BR-282: uma história de desenvolvimento e grandes desafios
Com seus 678 quilômetros de extensão, essa rodovia desempenha um papel fundamental no transporte de mercadorias e no desenvolvimento de Santa Catarina
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A BR-282 é uma importante rodovia transversal do estado de Santa Catarina, que liga a capital, Florianópolis, até Paraíso, na fronteira com a Argentina. Com seus 678 quilômetros de extensão, essa rodovia desempenha um papel fundamental no transporte de mercadorias e no desenvolvimento das regiões, apesar de apenas 3,7 quilômetros de seus trechos estarem duplicados.
História
A história da BR-282 remonta a mais de 200 anos, desde os tempos da monarquia até a república. Líderes políticos, empresariais e institucionais estiveram envolvidos em uma luta persistente pela sua construção. No entanto, as obras efetivadas se concretizaram a partir de 1977, quando Antônio Carlos Werner assumiu a direção geral do Departamento de Estradas e Rodagem de Santa Catarina. Essa iniciativa revigorou um projeto que havia sido iniciado anos antes pelo Batalhão Ferroviário de Lages, no governo de Jânio Quadros, na década de 1960.
BR-282: um desejo antigo dos catarinenses
Esperidião Amin, Senador por Santa Catarina, entre 1983-1987, época de finalização da rodovia, exercia o cargo de Governador do Estado. Ele destaca que foi necessário realizar um convênio com o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), que contratou uma grande empresa brasileira para o término do trecho que faltava, entre Santo Amaro da Imperatriz e o Rio Canoas.
“Essa não foi a obra de uma pessoa, foi uma obra dos catarinenses. Foi um esforço e uma luta muito grande da Associação Comercial de Florianópolis, Associação Comercial de Lages e a cobrança da comunidade”, comenta o senador.
Ao longo destes 59 anos de existência, todos os dias transitam pela BR-282 muitos produtos exportáveis de diversas localidades que ajudam a manter e sustentar o desenvolvimento de Santa Catarina e também do país.
Com término mais de 20 anos depois do início efeito, a BR-282, ainda hoje em pista simples na grande maioria da extensão, ficou conhecida como um ícone para integração política, econômica e cultural do Estado. Para além de uma importante via de ligação entre as regiões, o percurso é fundamental para o escoamento da produção agroindustrial catarinense.
Principais características da BR- 282
- A rodovia conta com a terceira faixa apenas em alguns trechos, o que é insuficiente para a diminuição do número de acidentes. Segundo estudo da Fiesc, a BR-282 é duplicada nos seus primeiros 16,6 km, no Oeste, e nos 14 km entre o trecho urbano de Xanxerê e o acesso a Chapecó, porém ainda com obras de duplicação.
- Também no perímetro urbano de Lages estão sendo construídas vias marginais e viadutos, além disso um trecho está sendo duplicado, num total de seis quilômetros de obras. Entre Florianópolis e São José, a BR recebe o nome de “Via Expressa”.
- Coincide com a BR-101 no trecho entre São José e Palhoça onde se separa seguindo em sentido oeste inicialmente pelo Vale do Rio Cubatão, atravessa a região da Grande Florianópolis, vencendo a Serra Geral, prossegue passando pelo Planalto Sul, Meio-Oeste, Oeste, Extremo-Oeste atingindo a fronteira com Argentina.
- A BR-282 conta com apenas uma balança que fica na cidade de Maravilha e vários postos da Polícia Rodoviária Federal. Desde sua construção em 1964, ao mesmo tempo que a BR-282 trouxe avanços para as regiões que contam com o trecho, a insegurança é algo recorrente por quem percorre a estrada no dia a dia.
Desenvolvimento econômico
A BR-282 se destaca como um pilar do desenvolvimento catarinense. Ela é essencial para escoar a produção agrícola e industrial da região oeste até o litoral do Estado, sustentando economicamente pequenos e grandes municípios ao longo de seu percurso. Além disso, faz a importante ligação com os principais portos e grandes centros de consumo do país. Para se ter uma ideia, a BR que corta SC chega a movimentar 60% da carga nacional.
“A BR-282 é fundamental para economia de Santa Catarina em todos os aspectos, mas principalmente porque por ela passa toda a produção do Oeste do Estado. Por ela se faz todo o caminho da indústria e da agroindústria destinado ao mercado externo”, explica Egidio Antonio Martorano, Gerente para Assuntos de Transporte, Logística, Meio Ambiente e Sustentabilidade da FIESC.
BR-282: a segunda estrada com maior número de mortes em Santa Catarina
As notícias e relatos sobre acidentes ao longo da rodovia são frequentes. Para se ter uma ideia, de 2017 a 2022 foram registradas na BR-282 pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) 572 colisões com morte, 9.428 feridos e um total de 8.451 acidentes. Número alarmante que torna a rodovia a segunda com o maior número de mortes e a terceira com mais acidentes em Santa Catarina.
Segundo o Chefe de Comunicação da PRF, Adriano Fiamoncini, um dos principais fatores para o grande número de acidentes na BR-282 é a imprudência, como o excesso de velocidade, a embriaguez, mas, principalmente, a ultrapassagem em local proibido.
Além do número de acidentes, responsáveis por empresas que utilizam a rodovia para entrega de mercadorias reclamam da insegurança e do aumento no número de manutenções nos veículos devido às más condições da rodovia, como é o caso da Transportes Marvel.
“Principalmente entre o trecho de Xanxerê a São Miguel do Oeste, nossos motoristas têm grande dificuldade por conta dos buracos e a falta de duplicação no local, o que torna um gargalo logístico muito grande para a transportadora”, conta Júlio Bergamaschi, coordenador de frota na empresa.
Júlio relata ainda que por conta dessas dificuldades os desafios diários das empresas e caminhoneiros são rotineiros.
Terceira faixa seria a solução para trazer mais segurança na rodovia?
Diante de números tão expressivos, qual seria a solução para diminuir os números de acidentes e, consequentemente, mortes na rodovia? Uma das grandes reivindicações de quem passa pelo local é a duplicação ou inserção da terceira faixa em toda a extensão da BR-282.
Fiamoncini destaca que é fundamental pensar num investimento em infraestrutura na rodovia, junto com as ações de fiscalização da PRF.
“É preciso pensar em um novo acesso, em especial falando sobre do trecho de Santo Amaro da Imperatriz, Águas Mornas e Rancho Queimado, já que é um relevo muito sinuoso, com muitas subidas e descidas, onde a terceira faixa é fundamental para separar os veículos pesados dos veículos leves”, destaca o policial.
Júlio Bergamaschi, coordenador de frota da Marvel Transportes, explica que a inserção da terceira faixa ou até mesmo a duplicação melhoraria também a vazão da produção feita no grande Oeste para abastecer não somente Santa Catarina, mas todo o Brasil.
“A BR-282 é fundamental para a empresa. Toda a parte logística que necessitamos para fazer a nossa matriz em Chapecó, ela depende da BR-282, seja nas cargas de importação, exportação e distribuição nacional. Temos cargas que vêm da Argentina e Chile que trafegam por Chapecó até o litoral do Estado e que precisam passar pela rodovia em boas condições”, explica Júlio.
Para o senador Esperidião Amin a opinião não é diferente, principalmente para garantir a segurança dos catarinense.
“A rodovia sem a terceira faixa nos expõe a grandes riscos de acidentes. Eu creio que o nosso desafio agora é termos pelo menos 150 km de terceira faixa até São Miguel do Oeste ou Chapecó. Além, é claro, de Florianópolis a Lages o que é crucial para a segurança dos catarinenses ”, ressalta o senador.
Trechos mais perigosos da BR-282 na Serra devem ganhar terceira faixa nos próximos meses
Em maio deste ano foi anunciado que a BR-282 deveria abrir uma licitação até este mês de setembro para execução de 12 km de terceira faixa nos trechos mais perigosos da rodovia – entre Alfredo Wagner e Palhoça. A informação havia sido confirmada pelo deputado estadual Lucas Neves à Rádio Clube de Lages em 19 de maio de 2023. Na última quinta-feira (31), houve a divulgação de que a data para abertura do processo foi adiada, com previsão de início para outubro deste ano.
A discussão da medida foi levada por uma força-tarefa catarinense que esteve reunida com o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), no dia 10 de maio em Brasília, sobre a demanda da rodovia que tem mais de 680k de extensão, projetos parados há anos e apenas 3,7km de duplicação.
O parlamentar afirma que o principal pedido seria a duplicação da rodovia, mas a terceira faixa funcionará como uma medida a curto prazo para ajudar à população. O ministro explicou que até setembro, 12 km de extensão devem ser licitados para a construção das faixas. Para isso, a extensão licitada será dividida em pequenos trechos, para amenizar os pontos com maior dificuldade de ultrapassagens e maior índice de acidentes.
Em 2019, um levantamento da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC) feito em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) apontou os trechos mais críticos da rodovia, que sugerem a inserção imediata da terceira faixa. São eles:
Quando a terceira faixa deve sair do papel?
Em 2022 foi aprovada a PEC da Transição que permitiu elevar de R$ 6 bilhões para R$ 22 bilhões o orçamento do Ministério do Transporte e Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) para obras nas estradas brasileiras, o que pode garantir a construção da terceira faixa em alguns trechos da BR-282.
“Eu creio que com uma boa gestão do DNIT em Santa Catarina, projetos e com esse aumento de recursos, o Estado pode ver uma luz no fim do túnel para construção dessa terceira faixa”, afirma Amin.
Confira a reportagem em vídeo completo:
Créditos:
Texto e Roteiro: Mariana Pedrozo e Thiago Pires
Produção: Rodolfo Carreirão e Renata Kerber
Imagens: Dilnei Pacheco, Nereu Filho, Eloizio Ferreira e Marcio Ramos
Edição de Imagem: Fernando Piti e Jeffrey Cordova
Pós-edição: William Matheus
Design Gráfico: Dante Reina
Coordenação de Arte: Carlos Eduardo Torres
Edição Final: Ana Paula Bittencourt
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