Laércio Botega

Jornalista, comentarista de TV e noveleiro.


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Você se lembra… da “briga” entre Gugu e Faustão?

Os domingos da televisão brasileira eram responsáveis por uma briga acirrada pela audiência.

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Gugu durante a apresentação do “Domingo Legal”. Foto: Reprodução.
Gugu durante a apresentação do “Domingo Legal”. Foto: Reprodução.

Uma briga de gigantes. Os domingos da televisão brasileira, entre o fim da década de 90 e começo dos anos 2000, eram responsáveis por uma briga acirrada pela audiência entre Gugu e Faustão. E isso é o que vamos relembrar hoje! Vamos lá?

O INÍCIO

Domingo Legal é um dos programas mais tradicionais da televisão. Antes de Celso Portiolli assumir, quem comandou a atração, por 16 anos, foi Gugu. O primeiro programa do dia 17 de janeiro de 1993 contou com a participação de Zé Paulo, Chiclete com Banana e Débora Blando, além de outros quadros que garantiram quatro horas de duração. Inicialmente gravado e exibido às 13h, o programa passou a ser exibido ao vivo o ano seguinte, em 1994, e num novo horário, às 12h.

Gugu tempos depois da estreia do “Domingo Legal” no SBT. Foto: Reprodução.

NÚMEROS EXPRESSIVOS

O programa já demonstrava que estava aos domingos para brigar pelos números. No dia 3 de março de 1996, o Domingo Legal realizou uma das coberturas mais marcantes de toda sua história. O programa trouxe uma edição totalmente dedicada a cobertura sobre a morte do grupo Mamonas Assassinas, envolvendo o jornalismo da emissora. Entre participações ao vivo com novas informações e entrevistas no palco, a atração relembrou a passagem do grupo que estava no auge. Naquele domingo, o programa registrou impressionantes 37 pontos de média e 47 de pico. Uma audiência histórica. O Brasil estava parado em frente à televisão acompanhando Gugu trazer todas as informações sobre o trágico acidente e prestar homenagens, inclusive, reprisando a passagem do grupo pelo programa. A partir dessa edição o programa passou a ter uma equipe de jornalismo exclusiva para coberturas ao vivo e reportagens especiais.

Mamonas Assassinas durante participação, ao vivo, no palco do Domingo Legal. Foto: Reprodução.

NOVO HORÁRIO

Atento aos números que não paravam de surpreender, o SBT bateu o martelo e mudou o Domingo Legal de horário. No dia 19 de outubro de 1997, o programa começou ser exibido das 15h30 às 19h30. Foi a primeira vez que Gugu e Faustão bateram de frente de ponta a ponta. Na estreia do novo horário, a produção reforçou o programa e trouxe as mais diversas atrações. Veja o que teve no programa:

– É o Tchan

– Art Popular

– Chitãozinho & Xororó

– Daniel

– Enrique Iglesias

– Otavio Mesquista acordando É o Tchan

– Entrevista com Carla Perez e Jon Bon Jovi

– Homenagem para João Paulo (da dupla com Daniel)

– Corrida de caminhões com mulheres sem sutiã

– Leilão do tênis do ídolo do basquete norte-americano Shaquille O´Neal

A PRIMEIRA VITÓRIA

Com 10 atrações diferentes, Gugu estreou no novo horário com pé direito e venceu a Globo com uma diferença de 10 pontos. Das 15h30 ás 19h30, o Domingo Legal registrou 27 pontos de média contra 17. O maior pico foi registrado às 17h20, quando a atração do SBT atingiu 31 pontos de pico. No mesmo instante, Faustão, na Globo, anotou 13. Naquele minuto, Gugu, na liderança, abriu uma diferença de 18 pontos para a segunda colocada. No dia seguinte dessa vitória, o SBT passou a exibir uma chamada especial intitulada de Domingo Especial I, destacando a vitória de Gugu e, principalmente, o momento do pico da atração.

Imagem da chamada especial que o SBT produziu
para comemorar a vitória de Gugu
. Foto: Reprodução.

O BRASIL ACOMPANHA O DOMINGO LEGAL

O número de telespectadores cresceu com a mudança. Em abril de 1997, o programa tinha 5,7 milhões de telespectadores. Já em outubro, o Domingo Legal somou 8,6 milhões, cerca de 2,9 milhões a mais. Depois do primeiro domingo, a atração venceu a Globo até o fim do ano. Foram 11 vitórias consecutivas.

Gugu no comando do Domingo Legal na década de 90. Foto: Reprodução.

É PARA COMEMORAR

A equipe do Domingo Legal vibrava com cada vitória que até criaram um bonequinho do Gugu para comemorar junto ao público. O “Guguzinho”, como era conhecido, surgia na tela correndo e fazendo o sinal de número um com a mão, indicando que haviam passado a Globo. A ideia virou até concurso pedindo para que os telespectadores adivinhassem quantas vezes ele apareceria. Mas, no dia 12 de dezembro de 1999, o Ibope proibiu e ele nunca mais voltou.

O bonequinho, durante a apresentação da garotada
de Chiquititas, apontando o primeiro lugar
para o Domingo Legal. Foto: Reprodução.

CARTA NA MANGA

Com constantes derrotas, a Globo passou a mexer no Domingão do Faustão. Num daqueles domingos de 1997, a emissora carioca apostou no rei Roberto Carlos. Não adiantou. Gugu, que levou um sapo que latia, acabou ganhando. As pautas populares eram as cartas na manga. Durante toda a competição, o SBT venceu. A emissora de Silvio Santos chegou a atingir 24 pontos contra 16 da emissora de Roberto Marinho que, não muito depois, por força maior, passou a popularizar apostar em diversos assuntos.

Gugu interagindo com crianças vestidas como
os mascotes da Parmalat no palco do programa. Foto: Reprodução.

TEM QUE TER ESTRATÉGIA

A batalha pela liderança aos domingos era meta de Gugu e toda equipe. O início dos anos 2000 foi o auge da disputa. Todos iam para o SBT com “sangue nos olhos”. “Nós exibimos não um programa, mas uma programação”, disse Roberto Manzoni, o Magrão, ex-diretor do Domingo Legal, numa entrevista para a Folha de S. Paulo. Para brigar, era necessário ter toda uma estratégia, arquitetada durante a semana, para levar a melhor na briga pelos números. Além de enfrentar Faustão, Gugu chegou a competir com Tom Cavalcante e Xuxa. Era justamente contra esses dois que ele colocava atrações consideradas mais fracas, exibia anúncios e chamada quase todos os comerciais. Já durante a briga com Faustão, Gugu não bobeava. Ele apostava nas melhores atrações e segurava os comerciais mais pro final da atração quando a guerra estava vencida. “A gente mira um canhão na cabeça de Fausto Silva”, relatou Magrão.

Gugu e Magrão, ex-diretor do Domingo Legal, acompanhando a exibição de algum material durante o programa. Foto: Reprodução.

SOLTA O SOM

Quem acompanhou essa disputa pela audiência, sem dúvida, sabe que uma das armas de Gugu eram as atrações musicais. O apresentador apostava nos mais variados gêneros. De veteranos a novatos no ramo. Inclusive, o palco do Domingo Legal lançou grandes fenômenos da música. O cantor ou grupo, que ia  no programa, cantava várias músicas, até chegando a repetir algumas, tamanho o bom desempenho. Num único programa chegavam a estar vários nomes. No dia 7 de abril de 2002, Gugu recebeu Zezé Di Camargo & Luciano, Leonardo, Daniel, José Camilo, Wanessa Camargo e Pedro & Thiago. Todos permaneceram por mais de duas horas e com a audiência nas alturas. Antes de começarem a cantar, os convidados contaram piadas e relembraram participações em programas do SBT. Tudo isso Gugu fazia pra render a participação e segurar o público, o que acabava dando certo. O público continuava acompanhando, sem trocar de canal.

KLB recebendo premiação por discos vendidos no palco do Domingo Legal. Foto: Reprodução.

TODO MUNDO QUERIA SABER

As vitórias de Gugu pra cima do Faustão renderam muitas reportagens de jornais e revistas. O apresentador do SBT estampou algumas capas. Em 25 de abril de 2001, Gugu apareceu na capa da revista Veja, até hoje, considerada uma das revistas mais vendidas do país. “O Domingão é dele”, dizia o título, reforçando as vitórias aos domingos.

Gugu estampando a capa da revista Veja. Foto: Reprodução,

SEIS ANOS PAU A PAU

Gugu atormentou Faustão por cerca de seis anos, de 1997 até 2002. O ano mais marcante foi de 2001, ápice da disputa, quando Gugu tomou a liderança anual com ampla vantagem. O Domingo Legal teve 26 pontos contra 21 do Domingão do Faustão. Naquele ano, das 52 disputas, Gugu ganhou 50. Um ano antes, ele já tinha vencido, 21 a 20, e, em 2002, houve um empate com 23 pontos para cada. Faustão havia reagido e Gugu acentuou uma pequena queda. Mas, ainda assim, Gugu obrigava a Globo investir no Domingão do Faustão. Foi o que fizeram e, aos poucos, tomaram a liderança aos domingos. Nas primeiras 10 semanas de 2003, Gugu venceu apenas duas. Na média anual daquele ano, contando as primeiras 10 semanas, o Domingo Legal anotou 17 pontos contra 20 do Domingão do Faustão.

Gugu numa das edições do Domingo Legal de 2001. Foto: Reprodução.

UMA PARCERIA DE GIGANTES

Justamente no ano que Faustão começou virar o jogo pra cima de Gugu, o Brasil acompanhou um momento histórico. Em 2003, a Nestlé realizou uma mega campanha, numa parceria com o programa Fome Zero, com o objetivo de distribuir 248 casas no valor de R$ 40 mil. A empresa, então, reuniu nomes da televisão e da música para participar da campanha, como Fernanda Montenegro, Hebe Camargo, Sandy & Junior e, claro, Gugu e Faustão.

Gugu e Faustão durante a campanha Junta Brasil. Foto: Reprodução.

UM DIA PRA NUNCA ESQUECER

Gugu e Faustão foram responsáveis pela cena mais improvável. Faustão apareceu na tela do SBT e Gugu na tela da Globo ao mesmo tempo para divulgar a campanha. Eles dividiram tela e conversaram durante quatro minutos. Nem os próprios apresentadores estavam acreditando no que estava acontecendo. Imagine, os dois maiores rivais dos domingos interagindo, um aparecendo no programa do outro. “Eu acho que o país inteiro nunca imaginou eu e você juntos e ao vivo em pleno Domingão’, disse Gugu durante a ação. “E agora a galera do Domingão entrando no Domingo Legal”, completou Faustão. Esse momento, até hoje, é considerado um marco.

Gugu e Faustão interagindo na televisão. Foto: Reprodução.

CONCORRENTES E NÃO INIMIGOS

A partir de 2003, a briga passou ser mais tranquila com uma maior vantagem para Faustão, que não precisava mais quebrar tanto a cabeça para vencer Gugu, já que o Domingo Legal começou liderar em edições pontuais e fechar com maior frequência na vice-liderança. Ou seja, a disputa já não era mais a mesma. A última maior audiência, sob o comandando de Gugu, aconteceu no dia 3 de agosto de 2008. O Domingo Legal anotou 19 pontos de média e 28 de pico. Além de ter sido impulsionado pelo share alto e a boa entrega do Programa Silvio Santos, que tinha estreado o quadro Pergunte pra Maisa, Gugu recebeu Sheyla Almeida com as maiores próteses de silicone da América Latina e exibiu uma nova edição do quadro Construindo um Sonho. O tempo passou, e, em 2009, cerca de um ano depois, Gugu migrou para a Record, saindo pouco depois da guerra dos domingos. No dia 24 de novembro de 2019, dias após a morte de Gugu, Faustão abriu o programa prestando uma homenagem para o ex-apresentador do SBT. “Gugu foi uma das figuras mais importantes da televisão”, disse o apresentador. “Nós durante alguns anos disputamos a audiência. Ele até foi líder de audiência alguns anos. Nós nunca tivemos nenhum problema. Ao contrário, nós fomos adversários.  Jamais fomos inimigos.”, relembrou Faustão.

Faustão durante depoimento marcante sobre Gugu, após a morte do apresentador. Foto: Reprodução.

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