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Araújo Gomes

No olho do furacão: Santa Catarina na rota internacional do tráfico de drogas

Em 2020 foram quebrados vários recordes de apreensão e mesmo pessoas que não acompanham o assunto de perto perceberam o aumento da quantidade de cocaína apreendida em Santa Catarina.

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Araújo Gomes

Por Araújo Gomes

Foto: Porto de Itajaí/Divulgação.
Foto: Porto de Itajaí/Divulgação.

Duas operações simultâneas deflagradas em outubro pela Polícia Federal e Receita Federal cumpriram mandados em Itajaí, Navegantes e Xaxim, apreendendo mais de 900 quilos de cocaína de uma vez. Aliás, em 2020 foram quebrados vários recordes de apreensão e mesmo pessoas que não acompanham o assunto de perto perceberam o aumento da quantidade de cocaína apreendida em Santa Catarina.

Tudo indica que a maior parte desta droga estava destinada aos portos da Espanha e Holanda, com escalas na África Ocidental, para alimentar um mercado Europeu que segundo o Centro Europeu de Monitorização das Drogas e da Toxicodependência (EMCDDA, na sigla em inglês), movimenta na União Europeia 9,1 bilhões de Euros por ano somente com cocaína.

Mas o que isso significa?

Em primeiro lugar, vale destacar que não significa a ampliação no consumo de cocaína em Santa Catarina na mesma proporção do aumento de apreensões, embora esse consumo seja considerável, mas que estamos servindo de corredor para o tráfico. Inclusive, há algum tempo os analistas de Inteligência apontavam que Santa Catarina era atrativa como corredor do tráfico internacional de drogas.

Pela nossa posição geográfica, junto com o Paraná temos as menores distâncias terrestres entre fronteiras internacionais e Portos Atlânticos no Brasil. Seja através da Argentina ou Paraná, cargas ilegais vindas do Paraguai precisam de pouco mais de 700 quilômetros de estradas boas e utilizáveis o ano inteiro para chegar ao Atlântico. No destino, nosso litoral reúne em um pequeno trecho portos importantes com grande capacidade de exportação: Imbituba, Itajaí, Navegantes, São Francisco do Sul e Itapoá além de Paranaguá (no Paraná) logo acima e bem próximo.

Embora à primeira vista possa parecer que esta movimentação ilegal não traga maiores consequências para os catarinenses, pois teoricamente as cargas apenas passam, ela deve ser motivo de grande preocupação. Basta observar com que violência as facções e quadrilhas criminosas disputam as rotas Amazônicas de cocaína, estimadas na casa de 4 bilhões de dólares de faturamento anual.

A experiência aponta que a logística criminosa para o transporte, guarda e remessa das drogas estimula e fortalece a instalação de outras atividades criminais. Elas aproveitam a disponibilidade de armas, bandidos e dinheiro para ampliar seus ganhos ilegais por meio de modalidades violentas praticando crimes como o roubo de carga, a explosão de caixas eletrônicos e o assalto a carros-fortes, inclusive para se capitalizar visando o próprio tráfico internacional

Além disso, o acesso aos fornecedores favorece o crescimento do mercado doméstico de consumo de drogas e as consequentes disputas violentas entre quadrilhas pelo controle de comunidades e pontos de venda. Em outra dimensão, a lavagem de dinheiro por meio de empresas de fachada e negócios fraudulentos contamina a economia saudável, inflaciona os investimentos legais e mina a credibilidade local para fazer negócios.

Isso aponta para a necessidade de fortalecer e ampliar ainda mais o combate, o que exigirá investimento em estrutura, pessoal, integração e principalmente inteligência das forças de segurança, maior controle sobre as estradas, portos e aeroportos e maior fiscalização sobre empresas e movimentação financeira.

As coisas parecem estar indo bem, mas estamos no olho de um furacão continental e dependerá de nossa capacidade de reação e resistência a forma como sairemos desta tempestade.

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