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Luta por justiça

Mulher sofre com sequelas após motorista embriagado na contramão causar acidente na BR-101

A mulher teve uma das pernas amputadas e hoje luta por justiça

• Atualizado

Renato Becker

Por Renato Becker

Foto 1: Sérgio Guimarães (@reporter.sergioguimaraes) | Fotos 2 e 3: Arquivo Pessoal / Cedid
Foto 1: Sérgio Guimarães (@reporter.sergioguimaraes) | Fotos 2 e 3: Arquivo Pessoal / Cedid

A vida de Elaine Cristina Duarte, de 39 anos, nunca mais foi a mesma desde que um motorista que estaria embriagado invadiu a BR-101, em São José, na Grande Florianópolis, dirigindo na contramão e causando uma grave colisão. A imprudência registrada na noite de junho de 2022 fez com que a moradora de Santo Amaro da Imperatriz tivesse sequelas que levará para a vida toda.

Elaine ficou internada entre a vida e a morte no hospital, passou por 14 cirurgias e chegou a receber 40 bolsas de sangue. A farmacêutica teve uma das pernas amputadas e perdeu a sensibilidade da outra, e hoje, utiliza cadeira de rodas. Dos três meses após ter o carro atingido, Elaine ficou 51 dias internada em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Desde então, a farmacêutica recebe acompanhamento médico constante, precisa utilizar uma bolsa de colostomia e luta por justiça, para que o homem que causou todos os prejuízos a sua vida pague pelo que fez. Um vídeo da noite do acidente mostra o momento que o motorista, que estava embriagado, conforme teste do bafômetro, dirige pela contramão da BR-101. Veja:

Vídeo: Arquivo pessoal / Cedido

O motorista foi preso em flagrante no dia da colisão, mas foi liberado após pagar uma fiança de aproximadamente R$ 4 mil. O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) representou denúncia contra ele por Lesão Corporal Culposa, quando não há intenção de causar o dano. Mas para Elaine, o motorista deveria responder pelo crime doloso, quando há intenção, por ele ter bebido antes de causar o acidente.

“Deus me deu uma segunda chance. Nenhum médico sequer deu nenhuma chance de vida”

Elaine trata sua recuperação como um verdadeiro milagre. A farmacêutica diz que os dias internada foram de muita luta. Hoje, ela passa por acompanhamento com médico vascular, devido à amputação, cirurgião-geral, ortopedista e cirurgião plástico devido às feridas.

“Os médicos, na verdade, não imaginavam que eu sobreviveria! Acreditam que eu venha a caminhar, sim, mais que isso irá demorar longos anos”

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Elaine duas semanas antes do acidente em 2022 | Foto: Redes sociais

A esperança de que volte a andar e não precise da cadeira de rodas existe, mas está longe de se concretizar, segundo Elaine.

No início de agosto deste ano a vítima teve que passar por mais uma internação. “Devido ao pós-operatório da décima quarta cirurgia, tenho uma ferida aberta que não cicatrizava há mais de um ano”, conta.

“Tomei mais bolsas de sangue por mais uma semana”, lembra Elaine sobre as diversas internações. Vivendo com apenas um salário mínimo pago pela auxílio doença, que vai até o final deste ano, a jovem conta que recebe atendimento pelo SUS, mas que tratamentos como de fisioterapia especializada, precisa custear do próprio bolso.

“Não tá sendo nada fácil, eu ganho um salário mínimo, pagamos cuidadora porque nem xixi sem ajuda eu faço”

Após o longo período internada em UTI, Elaine desenvolveu pânico. “Nem em um quarto sozinha de portas fechada eu consigo ficar”, desabafa.

Estado de saúde comoveu equipe médica

O estado grave que a farmacêutica chegou ao Hospital Regional de São José também tocou a equipe de enfermagem. A complexidade para a recuperação e a força de Elaine para se sobreviver fez com que ela se aproximasse dos enfermeiros, que contam que até hoje, quando ela volta ao hospital para acompanhamento médico, querem saber como ela está.

A enfermeira da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Rosilene Passos Machado Borges, explica que a paciente ficou muito tempo internada e que foi uma batalha pela sua recuperação.

Elaine ao lado da equipe médica | Foto: Arquivo pessoal

A Elaine foi uma das nossas pacientes que, pela da gravidade e longo período de internação, de quase dois meses, toda equipe lutou muito e manteve a esperança da sua recuperação. Por algumas vezes, ao sair do plantão, me despedia dela e ficava a preocupação de como ela estaria no dia seguinte e até mesmo se ali estaria, pois apesar de todo empenho, cuidado e assistência, tínhamos ciência do quão crítica era a situação dela, relata.

Para a enfermeira, a paciente ainda tem uma trajetória pela frente para poder recomeçar a vida. “A Elaine é uma guerreira, tem muita vontade de viver e com certeza isso faz toda diferença na sua recuperação e reabilitação. Sei que ela ainda tem algumas etapas para concluir, mas creio que ela irá recuperar a sua independência, auto estima, virando a chave para uma nova adaptação e rotina”, afirma.

Motorista denunciado responde pelo crime em liberdade

O advogado Aldo Nunes da Silva Junior, que atua como assistente de acusação no processo, trabalha com a previsão que o julgamento ocorra no início de 2024.

O motorista está sendo acusado pelo crime de trânsito de Lesão Corporal Culposa, mas o advogado entende de forma divergente a denúncia do Ministério Público representada contra o acusado. “É infelizmente um posicionamento que ainda é dominante, embora não seja pacífico (juridicamente), mas ele é dominante”, explica sobre a lesão ter sido considerada culposa, ou seja, quando o crime ocorre sem a intenção de ser cometido. Para o advogado, o caso poderia ser tratado como doloso.

Ouça a explicação do advogado Aldo Nunes sobre as mudanças jurídicas na forma como os casos deste tipo são tratados:

Para o jurista, as penas para este tipo de crime ainda são brandas. “Confesso que pena para as consequências da infração, a palavra correta de ser utilizada, que me veio à mente agora, é a palavra ridícula”, diz advogado.

O acusado de provocar a colisão que causou sequelas em Elaine, a deixando entre a vida e a morte, não deve receber uma pena que ultrapasse pouco mais de dois anos, o que permite que seja convertida em uma pena restritiva de direitos.

Conforme o advogado, o homem também pode responder no âmbito civil, o que pode resultar em indenização pelos danos que causou.

Elaine luta para que o motorista receba uma pena mais severa. Para a farmacêutica, só assim a justiça será feita. “Por esse motivo eu quero expor o meu caso. A conduta de lesão corporal, a meu ver, está errada, teve dolo. Ele bebeu, e para mim, quando se bebe há intenção”, desabafa a vítima.

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