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Ato de amor

Mesmo diante das dificuldades da pandemia, 22 crianças foram adotadas em Chapecó em 2020

Do total de adoções, duas famílias adotaram grupos de dois irmãos e duas famílias adotaram três irmãos.

• Atualizado

Redação

Por Redação

Foto: Divulgação / Pixabay.
Foto: Divulgação / Pixabay.

A comarca de Chapecó promoveu neste ano, até o início de dezembro, a adoção de 22 crianças e adolescentes por 16 famílias. Deste total, foram 10 meninas (oito crianças e duas adolescentes) e 12 meninos (10 crianças e dois adolescentes). Duas famílias adotaram grupos de dois irmãos e duas famílias adotaram grupos de três irmãos.

Desses 22, seis são provenientes de outras comarcas e foram adotados por famílias de Chapecó. Os demais são crianças da própria comarca. Outras duas ações de adoção estão em andamento mas serão contabilizadas apenas ao final do processo, com previsão de ocorrer ainda em 2020. De todas essas adoções, somente quatro eram de recém-nascidos.

A busca por um perfil ideal, aliás, segue como um entrave no processo de adoção. A realidade é que a grande maioria dos adotantes, explica a assistente social da comarca, Katiane Centenaro, ainda espera encontrar crianças totalmente saudáveis, mas se esquecem de que, por vezes, o recém-nascido é filho de usuários de drogas ou gerado por famílias em situações de vulnerabilidade.

“Os pretendentes sonham adotar uma criança para vivenciarem todas as etapas da vida do filho. Ocorre que uma grande parte das crianças e adolescentes que estão disponíveis para adoção tem questões de saúde a serem tratadas. Um dos diagnósticos mais comuns é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e atrasos no desenvolvimento infantil. Então fazem uso de medicamentos e precisam de atendimentos profissionais especializados. Apesar dessa realidade, a maioria dos pretendentes só aceita crianças saudáveis”, explica Katiane. 

A assistente social enfatiza que as crianças e adolescentes acolhidos geralmente retornam para casa depois de um período de acompanhamento e estruturação da família. Somente em casos extremos, quando a família não consegue se reorganizar mesmo com o apoio das políticas públicas, é que os jovens ficam aptos à adoção.

Ela salienta ainda que essas crianças e adolescentes fazem parte de grupos de irmãos, muitas vezes de quatro a seis crianças, e que a grande maioria desses grupos tem ao menos um adolescente. As crianças e adolescentes, quando não são adotados, ficam no abrigo municipal até completarem 18 anos e então precisam sair.

Outra realidade apontada por Katiane é que o preconceito com as gestantes que manifestam o desejo de entregar seus filhos para adoção ainda é grande, inclusive entre profissionais que deveriam acolher e encaminhar essas mães ao Judiciário. “Muitas mulheres relatam que desistiram de fazer o pré-natal após profissionais tentarem convencê-las a ficar com o bebê, sem ouvirem os motivos que levaram àquela decisão”, comenta.

Entre os familiares das gestantes a discriminação é ainda maior. “Ouvimos falas do tipo: ‘Nem cadela abandona seus filhos’, ou então, ‘Por que não pensou na gravidez na hora de fazer o filho?’. As pessoas pensam na entrega para adoção como se fosse um abandono, quando na verdade é um direito da mãe. É uma virtude ter a clareza de não possuir condições emocionais para viver a maternidade e não esperar conviver com um filho que não foi planejado, querido e desejado desde a concepção”, afirma a profissional. 

“A adoção não pode ser romantizada. É um processo difícil emocionalmente e as crianças que muitos pretendentes buscam simplesmente não existem. Precisamos capacitar os profissionais da rede pública para que acolham e orientem as gestantes sobre seus direitos, e também mostrar à sociedade como um todo que a entrega do filho para adoção é um ato de amor”, conclui Katiane.

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