João Silva

Graduado em economia e relações internacionais pela Boston Univeristy. Mestre em relações internacionais na University of Chicago e mestre em finanças pela University of Miami.


João Victor da Silva Compartilhar
João Victor da Silva

Apertem os cintos, 2022 vem aí

Devemos experimentar uma das eleições mais fervorosas da história, que se traduzirá em volatilidade econômica e financeira

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Imagem Ilustrativa. Foto: Freepik | Banco de Imagens.
Imagem Ilustrativa. Foto: Freepik | Banco de Imagens.

Nos últimos anos, o Brasil tem vivido um dos períodos políticos mais conturbados de sua história. Tivemos impeachment de um presidente, as maiores manifestações políticas da história do país, tentativa de assassinato do líder das pesquisas à presidência, prisão de ex-presidentes, constantes conflitos entre Executivo, Legislativo e Judiciário, entre tantos outros eventos que levaram ao ambiente de instabilidade política que estamos vivendo a praticamente uma década. Infelizmente, esta situação de conflitos políticos constantes acaba afetando o desenvolvimento econômico do país. As reformas econômicas atrasam, as prioridades do governo e parlamento mudam e o confronto entre visões políticas tão antagônicas acabam afugentando os investidores do país. Em suma, quando estamos em um mar de incertezas e conflitos, a desconfiança passa a imperar.

Certamente, durante os anos eleitorais se tornam mais evidentes os efeitos da política na economia. Por um lado, muitos governantes aumentam os gastos públicos para melhorar seus índices de popularidade. Por outro lado, a perspectiva de melhora ou piora da política econômica do novo grupo político que deve assumir o governo passa a afetar diversos indicadores econômicos, mais notadamente as taxas de câmbio, os índices da bolsa de valores e os fluxos de investimento. Corroborando com esta tese, no livro Banking on Democracy, o economista Javier Santiso caracteriza mercados emergentes, como o Brasil, “países onde incertezas políticas se traduzem em grande volatilidade financeira”.

Em 2022 a situação não deve ser diferente. Devemos experimentar uma das eleições mais fervorosas da história, que se traduzirá em volatilidade econômica e financeira. Afinal de contas, tanto Bolsonaro quanto Lula possuem chances de serem eleitos. Entretanto, seus projetos de país são completamente distintos. Assim sendo, durante a campanha, quando cada candidato experimentar seus altos e baixos, veremos uma resposta econômica e financeira de indivíduos e empresas através dos indicadores do mercado. Independentemente de suas opiniões sobre os dois candidatos a realidade é que Bolsonaro será o “candidato do mercado” e Lula será o “candidato antimercado”.

Apesar de não gostar do termo “mercado”, por se tratar de uma expressão genérica que contradiz a própria concepção de mercado do liberalismo econômico que compreende o “mercado” como sendo o equilíbrio entre oferta e demanda, que é definido pelas escolhas econômicas de cada indivíduo, trata-se de uma expressão de fácil entendimento por parte do leitor leigo. Quando me refiro a “candidato do mercado” quero dizer que uma melhora na prospecção de vitória deste candidato leva a melhoria de alguns indicadores econômicos, caso haja uma redução nas perspectivas de prospecção da vitória do “candidato do mercado”, a tendência é de deterioração de alguns indicadores econômicos. O contrário ocorre com o “candidato antimercado”.

Transcorrida a digressão sobre o significado de “candidato do mercado” e “candidato antimercado”, é importante enfatizar que apesar da lentidão da implementação de algumas reformas econômicas, o Presidente Bolsonaro será o “candidato do mercado” porque conseguiu aprovar reformas importantes que demonstraram seu compromisso com uma agenda econômica liberal. A lei de autonomia do Banco Central, a reforma da previdência, a lei de liberdade econômica, a gestão eficiente de estatais, a venda de aproximadamente R$ 200 bilhões de ativos públicos, entre outras medidas foram marcos do compromisso de seu governo com princípios econômicos importantes para preservar a estabilidade econômica do país como a responsabilidade fiscal, liberalização da economia e a despolitização da política monetária.

Na eleição de 2018, a preferência por Bolsonaro pelos agentes econômicos foi nítida. O real se valorizou cerca de 10% entre o início da campanha e a eleição de Bolsonaro. A cotação da moeda americana com o início da campanha na TV era de R$ 4,05, quando Bolsonaro ganhou um dólar valia R$ 3,64. O índice Ibovespa também cresceu aproximadamente 10% no período.

Já Lula será uma incógnita, como sempre. Por um lado, Lula pode adotar uma estratégia parecida com a de 2002, aparentando ser um candidato “moderado” para conquistar uma maior parte do eleitorado e reduzir a desconfiança dos agentes econômicas acerca de sua condução da política econômica.

Contudo, diferentemente de 2002, Lula e seu partido terão seu histórico de corrupção e crise econômica jogando contra eles. Lula e o PT não serão mais o “novo” e o “ético”. Inclusive, Lula já deu declarações propondo a adoção de políticas populistas, que podem afetar a economia do país no longo prazo, como o fim da lei do “teto de gastos”, flexibilização da lei de responsabilidade fiscal e interferência na política do Banco Central.

Em 2002, a possibilidade de eleição de Lula levou a um grande desequilíbrio da economia brasileira. O dólar atingiu R$ 3,95, que hoje seria equivalente a R$ 7,82, quando corrigimos a cotação da moeda pela diferença de inflação dos EUA e Brasil. Na época, a bolsa chegou a cair 20% e a taxa Selic subiu 3% durante a campanha presidencial, de 18% para 21%, com o objetivo de conter a fuga de capitais que o país estava experimentando naquele momento.

O fato é que em um ambiente de instabilidade política é importante que os investidores e a população em geral elaborem estratégias para melhor lidar com suas empresas e finanças pessoais. Antecipar a compra de algum bem em um período de maior previsibilidade, planejar uma viagem, comprar moeda estrangeira, realizar determinado tipo de investimento financeiro devem ser avaliados para que você não acabe sofrendo com a volatilidade econômica e financeira que devemos experimentar em 2022. Infelizmente, vivemos em um país onde a única certeza é a incerteza. Assim sendo, para termos alguma previsibilidade para nossas vidas financeiras, independentemente das condições políticas, é importante ter reservas financeiras, aproveitar oportunidades de investimento e torcer para que o país um dia encontre o caminho da segurança e estabilidade.


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