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JULGAMENTO EM BLUMENAU

Famílias das vítimas de ataque a creche em Blumenau buscam por “encerramento de ciclo”; confira entrevista com advogados

Crime sem precedentes no Vale do Itajaí será julgado nesta quinta-feira (29)

• Atualizado

Olga Helena de Paula

Por Olga Helena de Paula

Creche Cantinho Bom Pastor e Fórum Central de Blumenau. Foto: Giovanna Pacheco SCC10 | TJSC.
Creche Cantinho Bom Pastor e Fórum Central de Blumenau. Foto: Giovanna Pacheco SCC10 | TJSC.

Pouco mais de um ano após o ataque a creche em Blumenau, que tirou a vida de quatro crianças e deixou outras cinco feridas, ocorre o julgamento do acusado pelas mortes. O júri acontece nesta quinta-feira (29), na cidade onde o crime brutal ocorreu. Conforme os advogados das famílias das vítimas, todas buscam por esclarecimentos, uma condenação justa, mas acima de tudo por um “encerramento de ciclo”.

Em entrevista ao SCC10, os três advogados que representam as vítimas falaram sobre o julgamento e expectativa dos familiares.

Famílias das vítimas de ataque a creche em Blumenau buscam por “encerramento de ciclo”

Para os familiares das vítimas, o julgamento será um momento angustiante, onde eles irão reviver o dia mais triste de suas vidas e ainda na presença do acusado de cometer o crime. Conforme o advogado Luís Felipe Obregon, essa será a primeira vez que os familiares ficarão de frente com o réu. “Não será um momento fácil, todos eles estão muito fragilizados, para eles todo dia é uma luta até a chegada do julgamento. E acredito que seja justamente por isso, por causa deste encontro, que é algo muito difícil de ser feito. Você vai encarar a pessoa que tirou a vida do seu filho”, completou a advogada Vanieli Fachini.

Luto

“Não é a ordem natural das coisas, os pais enterrarem os filhos. E quando é de uma forma tão brutal como assassinato, é ainda pior. A dor deve ser imensurável”, comentou a advogada.

Segundo ela, cada mãe e pai age de uma forma diferente para encarar o luto, alguns escolhem falar sobre as crianças e outros não. Para eles o julgamento será o momento de buscar por respostas e tentar entender os motivos que levaram ao crime.

Expectativa para o julgamento

O advogado Rodolfo Warmeling espera demonstrar aos presentes, em especial para os jurados, a gravidade do crime que ocorreu em Blumenau. “Nosso intuito é de demonstrar isso, trazer o anseio das famílias para que o réu receba uma pena exemplar para que isso nunca mais volte a acontecer”, disse.

“Não esperamos uma pena específica, mas queremos que ele pegue o máximo possível dentro dos parâmetros da lei. Mas se trabalharmos uma pena máxima e uma mínima, seria mais de uma centena de anos de prisão. Nossa missão é trazer esse aporte para que a magistrada possa decidir a sentença”, completou.

Caso será julgado pela comunidade de Blumenau

Antes da data do julgamento ser marcada, a defensoria pública, que representa o réu, havia solicitado o desaforamento do julgamento, ou seja, o deslocamento do júri da cidade de origem para outra próxima, por questão segurança. O que foi negado pela Justiça.

Conforme os advogados, assim como no Massacre em Saudades, a Justiça manteve o julgamento na cidade onde o crime ocorreu.

O caso será julgado a partir das 8h, desta quinta-feira (29), no salão do Tribunal do Júri do Fórum Central de Blumenau. Sendo que apenas os familiares das vítimas e do réu terão acesso ao julgamento, sem a presença do público externo.

A rua em frente ao fórum, será temporariamente fechada no início e no término do julgamento. Além disso, um forte esquema de segurança será implementado no local.

Creche não abrirá no dia do julgamento

Por motivo de segurança, a creche Cantinho Bom Pastor não funcionará no dia do julgamento. A decisão foi tomada pela diretoria da escola, juntamente com a polícia e pais dos alunos. “É uma questão de precaução, pois o medo sempre existe”, comentou o Obregon sobre o fechamento da unidade no dia do júri, o filho dele já estudou na unidade.

“As duas últimas semanas têm sido muito angustiantes para a creche. Nós intensificamos o contato com as professoras, então elas estão revivendo aquele momento, tendo que falar sobre o dia. E isso, infelizmente é inevitável. Somente agora elas estão encaixando as peças e entendendo o que realmente aconteceu”, revelou Vanieli.

“É função de todos nós, tanto como advogados e imprensa, quanto como comunidade, não tornar esse caso ‘normal’, digamos assim. E de novo entramos na questão da pena, que tem que ser exemplar, o mais exorbitante possível, para que possamos mostrar que situações assim não são toleradas”, destacou Warmeling. “Esse não é um caso de homicídio simples, estamos falando de um homem frio, que foi atrás de crianças e que atacou uma creche, então isso é sem precedentes, esse não é um processo qualquer”, concluiu.

Warmeling também comentou sobre a similaridade entre os casos de Saudades e Blumenau, ambos atentados em unidades de ensino de Santa Catarina. “Todo crime trás consequências para a sociedade. Confesso que acho que o massacre em Saudades foi um pouco negligenciado. Pois Santa Catarina teve esse precedente com muitas vítimas fatais, mas foi somente quando ocorreu uma situação similar em Blumenau, que o Estado tomou providências mais enérgicas, como por exemplo seguranças em escolas”.

Os três advogados representam oito famílias das vítimas, sendo que somente uma optou por outra defesa.

O que diz a defesa do réu:

O SCC10 também entrou em contato com a equipe do advogado Arthur Albuquerque da Defensoria Pública de Santa Catarina, que irá defender o réu durante o julgamento. Em nota, eles informaram que a defesa irá trabalhar para que o acusado tenha um julgamento justo.

Leia a nota na íntegra:

“O defensor público que irá atuar no julgamento do réu Luiz Henrique pelo tribunal do júri está cumprindo com o seu dever legal e irá realizar a sua defesa a fim de que ele tenha um julgamento justo, pois todas as pessoas que cometem um crime serão atendidas obrigatoriamente pela Defensoria Pública caso elas não contratem um advogado particular.”

O réu será acusado por quatro homicídios qualificados e cinco tentativas de homicídio qualificado. As qualificadoras analisadas serão motivo torpe, meio cruel, uso de recurso que dificultou a defesa das vítimas e crime contra menores de 14 anos.

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