Pesquisa revela aumento de consumo nocivo de álcool durante quarentena no Brasil
O abuso de álcool subiu na América Latina durante a pandemia e, no Brasil, 42% dos entrevistados relataram alto consumo da substância
• Atualizado
Fim do expediente no home office e você abre uma cerveja para relaxar: o que é um hábito inofensivo para muitos pode se tornar perigoso se adotado com frequência. De acordo com pesquisa feita pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o abuso de álcool subiu na América Latina durante a pandemia e, no Brasil, 42% dos entrevistados relataram alto consumo da substância.
Do total de 3.799 entrevistados no Brasil, 52,8% relataram o uso da bebida alcoólica como método para relaxar de ao menos um sintoma emocional como ansiedade, nervosismo, insônia, preocupação e irritabilidade. Para o psicólogo Zacarias Ramalho, esse comportamento é problemático, porque funciona como um refúgio não saudável para sentimentos de medo e de solidão.
“Esse hábito pode vir a se transformar em uma dependência, porque é um comportamento voltado às faltas que afloraram durante o isolamento. Há pessoas que não desenvolveram sua resiliência, que é a capacidade de atravessar situações conflituosas, e é perigoso fazer uso da bebida alcoólica como mecanismo de defesa, para não vivenciar um momento de sofrimento de fato”, afirma o psicólogo.
Na pesquisa realizada entre maio e junho de 2020 também foi observado nos entrevistados entre 30 e 39 anos um aumento do comportamento conhecido como Beber Pesado Episódico (BPE), que ocorre quando a pessoa ingere cerca de cinco doses de bebida, o equivalente a 60 gramas de álcool, em uma única ocasião.
O especialista alerta que o consumo nocivo de bebidas alcoólicas, antes do vício, já é considerado um transtorno mental. “Neste momento, o indivíduo já possui uma condição patológica que necessita de acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, porque o uso abusivo pode levar a transtornos mais graves, com consequências físicas, psicológicas e comportamentais, como agravamento da violência doméstica, acidentes de trânsitos, dentre outros”, explica. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), três milhões de mortes por ano resultam do uso nocivo do álcool.
Além de afetar quem consome a bebida de forma desequilibrada, o alcoolismo é uma doença que atinge também todos os que estão à sua volta. “O sujeito que vivencia o alcoolismo, ou outros transtornos associados ao uso de substâncias psicoativas, tem perdas no processo de interação que podem afetar seus empregos e família, já que se isola do meio no qual convive, devido aos prejuízos que o alcoolismo causa”, destaca.
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