Construção de horta comunitária na Comunidade Monte Serrat tem apoio da UFSC
O espaço foi batizado “Horta Nova Descoberta” e foi criado inicialmente com 12 canteiros e uma leira de compostagem
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A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por meio do PET Educampo, do curso de Licenciatura e Educação do Campo, em parceria com o projeto Orgânico Solidário, participou dos trabalhos de idealização e implementação, no dia 2 de setembro, de uma horta comunitária no Monte Serrat, em Florianópolis.
A ação foi motivada por um convite do Instituto Vilson Groh, que reúne organizações da sociedade civil, e contou com a mobilização da comunidade, que agora dá continuidade ao manejo da horta. O espaço foi batizado “Horta Nova Descoberta” e foi criado inicialmente com 12 canteiros e uma leira de compostagem.
O trabalho voluntário de construção dos canteiros reuniu dezenas de moradores e participantes dos projetos, para preparar, adubar e plantar, além de compartilhar saberes sobre o cultivo orgânico de alimentos. O local escolhido é um terreno cedido pela Prefeitura Municipal de Florianópolis, bem no alto do morro, na localidade chamada de Nova Descoberta.
Durante toda a manhã de sábado, cerca de 15 adultos e várias crianças contribuíram para a iniciativa. Também participaram o Centro de Pastoral e Espiritualidade Nossa Senhora do Monte Serrat, o Conselho Comunitário do Monte Serrat e integrantes da ONG Laboratório Terra Orgânica, responsáveis pela construção da composteira.
A professora do curso de Licenciatura e Educação do Campo, do Centro de Ciências da Educação (CED), Thaise Guzzatti, explica que além dos canteiros e composteira, outras mudas fornecidas por agricultores familiares, um deles, inclusive, aluno da UFSC, foram plantadas ao longo do terreno. “Nosso bolsista de Alfredo Wagner, Héliton Andrade – agricultor familiar que fornece alimentos para o projeto filantrópico Orgânico Solidário -, foi o responsável por conduzir a vivência de implantação da horta. Ele que trouxe as mudas de Alfredo Wagner (adquiridas por meio de doação financeira da Associação Acolhida na Colônia, que é parceira chave para a atuação do Orgânico Solidário em Santa Catarina)”, complementa.
Dentre as hortaliças e legumes plantados estão a alface crespa e roxa, o brócolis, o repolho, a batata aipo, a salsa, a berinjela e o pimentão. “Foram plantadas mais de 700 mudas, e conseguimos contribuir também com algumas ferramentas para apoiar o grupo”, explica a professora.
Por meio da mobilização de estudantes do PET Educampo, correspondências chegaram a instituições de Florianópolis, como a Comcap, o Sesc Cacupé, o Restaurante da Família e a Acolhida na Colônia, e foi possível viabilizar a doação de composto, mudas, baldes para coleta do resíduo orgânico, e até a ajuda de um caminhão, disponibilizado pela loja Oliveira Material de Construção.
“Formou-se uma grande rede de solidariedade com a participação ativa do PET Educampo e da UFSC para apoiar a comunidade da Nova Descoberta”, orgulha-se a professora.
Durante e após a implantação da horta, uma das moradoras da região, Solange de Lima, envolveu-se na manutenção dos canteiros. “A horta pra mim está sendo bastante beneficente. Eu tenho depressão e está me ajudando muito. Vai ajudar muito a comunidade, a criançada a mexer com a terra, as plantas. Precisamos de mais gente com força de vontade para dar continuidade à nossa horta”, conta Solange.
Quando chove, ela comemora. Significa que não precisará levar água de sua casa até a horta com baldes. Solange aprendeu a manejar a terra, capinar e cuidar. A moradora, que há 20 anos faz tratamento para depressão, já percebe benefícios à sua saúde mental, e à comunidade. “A gente recolhe da comunidade os restos de cascas de verdura, ovos, pó de café. A gente faz a compostagem pra estar usando nas nossas hortaliças, só crescendo pra gente degustar elas. Faz bem. É muito importante pra gente”.
Os ensinamentos desse cuidado vieram de voluntários como Héliton, que, segundo sua professora Thaise, dividiu seus conhecimentos como estudante universitário e produtor agroecológico, e no meio do processo, também se encantou com as possibilidades de aprendizado de um movimento como o da Horta Nova Descoberta. “Faz parte da formação dos estudantes. O Héliton veio de Alfredo Wagner para Florianópolis, num sábado de manhã, e estava encantado com o envolvimento e força de vontade da comunidade. Por outro lado, ficou impressionado com a quantidade de casas precárias e as condições de vida difíceis no Monte Serrat. Ele lembrou que muitos jovens do município dele saíram para Florianópolis e estão nos morros, morando em situação precária e sem acesso à alimentação digna”, conta Thaise.
A horta comunitária tem múltiplos impactos. “Tem a produção de alimentos saudáveis e diversificada, o aprendizado envolvido na realização de um trabalho cooperado e solidário, a reflexão sobre as questões ambientais, do solo, dos resíduos orgânicos. No dia da visita prévia que fizemos, as duas pessoas que chegaram para conversar com a gente falaram de depressão. Estão isoladas, é o final do morro, é longe. Com a problemática da pandemia e seus impactos: falta de trabalho, baixa renda, falta de comida… esse projeto – o Orgânico Solidário – tem esse papel, de levar esperança e cuidado para essas famílias”, complementa a professora Thaise.
Uma das pessoas que conversou com Thaise nessa primeira visita foi a própria Solange. Segundo a docente, Solange disse que o local onde mora é “fim de linha”, e que poucos olham pela comunidade. “Não há ação com as crianças ou qualquer tipo de intervenção e apoio. E nós percebemos o engajamento. As pessoas foram chegando naquele dia, todos dispostos a ajudar, e cada um foi achando seu lugar, o que mais se identificava na horta”.
Orgânico Solidário
A dificuldade de acesso a alimentos frescos e saudáveis como frutas, legumes e verduras, nas comunidades empobrecidas dos grande centros urbanos, com dificuldades agravadas pela pandemia, foi uma das motivadoras do projeto, que nasceu nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo em março de 2020 e chegou um mês depois a Florianópolis. Por meio do Orgânico Solidário, doações financeiras se transformam em cestas de alimentos orgânicos, adquiridos junto a uma rede de agricultores que têm sua renda estimulada pelo projeto.
Semanalmente é feita a colheita e composição das cestas que são distribuídas gratuitamente para famílias em situação de vulnerabilidade social, seguindo critérios estabelecidos em conjunto com as organizações sociais parceiras da iniciativa.
Atualmente presente nos Estados de SP, RJ, PR e SC, o Orgânico Solidário envolve mais de 100 produtores orgânicos nas diferentes regiões em que atua e proporciona acesso à alimentação orgânica para uma média de duas mil famílias por mês (só em Florianópolis são mais de 400 famílias por mês).
“Não há esse acesso aos produtos frescos nas comunidades por várias razões: além da óbvia, financeira, é dureza chegar lá. Não há feira ou onde comprar. Os mercadinhos não dispõem, geralmente, deste tipo de alimento. Eu levei bergamotas e bananas no dia do mutirão e um pacote de bala para as crianças. Resolvi começar pelas frutas, coloquei, como quem não quer nada, sobre uma caixa. A satisfação dos pequenos em chupar uma laranja… todos precisam ter esse acesso e esse direito. E a UFSC está ali do lado. Podemos fazer muito”, diz Thaise.
O curso de Educação do Campo e o PET envolveu-se desde o início no projeto. Atualmente, está em produção um livro que compartilha essa experiência, e deve ser lançado pela Editora da UFSC até o final do ano.
“Em Florianópolis São 35 toneladas de alimento orgânico, compradas a preço justo e entregues a quem mais precisa. Então está muito legal, queremos que o projeto continue e se amplie para ações como essa da Horta”, reflete Thaise. Seu envolvimento é total, e uma de suas prioridades, em meio ao trabalho remoto, e às aulas que leciona. “Não tem como não se emocionar e não se sentir mais responsável a cada caixa que a gente entrega, a 400 e tantas famílias. É um trabalho muito cheio de entrega, de significado”.
Atuar no Orgânico Solidário também motiva pessoas como Bianca Oliveira, moradora do Campeche que participa de projetos de horta e compostagem também onde mora. Bianca é uma das voluntárias e fundadora do Orgânico Solidário e também estava presente no mutirão da horta comunitária. “Tenho um carinho muito especial por essa iniciativa, é uma grande satisfação poder doar o meu tempo como voluntária para uma ação tão importante como essa, que faz diferença na vida de tanta gente”, conta.
“A criação de uma horta comunitária junto com famílias beneficiárias das cestas orgânicas era um sonho aqui em Floripa, e também nas outras cidades que o Orgânico Solidário atua. Estamos muito felizes em apoiar a comunidade e famílias que abraçaram entusiasmadas a ideia da horta, por isso mobilizamos nossa rede de parceiros e voluntários para fazer acontecer. Está sendo lindo presenciar o engajamento de todos, principalmente das mulheres e crianças querendo participar e construir juntos esse espaço de convivência, de parceria, de saúde, de cuidado, de resgate e persistência”, reconhece a voluntária.
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