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Psicologia

Filmes e séries podem influenciar comportamento de jovens? Psicólogos respondem

Sul-coreana 'Round 6', que apresenta brincadeiras infantis em contexto de violência, levantou debate

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SBT News

Por SBT News

Foto: Twitter Netflix | Reprodução.
Foto: Twitter Netflix | Reprodução.

A hospitalização de um adolescente de 14 anos que sofreu queimaduras de 3º grau, em Sydney, na Austrália, enquanto tentava fazer o biscoito coreano colmeia de açúcar, ou dalgona, para reproduzir um desafio do TikTok inspirado na segunda competição da série Round 6 instigou novas reflexões na internet, na última semana, sobre se de fato conteúdos como a produção distribuída pela Netflix podem influenciar ou não o comportamento de crianças e jovens.

O caso foi revelado pelo jornal britânico Daily Mail. Porém, antes, uma brincadeira inspirada na série já havia terminado com cinco crianças feridas em um colégio na França e uma unidade de ensino de Brasília enviou um comunicado aos pais dos alunos alertando sobre Round 6. Para especialistas, séries violentas como a sul-coreana podem influenciar o comportamento de menores de idade, mas o tipo e grau de influência depende de outros fatores.

Segundo o doutor em psicologia, professor da IMED e associado da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP) Jean Von Hohendorff, “uma criança que talvez tenha nessa série um único modelo comportamental ou que essa série reflita também o seu cotidiano, uma criança que vive num cotidiano violento, possivelmente essa série vai ser um fator que contribuirá para o comportamento violento”. “Dentro da psicologia a gente tem várias teorias que buscam explicar o comportamento. Uma delas indica que as crianças tendem a aprender comportamentos observando. Essa observação pode ser tanto de comportamentos que estão acontecendo perto da criança, ao vivo, ou comportamentos que ela observa na televisão, por exemplo”, completou.

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Dessa forma, explica o professor, no caso daquelas que vivem em um ambiente no qual não são incentivadas a serem violentas, a série terá “pouco efeito”. Round 6 chegou ao Brasil em 17 de setembro com classificação indicativa de 16 anos, mas atualmente está em 18 anos – usada para conteúdos com apologia à violência, sexo explícito e/ou apologia ao uso de droga ilícita, entre outras coisas. De acordo com Von Hohendorff, é importante respeitar a classificação, porque geralmente “vem de uma análise que é feita do conteúdo daquela obra que está sendo exibida, para verificar então se ela é adequada para algumas faixas etárias. Crianças, adolescentes muitas vezes não têm ainda a maturidade cognitiva, emocional para dar conta de alguns conteúdos”.

Ele acrescenta que é importante se atentar para o tempo que os pequenos passam na frente da televisão, visto que, quando muito novos, não é adequado assistirem. Porém, se indepentemente das recomendações os pais decidirem permitir que os filhos menores de idade vejam as séries, precisam estar cientes da possibilidade de contribuir para um comportamento violento e, portanto, não deixar de conversar sobre o que está sendo mostrado.

“Poderia ser uma oportunidade de estabelecer um diálogo com essa criança ou adolescente sobre limites, sobre o que é ou não possível em termos de comportamento e de violência”, pontuou Von Hohendorff. Na visão do professor, “séries podem ser um material muito rico para que professores, educadores utilizem para discutir o que está aparecendo ali”. Por outro lado, avalia que, no Brasil, os educadores não tem acesso à capacitação necessária para desenvolveram esse tipo de atividade.

A professora Belinda Mandelbaum, do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho (PST) do Instituto de Psicologia da USP, por sua vez, diz que as séries “seguramente influenciam” o corportamento de crianças e jovens, mas que o tipo de influência depende de outras características da pessoa. “Eu acho que aquilo que a gente assiste, aquilo que a gente consome, aquilo que a gente põe para dentro da gente, seja a comida que a gente põe, os filmes que a gente vê, o que a gente lê, tudo isso faz o seu ‘processo digestivo’ dentro de nós. Tudo que a gente ‘põe para dentro’. E a gente pode comer alimentos tóxicos, pode ler coisas tóxicas, pode assistir coisas tóxicas. Então é muito difícil que hajam crianças ou adolescentes para quem tudo bem esse tipo de coisa”, pomderou.

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Refletindo especificamente sobre Round 6, Mandelbaum fala que, por compartilharem da ansiedade da família nos momentos de dificuldade financeira, crianças com o pai desempregado ou endividado, por exemplo, podem ficar ainda mais ansiosas ao ver a série. Ainda na visão da professora, ninguém deveria assistir à produção sul-coreana, independentemente da classificação indicativa. 

“Tudo que está lá transmite mensagens eticamente muito questionáveis para dizer o mínimo para crianças e adolescentes. São pessoas que estão desempregadas, que estão endividados e que então se submetem a participar desse jogo. Com uma expectativa de que quem ganhar vai ganhar muitos milhões de dólares. Mas também se perder, em qualquer um dos rounds, é morto. Então parece que a a mensagem que está sendo transmitida é que assim ou você na vida é um ganhador absoluto, que vai ficar bilionário, ou você vai ser um perdedor absoluto e o seu destino é ser exterminado”, argumentou. 

Mandelbaum classifica como “absolutamente perverso” a violência que a série introduz em brincadeira infantis, entre as quais cabo de guerra e bolas de gude, e lembra que existem outras formas de discutir sobre temas importantes abordados pela série: “Tem crianças que vivem em ambientes muito violentos, e é claro que é preciso conversar com elas sobre a violência. A criança precisa poder elaborar essas situações, mas em outro contexto. Num contexto de vida, de acolhimento, de afeto, e não sendo exposta dessa forma”.

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