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Araújo Gomes

É isso ou a inundação – o paradoxo da segurança pública

A dificuldade em associar as políticas públicas sociais e as estratégias de segurança pública limitam o resultado das ações dos policiais.

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Araújo Gomes

Por Araújo Gomes

Foto PMSC, Divulgação
Foto PMSC, Divulgação

As imagens dinâmicas de uma operação policial com suas viaturas, helicópteros, tropas, criminosos capturados e armas apreendidas no jornal da noite dividem opiniões. Muitas pessoas apoiam entusiasmadas, pois querem mesmo é ver a polícia atuando de forma dura no combate à criminalidade. Outras criticam, pois entendem que somente investindo em educação, saúde e infraestrutura o crime será controlado.

Esta é uma típica discussão em que as posições estão ao mesmo tempo corretas e incorretas, e por isso precisam ser ouvidas e conectadas. Quando apontamos soluções simples para problemas complexos, elas normalmente estão erradas ou são insuficientes.

Todas as semanas as forças policiais em Santa Catarina, por exemplo, divulgam ações e operações com a prisão de muitos criminosos, captura de uma quantidade significativa de armas e apreensão de toneladas de drogas ilegais. Da mesma forma, ações vigorosas de patrulhamento levam o enfretamento da criminalidade violenta às áreas onde grupos criminosos armados tentam dominar as ruas, becos, vielas e praças de comunidades empobrecidas, constrangendo e oprimindo populações mais carentes.

Estas ações são orientadas pela inteligência e se articulam com os esforços integrados do Ministério Público e Judiciário para identificar, prender e processar lideranças do crime, com a apreensão e bloqueio de bens e dinheiro das quadrilhas. Em nosso Estado, essas estratégias estão se refletindo na redução contínua dos principais crimes desde os primeiros meses de 2018: homicídios, latrocínios, roubos e furtos.

Mesmo assim, os policiais reconhecem que a dificuldade em associar as políticas públicas sociais e as estratégias de segurança pública limitam o resultado das ações da polícia. Isso reproduz um ciclo perverso e sem fim, onde as dinâmicas que alimentam crimes e criminosos não são totalmente afetadas. Um exemplo muito interessante é a relação entre a repressão a venda de drogas ilegais nas bocas e biqueiras de comunidades empobrecidas e a criação de oportunidades de trabalho e renda para adolescentes que complementam a renda familiar.

Vulnerabilidade social

Por um lado, a deficiência dos programas e projetos em levar as políticas públicas até os jovens destas comunidades produz um cenário que determina o destino da maioria como mão de obra barata e descartável para os patrões locais do tráfico: pequenos criminosos que representam a base mais cruel e agressiva das organizações. A fraca supervisão adulta na primeira infância, a exposição a influências comportamentais negativas na juventude e a valorização da resolução violenta dos conflitos, tanto no lar como fora dele, são comuns.

A vulnerabilidade social e econômica das famílias, que muitas vezes dependem dos rendimentos obtidos nos pequenos ganhos das tarefas mais baixas e perigosas da organização criminosa, fazem com que os trocados obtidos por olheiros, fogueteiros, vapores e entregadores de marmita do tráfico componham a renda familiar e façam falta ao sustento.

Não justifica, mas acontece muito.

O resultado é que, neste pequeno exemplo, as operações policiais competem com pressões sociais e econômicas para a volta do crime e seus rendimentos. O crime volta, assim que a vigilância é aliviada.

Ai está a complexidade do problema que não admite soluções simples.

Trabalho contínuo

Por um lado, reduzir as ações policiais permite o crescimento imediato da criminalidade e multiplica os crimes, criminosos e vítimas, mas sem as políticas e programas estruturante não conseguem resolver o problema definitivamente. Por outro lado, investir em políticas de médio e longo prazo é fundamental, mas o controle imediato da violência presente é urgente e salva vidas. No meio, como uma ponte em construção, uma filosofia de policiamento comunitária, de maior proximidade e menos dependente das ações repressivas.

Enquanto isso, as forças policiais seguem trabalhando de forma cada vez mais efetivo no alcance de suas missões, sem desistir nem desanimar.

Sabem que é como enxugar o piso embaixo de uma torneira aberta, mas até conseguir fechar o registro é isso ou a inundação.

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