com o contexto
• Atualizado
O Vaticano divulgou nesta quinta-feira (4) uma comunicado assinado pelo cardeal prefeito Fernández e pelo secretário monsenhor Matteo esclarecendo que a bênção a casais homossexuais anunciada no mês passado pelo Papa Francisco não significa “absolvição” e nem que a Igreja Católica aprova a união de pessoas do mesmo sexo. Segundo o comunicado, a doutrina sobre o matrimônio não muda, os bispos podem discernir sua aplicação de acordo com o contexto.
“A Declaração contém a proposta de breves e simples bênçãos pastorais, não litúrgicas e nem ritualizadas, de casais ‘irregulares’, sublinhando que se trata de bênçãos sem forma litúrgica, que não aprovam nem justificam a situação em que se encontram essas pessoas.”
“São inadmissíveis ritos e orações que possam criar confusão entre aquilo que é constitutivo do matrimônio, como a união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta à geração de filhos e àquilo que o contradiz. Esta convicção é fundada sobre a perene doutrina católica do matrimônio. Somente neste contexto as relações sexuais encontram o seu sentido natural, adequado e plenamente humano. A doutrina da Igreja sobre este ponto permanece firme”, diz a carta.
“Tal é também o sentido do Responsum da então Congregação para a Doutrina da Fé, onde se afirma que a Igreja não tem o poder de conceder a bênção a uniões entre pessoas do mesmo sexo”.
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O Vaticano explica ainda que, para distinguir-se claramente das bênçãos litúrgicas ou ritualizadas, as “bênçãos pastorais” devem ser sobretudo muito breves, de 10 a 15 segundos, sem uso do Ritual de Bênçãos.
“Esta forma de bênção não ritualizada, com a simplicidade e a brevidade de sua forma, não pretende justificar algo que não seja moralmente aceitável. Obviamente, não é um matrimônio, nem mesmo uma ‘aprovação’, nem a ratificação de coisa alguma. É unicamente a resposta de um pastor a duas pessoas que pedem a ajuda de Deus. Por isso, neste caso, o pastor não põe condições e não quer conhecer a vida íntima dessas pessoas.”
O comunicado diz ainda que em alguns lugares, talvez será necessária uma catequese que ajude a todos a entender que este tipo de bênção não é uma ratificação da vida que levam aqueles que a imploram. “Menos ainda é uma absolvição, enquanto estes gestos estão longe de ser um sacramento ou um rito”.
Entenda o caso
Em 2 de outubro de 2023, o Papa Francisco sugeriu, pela primeira vez, a possibilidade de padres darem bênçãos a casais do mesmo sexo. A declaração foi dada em carta em resposta a cinco cardeais conservadores da Ásia, Europa, África, Estados Unidos e América Latina, que voltaram a questionar o pontífice a respeito de uniões homossexuais.
No texto, Francisco afirmou que cada caso deve ser analisado, alegando que os religiosos “não podem ser juízes que apenas negam, rejeitam e excluem”. O pontífice reforçou, no entanto, que o ato não deve ser confundido com cerimônias de casamento , uma vez que a Igreja Católica reconhece apenas matrimônios entre um homem e uma mulher.
“A caridade pastoral deve permear todas as nossas decisões e atitudes. Quando você pede uma bênção, você expressa um pedido de ajuda de Deus, uma oração para poder viver melhor, uma confiança num pai que pode ajudá-lo a viver melhor”, escreveu o papa.
“Ser homossexual não é crime. Sim, mas é pecado. Tudo bem, mas primeiro vamos distinguir entre um pecado e um crime. Também é pecado faltar à caridade uns com os outros”, disse o papa, à época. “Somos todos filhos de Deus, e Deus nos ama como somos e pela força que cada um de nós luta pela nossa dignidade”, completou.
No dia 18 de dezembro, o Vaticano afirmou que padres poderão abençoar casais formados por pessoas do mesmo sexo. A decisão faz parte da declaração Fiducia supplicans, publicada pelo Dicastério e aprovada pelo Papa Francisco.
O documento aprofunda o tema das bênçãos, distinguindo entre as bênçãos rituais e litúrgicas e as bênçãos espontâneas. Segundo a Santa Fé, é precisamente nessa segunda categoria que está contemplada a possibilidade de acolher também aqueles que “não vivem de acordo com as normas da doutrina moral cristã”, sem que eles estejam sujeitos a “uma análise moral exaustiva”.
Pela medida, padres católicos podem administrar bênçãos a casais do mesmo sexo, contudo, sem que a benção tenha qualquer semelhança com uma cerimônia de casamento ou que aconteça durante liturgias regulares da Igreja.
“Precisamente para evitar qualquer forma de confusão ou escândalo, quando a oração de bênção é solicitada por um casal em situação irregular, mesmo que seja expressa fora dos ritos prescritos pelos livros litúrgicos, esta bênção nunca deve ser transmitido em simultâneo com as cerimônias de uma união civil, e nem mesmo em conexão com elas. Nem pode ser realizado com roupas, gestos ou palavras próprias de um casamento. O mesmo se aplica quando a bênção é solicitada por um casal do mesmo sexo”, afirma um trecho do texto.
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