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Calor extremo

Brasil terá onda de calor com temperaturas perto dos 40ºC: por que está tão quente este ano?

Aumento nas temperaturas notado neste ano deve perdurar até abril

• Atualizado

Estadão Conteúdo

Por Estadão Conteúdo

Foto: Arquivo | Fernando Frazão | Agência Brasil
Foto: Arquivo | Fernando Frazão | Agência Brasil

O Brasil viverá uma nova onda de calor cujas máximas deverão atingir recordes históricos nos próximos dias. Segundo a empresa MetSul, mesmo cidades habituadas ao calor poderão apresentar máximas que chegam a ser 15ºC superiores à média para o período. Mas o que explica esse calor extremo?

O fenômeno El Niño tem a sua contribuição, mas este e outros episódios de calor extremo que o País sofreu nos últimos meses não podem ser atribuídos exclusivamente a ele.

“O fenômeno tende a favorecer o aumento de temperatura em várias regiões do planeta, e favorece eventos extremos de calor na América do Sul”, diz Karina Bruno Lima, doutoranda em Climatologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e divulgadora científica.

“Mas, em setembro, tivemos uma onda de calor, e houve um estudo de atribuição para verificar qual o papel das mudanças climáticas naquela ocasião. Verificou-se que a contribuição do El Niño foi pequena em comparação com o aumento do aquecimento global antropogênico (causado pelo homem).”

Onda de calor

Na quarta-feira (8), o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu aviso meteorológico especial de nível amarelo (perigo potencial) de onda de calor. Segundo o comunicado, ele abrange áreas do Centro-Oeste e Sudeste do País (sobretudo São Paulo, Minas, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O Inmet informa que o forte calor deverá permanecer em algumas áreas até a metade da próxima semana.

– O nível amarelo é emitido quando a previsão do tempo indica que as temperaturas devem ficar pelo menos 5ºC acima da média pelo período de dois a três dias consecutivos. Desta vez, contudo, a previsão é de máximas ainda maiores.

“Os dados analisados pela MetSul Meteorologia indicam que há potencial deste novo episódio de calor excepcional superar em intensidade os eventos históricos de calor de setembro e outubro O que os modelos mostram de calor é tão extraordinário e fora da curva histórica que a onda de calor pode ser a mais intensa já registrada no Brasil em valores de temperatura máxima”, informa a Metsul.

Em São Paulo, a capital paulista está em estado de atenção para altas temperaturas, decretado pela Defesa Civil Municipal. Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências da Prefeitura, no sábado os termômetros devem marcar até 35°C. No domingo, pode chegar a 37°C à tarde.

Em alguns municípios, principalmente em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, as temperaturas máximas devem superar os 42°C neste semana. Na terça-feira (7), o município de Porto Murtinho (MS) já registrou 42,3°C. Em Cuiabá, a temperatura chegou a 40,4°C.

Cúpula de calor

Karina Lima explica que isso está associado ao que os especialistas chamam de domo de calor, ou cúpula de calor. “É um fenômeno que ocorre quando uma área de alta pressão permanece por algum tempo na mesma região, prendendo o ar quente”, explica “Isso cria condições estáveis, secas e de temperaturas altas por um período prolongado”, afirma.

“O solo ressecado deixa o ar mais quente e o ar mais quente acaba provocando um ressecamento cada vez maior. Temos de imaginar um ciclo fechado que vai se retroalimentando”, afirma a meteorologista Estael Sias, da MetSul. Segundo ela, há uma grande área de ar seco sobre o País, que impede a chegada da chuva. Esse período deve causar prejuízos agrícolas e grande desconforto térmico.

Ela lembra que ainda precisam ser feitos estudos de atribuição para esclarecer os motivos da atual onda de calor, mas ressalta que diversas pesquisas já apontam para uma frequência maior desses casos, que também têm sido mais intensos e prolongados.

E o que eles demonstram está associado à ação humana. “Com certeza, por causa do aquecimento global antropogênico, a gente tem muito calor ‘preso’, retido no nosso sistema. Isso aumenta a chance desse tipo de ocorrências”, pontua Karina. “É um problema que temos de pensar na mitigação, frear o aquecimento global, para frear a questão dos eventos extremos também.”

A climatologista também faz um alerta. “A gente também tem de pensar na adaptação. Precisamos nos adaptar ao mundo que já temos. Ele não está adaptado a esse aquecimento global”, ressalta Karina. Para os próximos meses, no verão, a tendência projetada pelos especialistas é de calor úmido, o que não eleva tanto as temperaturas, mas piora sensação térmica.

Além das altas temperaturas, o El Niño está associado à forte estiagem na Amazônia, que tem sofrido com rios secos, cuja navegação foi interrompida, uma série de queimadas e nuvens de fumaça sobre Manaus. Como o Estadão mostrou, o governo federal admitiu a estrutura insuficiente para combater os incêndios, disse que vai pedir mais recursos ao Fundo Amazônia no fim do ano, mas não apresentou um reforço na resposta emergencial à crise.

Pico do El Niño ainda não chegou

Relatório divulgado pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM) nessa terça-feira, 7, aponta que o fenômeno El Niño, relacionado ao aumento nas temperaturas notado neste ano, deve perdurar até abril. Com isso, é muito provável que os termômetros disparem ainda mais neste fim de ano e em 2024.

O fenômeno só chegou a uma consistência, de acordo com os registros de temperatura da superfície do mar e outros indicadores, em outubro. Por isso, a expectativa da organização é que ele ainda não tenha atingido o seu maior pico.

“Provavelmente, (o El Niño) atingirá o pico, como um evento forte, em novembro-janeiro de 2024. Há uma probabilidade de 90% de que persista durante o próximo inverno/sul do hemisfério norte (verão no Brasil e demais países do hemisfério sul)”, afirma a OMM.

Com a persistência das altas temperaturas e a subida ainda maior nos termômetros, os impactos no planeta e na saúde humana devem continuar, alertam os especialistas que assinam, junto à OMM, o relatório.

No último fim de semana, uma tempestade atípica em São Paulo derrubou árvores e afetou a rede elétrica. Mais de 2,1 milhões de endereços ficaram sem luz. Em Manaus, no Amazonas, queimadas já têm forçado moradores voltarem a utilizar máscaras. E, no sul do País, a passagem de ciclones já matou dezenas de pessoas este ano. (Colaborou Giovanna Castro)

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