João Silva

Graduado em economia e relações internacionais pela Boston Univeristy. Mestre em relações internacionais na University of Chicago e mestre em finanças pela University of Miami.


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João Victor da Silva

Otimismo começa a tomar conta da economia do País

Felizmente, nas últimas semanas, ventos de otimismo começam a dominar o Brasil.

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Foto: Pixabay
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No Brasil, o ano começou trazendo muita incerteza e desconfiança para o futuro da economia, política e sociedade brasileira. No primeiro trimestre enfrentamos o pior período da pandemia no país, com recordes no número de mortes e contágios. O real, em março, voltou a sofrer com uma forte depreciação, com um dólar chegando a valer 5,88 reais. O cenário político começou a piorar com a queda da popularidade do Presidente Bolsonaro e o início da CPI da COVID-19. Ademais, intensificava-se a pressão do exterior sobre a política ambiental brasileira. A verdade é que diante de tantas incertezas muitos economistas acreditavam que a economia brasileira voltaria a patinar em 2021 – parecia que estávamos sob uma tempestade perfeita.

Felizmente, nas últimas semanas, ventos de otimismo começam a dominar o Brasil. Os indicadores econômicos revelados nas últimas semanas demonstraram uma recuperação econômica surpreendente do país, fazendo com que nosso nível de atividade econômica recuperasse o patamar pré-pandemia e levando algumas instituições financeiras a elevarem as projeções de crescimento do PIB brasileiro para mais de 5% em 2020. Afinal de contas, houve uma avalanche de indicadores econômicos positivos no período, tais como:

  • Criação de 957.889 postos de trabalho entre janeiro e abril;
  • Alta de 1,2% no PIB do 1º trimestre, acima da mediana das expectativas do mercado que era de 0,7%;
  • A balança comercial do país teve o melhor maio da história com um superávit de US$ 9,3 bilhões;
  • O governo federal teve uma arrecadação recorde em abril de R$ 156,8 bilhões;
  • Alguns setores tiveram um crescimento extraordinário no 1º trimestre, especialmente a agricultura (5,7%), construção civil (2,1%), indústria extrativa (3,2%), e transportes, armazenagem e correio (3,6%);
  • Além disso, os investimentos apresentaram um crescimento de 4,6% no 1º trimestre.

Apesar da surpresa de muitos com a rápida recuperação econômica do país, medidas tomadas pelo governo e pelo Congresso associadas a recuperação da economia internacional já indicavam que o Brasil poderia voltar a experimentar um crescimento econômico acelerado.

Situação peculiar na história brasileira

No âmbito da política monetária, hoje vivemos uma situação peculiar na história brasileira. Apesar da alta da taxa Selic nos últimos meses, continuamos sob um ambiente de juro real negativo. Ou seja, as taxas de inflação (IPCA) são superiores a taxa Selic. A despeito da tendência de alta da inflação, um ambiente de juros baixos tem fundamentalmente dois efeitos positivos na economia. Em primeiro lugar, o real tende a se depreciar frente a moedas fortes como o dólar. Isto favorece as exportações do Brasil que se tornam mais competitivas no mercado internacional e torna mais atrativo o consumo de produtos locais pela população. Em segundo lugar, com juros reais negativos aplicações em investimentos tradicionais acabam não preservando nem o poder de compra dos recursos investidos. Assim sendo, indivíduos e empresas passam a ter o incentivo de gastar estes recursos, assim, aumentando o consumo e o investimento no setor produtivo da economia. Logo, aumenta-se a capacidade de crescimento do país.

A política fiscal também tem ajudado na recuperação econômica de curto prazo do país. Em 2021 a retomada do auxílio emergencial deve colocar cerca de R$ 44 bilhões na economia. Já o PRONAMPE, um programa de crédito para pequenas empresas deve injetar mais R$ 25 bilhões na economia. Estima-se que o Benefício Emergencial de Emprego custe aos cofres públicos R$ 10 bilhões, enquanto os gastos com o combate a COVID-19 devem custar R$ 101,5 bilhões.

O Congresso também ajudou com a recuperação econômica ao aprovar leis que melhorar o ambiente regulatório do país, que em última instância vão tornar nossa economia mais dinâmica, assim, atraindo mais investimentos. A aprovação de leis como a autonomia do Banco Central, a lei de Liberdade Econômica e o Marco Legal das Startups são alguns exemplos de novas legislações que devem melhorar o ambiente econômico do país, ao passo que a política econômica ganha mais credibilidade e torna-se menos burocráticas as atividades empresariais no país.

Economia internacional

A recuperação da economia internacional é outro fator fundamental para entendermos a recuperação da economia brasileira. Após o longo período de restrições a atividade economia das maiores economias globais, a demanda por commodities (produtos primários como minérios e alimentos) vem crescendo substancialmente. Afinal de contas, com uma demanda reprimida ao longo de 2020 e com a criação de grandes pacotes de estímulo econômico realizados pelos governos das grandes potências mundiais, o comércio internacional está crescendo rapidamente. Este cenário econômico é extremamente favorável ao Brasil, pois o mercado de commodities é justamente o mercado que o país tem mais vantagens no mercado internacional. Logo, não é de se estranhar que a agropecuária foi o setor da economia que experimentou o maior crescimento no primeiro trimestre de 2021.

Em última instância, a mentalidade otimista que começa a tomar conta da população é fundamental para a recuperação econômica em “V” da economia brasileira. Com mais otimismo as pessoas têm mais confiança em consumir e investir na economia do país. A percepção que o otimismo das pessoas que o otimismo leva a recuperação econômica é inclusive corroborada por estudos acadêmicos. Em um trabalho publicado por pelos professores Vidhi Chhaochharia, George M. Korniotis e Alok Kumar, da Universidade de Miami, sobre os efeitos do humor da população de diversos estados americanos no crescimento econômico de seus respectivos estados concluiu-se que “recessões econômicas são mais fracas e as expansões mais fortes nos estados dos EUA, onde a população local é mais otimista”. O mesmo deve ocorrer no Brasil. No entanto, para o país preservar e ampliar a mentalidade otimista da população é importante que a classe política garanta a estabilidade política do país e dê prosseguimento aos projetos de reformas econômicas e privatizações que são fundamentais para convertermos nosso crescimento baseado no consumo, em um crescimento econômico sustentável, baseado em investimentos.

Em um artigo publicado em março intitulado o “Estamos caminhando para mais uma década permitida” argumentei que o resultado negativo do PIB de 2020 associado ao ambiente de desconfiança que tínhamos no início do ano poderia comprometer nossa capacidade de crescimento, ao menos que realizássemos as reformas econômicas necessárias para fomentar o crescimento econômico do Brasil. Independentemente do maior otimismo da população acerca do futuro da economia, o mesmo raciocínio do artigo de março continua a valer hoje: o Brasil só manterá o otimismo e voltará crescer caso seja desenvolvido um ambiente de maior liberdade econômica, a estrutura do Estado brasileiro seja remodelada e o ambiente político torne-se mais estável.


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