Aos 53 anos, mãe vira barriga solidária da filha em Florianópolis
O parto ocorreu na clínica e maternidade Santa Helena, em Florianópolis
• Atualizado
Rosicléia de Abreu Carlsem, auxiliar de sala da rede municipal de ensino de Florianópolis, é uma mistura de mãe e avó da pequena Maria Clara. Aos 53 anos de idade, foi barriga solidária da própria filha, Ingrid Carlsem, 29 anos, técnica de enfermagem.
Barriga Solidária, ou útero de substituição, é um dos tratamentos feitos por mulheres que não conseguem engravidar por problemas de saúde. A prática só pode ser feita quando não há lucro envolvido.
Ingrid teve em 2014 uma embolia pulmonar e uma trombose venosa profunda por possuir maior facilidade para formar coágulos de sangue. Essa condição é chamada de trombofilia.
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Ficou com sequelas na perna esquerda e corria o risco de amputá-la. Por esse motivo, teve que passar por uma angioplastia em 2016. Recebeu dois stentes para desobstruir as veias do local afetado.
Os médicos desaconselharam-na a ter filhos. “Se você tentar, você vai morrer”, sentenciaram.
“Mãe, você faria por mim se um dia eu precisasse?”
Mãe e filha já sabiam o que fazer. A conversa entre as duas sobre a barriga solidária ocorreu anos antes de Ingrid ter descoberto a doença dela. Depois de ter assistido a uma reportagem na televisão, onde a sogra gerava a neta para sua nora, Ingrid perguntou a Rosicléia: “mãe, você faria isso por mim se um dia eu precisasse?”. Resposta: “claro que sim!”, disse.
“Então estamos conversadas, se um dia eu necessitar já sabemos como proceder”, relembra a filha.
“Uma mãe se doa de corpo e alma para uma filha. Sinto-me grata e honrada em exercer esse papel tão importante que é gerar uma nova vida, minha neta”, relata Rosicléia.
Fizeram uma vaquinha online devido ao alto custo do procedimento de fertilização in vitro. “Nós somos de família humilde, e sem a solidariedade de amigos, familiares e equipe médica, nada seria possível”, frisa Ingrid. Além da vaquinha, realizaram também uma rifa, e confeccionaram máscaras de tecido para agregar no valor. “Tudo com muita honestidade e perseverança”.
A terceira maria
O parto ocorreu na clínica e maternidade Santa Helena, em Florianópolis, na última quinta-feira. Maria Clara nasceu às 10 horas e 56 minutos. Veio ao mundo com 37 semanas e 3 dias, medindo 49cm e pesando 3 quilos e 310 gramas.
Maria em homenagem materna a avó e a bisavó, que possuíam esse nome, e Clara, por ser luz para toda a família, discorre Ingrid.
Detalhe. Rosicléia ficou orfã de mãe aos 13 anos. Foi criada por outra Maria, a avó dela, mulher de garra e coragem. Passaram-se 40 anos, e Rosicléia pariu uma outra Maria, sua neta.
“O gesto da minha mãe foi de grandeza, de uma mulher nobre, talvez mesmo eu tentando mencionar ou descrever em palavras, jamais conseguirei especifica o quão valiosa ela é para mim”, relata Ingrid.
Rosicléia salienta que ter um filho, para Ingrid, foi a realização de um sonho de menina, que lutou muito, superou a morte, e hoje é uma mulher, uma mãe que com certeza dará tudo de si para que Maria Clara seja muito feliz e amada.
Ingrid é casada com Fabiano, agora pai de Maria Clara. A pequena tem ainda o avô Tomaz e o tio Donatan, por parte de mãe. E será paparicada também, pelo lado de Fabiano, pelos avós Genézio e Odila e pelos tios Franciele e Adriano.
Rosicléia de Abreu Carlsem é pedagoga, exercendo o cargo de auxiliar de sala no Núcleo de Educação Infantil Municipal Hassis, na Costeira do Pirajubaé.
Como professora substituta, esteve na rede municipal de ensino em 2012, passando a ser efetiva em agosto de 2018.
Para o secretário de Educação de Florianópolis, Maurício Fernandes Pereira, Rosicléia já exerce uma das atividades mais nobres, que é a educação de uma criança. “Fez agora mais um gesto extraordinário, o de ser barriga solidária. Ela tem a educação como o elemento mais importante para a cidadania de uma pessoa. Rosicléia está de parabéns”, complementa.
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