João Silva

Graduado em economia e relações internacionais pela Boston Univeristy. Mestre em relações internacionais na University of Chicago e mestre em finanças pela University of Miami.


João Victor da Silva Compartilhar
João Victor da Silva

O PT precisará escolher entre o estelionato e a crise

Promessas do partido não poderão ser cumpridas sem gerar grandes desequilíbrios macroeconômicos

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Foto: Reprodução/Redes Sociais
Foto: Reprodução/Redes Sociais

Em junho de 2021, publiquei o primeiro artigo sobre as eleições nesta coluna. Naquele momento, eu previa que, em 2022, o mercado financeiro brasileiro seria extremamente volátil devido à disputa eleitoral entre dois candidatos com propostas econômicas antagônicas. Curiosamente, não foi isso que aconteceu durante a campanha eleitoral. A bolsa brasileira demonstrou uma menor volatilidade até a primeira semana após o segundo turno das eleições, em comparação com a bolsa americana.

Todavia, minha previsão mostrou-se correta após as eleições. Por quê? Minha projeção tardou a se concretizar justamente porque acreditei nas propostas econômicas apresentadas pelos líderes do PT, enquanto grande parte dos agentes econômicos tiveram a inocência de acreditar que o apoio de economistas tucanos levaria Lula e seus asseclas a adotarem uma política econômica ortodoxa. Quando os agentes econômicos compreenderam os planos petistas de gastos públicos exorbitantes, os mercados de capitais e de câmbio sofreram uma histórica queda. A política econômica petista levará a economia brasileira ao fracasso, como na Argentina. Agora, os petistas precisam decidir se vão repetir o erro de Buenos Aires ou cometer um estelionato para impedir o desastre.    

Uma frase que resume o funcionamento da economia é: “não existe almoço grátis”. Embora isso pareça óbvio, muitos políticos fazem de tudo para gastar além da capacidade do Estado. Afinal, quem não gostaria de enriquecer sem nenhum esforço? Muitas pessoas, infelizmente, se deixam enganar por esse mito porque acreditam que o Estado tem poder de criar prosperidade do nada. Seja por desconhecimento, seja de má-fé, muitos defendem que os governantes podem criar riquezas, pois o Estado tem capacidade de emitir moeda e aumentar a taxação sobre indivíduos e empresas. Contudo, este tipo de visão trata-se de uma das maiores falácias existentes nas discussões econômicas. Qualquer pessoa que tenha dedicado algumas horas da sua vida para ler um livro de macroeconomia, sabe que o Estado só pode se financiar através do endividamento, aumento de impostos ou infligindo o imposto inflacionário. Em todos os casos, a população é quem arca com as consequências. 

Dessa forma, quando o PT defende o fim do teto de gastos — que, inclusive, foi projetado de maneira inadequada — sem apresentar uma nova regra fiscal que estabilize a trajetória da dívida pública, as expectativas dos agentes econômicos (que inclui todos nós) em relação ao futuro econômico do país tornam-se extremamente pessimistas. A economia brasileira enfrenta uma crise de baixo crescimento há quatro décadas porque os gastos públicos não foram controlados. O aumento do tamanho do Estado requer um aumento crescente da carga tributária e a utilização de uma maior percentagem da poupança dos brasileiros para se financiar. Como consequência deste tipo de política, o Brasil tem as maiores taxas de juros reais entre as grandes economias do mundo e, por consequência, um crescimento econômico pífio para uma economia emergente. Assim sendo, a proposta de uma política fiscal perdulária agravará os desequilíbrios macroeconômicos que o Brasil já enfrenta.

Ajuste fiscal

Inicialmente, a economia brasileira pode até prosperar com o aumento dos dispêndios públicos. A demanda agregada da economia crescerá e a população terá seu padrão de vida aumentado artificialmente. Sobrará picanha e cervejinha para todos. Contudo, a realidade econômica voltará a se impor, mais cedo ou mais tarde. O crescente endividamento público exercerá pressão sobre as taxas de juros. O risco-país aumentará, o que fará com que os investidores retiram os seus recursos do país, pressionando o câmbio e a inflação. Com a alta taxa de câmbio, a inflação e os juros em alta, o governo será obrigado a tomar uma forte medida de ajuste fiscal. Todavia, tendo em vista que a diminuição de despesas é impopular, os petistas terão que aumentar tributos, o que diminuirá a atividade econômica, e estabelecer controle de capitais para minimizar a depreciação da moeda. No fim, a conta explode e cai no colo do povo.

Esta análise distópica não é uma mera projeção alarmista da minha parte. Estou apenas aplicando conceitos econômicos bem estabelecidos e avaliando as consequências das políticas econômicas defendidas pelo PT em outros países. O caso argentino, sem dúvida, é bastante similar ao nosso.  Alberto Fernández, o mandatário argentino, assim como Lula, prometeu em sua campanha presidencial que o churrasco voltaria a mesa dos argentinos. Porém, o consumo de carne na Argentina atingiu o menor nível em 100 anos! Não é apenas a Argentina que sofre com as consequências do negacionismo econômico. A Turquia é mais um exemplo de país que sofre com os efeitos das políticas populistas. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, já levou a inflação em seu país a quase 90% e estagnou o crescimento econômico ao defender — acreditem se quiserem — a redução dos juros para conter a inflação e a promoção de uma política irrealista de expansão de crédito e aumento do gasto público.

Não é necessário apenas examinar o que aconteceu fora do país para sabermos que os planos econômicos do Partido dos Trabalhadores serão desastrosos, basta analisarmos a história do Brasil. Os governos de Dilma Rousseff e José Sarney acabaram em tragédias econômicas, pois apostaram no gasto público desenfreado, na expansão do crédito, no controle artificial dos preços e no uso político do Banco Central. Caso Lula não queira acabar como Dilma e Sarney, ele deverá reverter suas propostas econômicas e promover um “benéfico” estelionato eleitoral através da adoção de políticas macroeconômicas responsáveis. Caso ele insista no caminho do populismo fiscal, — parafraseando Roberto Campos — o Brasil terá duas saídas: Guarulhos e o Galeão. 

As opiniões do colunista não refletem, necessariamente, a opinião do Portal SCC10.

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