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recordes negativos

Destruição da Amazônia é 3 vezes maior que a cidade de Fortaleza em junho

Área desmatada nos últimos 11 meses cresceu 51% na Amazônia, segundo dados do Imazon

• Atualizado

SBT News

Por SBT News

Altamaria e outras 3 cidades concentram 52% de toda a devastação registrada no Pará | Foto: Divulgação | Ibama. Via: SBT News
Altamaria e outras 3 cidades concentram 52% de toda a devastação registrada no Pará | Foto: Divulgação | Ibama. Via: SBT News

A Amazônia perdeu em junho deste ano uma área de floresta de 926 km², território quase três vezes maior do que a cidade de Fortaleza, segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). A área desmatada nos últimos 11 meses, de agosto de 2020 até junho de 2021, chegou a 8.381 km². Isso significa um aumento 51% em relação ao período de agosto de 2019 a junho de 2020, que somou 5.533 km² de devastação.

“Já vínhamos acompanhando esse aumento do desmatamento mensalmente, com recordes negativos. As áreas desmatadas em março, abril e maio foram as maiores dos últimos 10 anos para cada mês. E, se analisarmos apenas o acumulado em 2021, o desmatamento também é o pior da última década”, comenta o pesquisador do Imazon Antônio Fonseca.

O Pará lidera o ranking dos estados com maiores taxas anuais de desmatamento, com destaque em 4 municípios: Altamira, São Félix do Xingu, Novo Progresso e Itaituba, que somaram 174 km² de área desmatada.

“Apenas essas quatro cidades concentram 52% de toda a devastação registrada no Pará. E uma parcela do desmatamento que ocorre nesses municípios está situada em áreas sem destinação de uso, o que caracteriza o processo de ocupação da terra através de ações de grilagem para regularização futura”, relata Fonseca.

No Amazonas, a destruição do bioma segue aumentando na região Sul do estado, onde ficam quatro dos 10 municípios que mais desmataram em junho: Lábrea, Apuí, Boca do Acre e Novo Aripuanã. Juntos, eles somaram 143 km² de floresta destruída em junho.

Como a degradação ambiental contribuiu para atual crise hídrica

Entre os fatores que podem ter contribuído para o surgimento da crise hídrica em curso no Brasil, responsável, por exemplo, pela elevação do preço da conta de luz, estão o desmatamento e o aquecimento global. O aumento da fiscalização para combater a derrubada de árvores e as queimadas, a diminuição da emissão de gases do efeito estufa e o reflorestamento são algumas das medidas a serem consideradas pelo poder público no curto e longo prazo se o objetivo for de fato evitar mudanças climáticas e escassez de chuva, segundo especialistas.

O país passa por uma crise no abastecimento de água nos reservatórios de hidrelétricas no mesmo ano em que, de acordo com o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento cresceu por quatro meses consecutivos. Além disso, no ano passado, segundo boletim do Instituto do Homem e Meio Ambiente (Imazon), a Amazônia teve o maior deflorestamento da última década. E nas palavras do professor Tércio Ambrizzi, do Grupo de Estudos Climáticos da Universidade de São Paulo (GrEC/USP), “sem dúvida alguma o fato de estarmos desmatando a Floresta Amazônica tem um impacto muito grande na floresta em si, no seu ciclo de água, na parte importante de reter umidade, e essa umidade sempre é transportada para as regiões do sudeste da América do Sul”.

Em entrevista ao SBT News, ele pontou ainda que “o que nós estamos vendo são grandes extremos climáticos ocorrendo não só Brasil, mas no mundo inteiro”. O motivo, explica, é o aquecimento global, relacionado à “queima de combustíveis fósseis, à própria destruição do meio ambiente, a degradação de matas e outros componentes do nosso planeta”. Por causa desse processo, segundo o professor, por volta de 2013, o Sudeste brasileiro passou a ter um nível de chuvas abaixo da média observada até então. 

A informação é reforçada pelo professor Márcio Cataldi, do Grupo de Estudos do Meio Ambiente da Universidade Federal Fluminense (GEMA/UFF). Ele acrescenta, porém, que — possivelmente devido ao aquecimento global e, consequentemente, à elevação da temperatura do Oceano Atlântico Equatorial — cresceu o número de bloqueios no Sudeste brasileiro, ou seja, as massas de ar seco são mais numerosas na região. Já em relação à importância da preservação da Amazônia para evitar queda no número de precipitações, ele afirmou que “quando a gente tem a chuva, principalmente no Sudeste, ou quando tem frentes frias, a gente normalmente conta com um aporte, com o transporte de umidade, da região amazônica, que passa pela região central, região do Pantanal também”.

“E a vegetação faz um processo que a gente chama de evapotranspiração, que libera umidade para a atmosfera de volta. Essa evapotranspiração tem feito com que a umidade da região amazônica para cá venha sendo cada ano mais deficitária [por causa do encolhimento da vegetação]”, completou. 

A destruição da Amazônia, então, contribui em dobro para as mudanças climáticas e falta de chuvas; Tércio relembra que “o fato de você ter um desmatamento ou fato de você ter uma queimada, prejudica o solo, aquele solo pode não gerar uma árvore do mesmo tamanho que estava ali, que se queimou, portanto essa árvore deixa de absorver o CO2 da atmosfera e você então tem um solo ali degradado que não vai estar absorvendo tanto CO2 e a própria queimada já eliminou um monte [de gás carbônico] para a atmosfera”.

Retrocessos na preocupação ambiental

Ambos os professores observam ter ocorrido um retrocesso na preocupação para com o meio ambiente nos últimos anos no Brasil. Segundo Tércio, as nações entenderam que o ser humano influencia o clima por meio de emissões de gases e que precisam agir: “Desde a Rio 92, a Eco-92, depois nós tivemos a Rio+20, 20 anos depois, o mundo começou a ter uma consciência maior e hoje nós temos um diálogo em termos de ações de sustentabilidade muito mais fortes. Vários países, particularmente os países europeus, alguns países mais desenvolvidos, têm tido uma atuação nesse sentido e, quando a gente fala em sustentabilidade, nós estamos relacionando isso ao que, a exatamente mitigação dos gases de efeito estufa”.

Contudo, em sua visão, o atraso do Brasil no tema frente a outros países, em especial os desenvolvidos, fica evidente pelo “fato de termos agora o aumento do desmatamento, o fato de termos essa crise hídrica e um despreparo para ter outras energias renováveis, como energia solar, a energia vinda do vento, faz com que nós tenhamos termoelétricas ligadas, então nós estamos queimando combustível fóssil”.

Cataldi, por sua vez, cita recuos de entendimento em outros países também: “A gente teve no governo Trump um retrocesso, que retirou os Estados Unidos de vários fóruns climáticos, tirou das, vamos dizer assim, obrigações que teriam que ter, assim como a China não entra muito nesses protocolos”. Sobre o Brasil, pontua: “O governo acaba enxergando o meio ambiente como uma trave ao progresso quando que na verdade não é isso”.

Combate às mudanças climáticas

Para o professor Tércio, visando a se prevenir para as alterações do clima e falta de chuvas, de maneira mais específica, a sociedade brasileira deve diminuir o “desmatamento, continuar na nossa busca de fazer com que a nossa matriz energética seja mais diversificada, na verdade, não tenha essa dependência hídrica, já que existe essa variabilidade maior que nós estamos enfrentando, portanto energia solar, onde o nosso país é extremamente rico, somos um país tropical de certa forma, energia vinda de ventos também seria importante, e, sem dúvida alguma, uma conscientização geral da população, quer dizer, isso vindo do governo, ações nesse sentido, para que nós possamos preservar cada vez mais o meio ambiente”. “Ou seja, uma árvore que a gente preserva na rua, um jardim na nossa casa, uma economia a mais do uso da água, isso tudo vem beneficiar o nosso meio ambiente”, completou.

Já o professor Cataldi destaca a necessidade de ter “monitoramento mais intensivo, multas para queimadas, reflorestamentos, que são processos onde você tenta devolver a vegetação nativa, mas são processos lentos, porque de uma hora para a outra você não refloresta uma área grande, então é realmente diminuir um pouco essa expansão agrícola desenfreada”. O SBT News entrou em contato com o Ministério do Meio Ambiente para questionar como a pasta vem acompanhando os desdobramentos da crise hídrica e quais as principais medidas de preservação ambiental em prática pelo governo, mas não obteve retorno até a mais recente atualização desta reportagem.


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